Voo cego
Confira a coluna desta sexta-feira (13)
A polêmica envolvendo o fretamento do avião do New England Patriots, da NFL, para levar os jogadores do Botafogo a Doha, no Catar, onde o time disputava o Intercontinental da FIFA, logo após a conquista do título brasileiro, mostra o quanto ainda estamos atrasados em termos estruturais.
Embarcar em aeronave desconhecidamente desconfortável a já desgastada delegação que representaria o clube campeão do continente sul-americano foi um soco na barriga de quem passou boa parte do ano elogiando o profissionalismo dos executivos da SAF alvinegra.
A poltrona não reclinava no ângulo imprescindível para recuperação física dos jogadores, e isso só foi visto no momento do embarque para a viagem de 16 horas que ainda teve escala no Marrocos? É isso mesmo? Como assim? O responsável por esta logística não inspecionou a aeronave antes de acertar o frete.
Responsabilizar a agência que, segundo consta, enviou ao Brasil o avião fora dos padrões contratados não apaga a falha estratégica. E que pode, sim, ter impactado o rendimento dos jogadores do Botafogo na derrota de 3 a 0 para o Pachuca, do México, representante da Concacaf.
Como se sabe, o time alvinegro fez na última quarta-feira (11) o sétimo confronto em 20 dias, todos de caráter decisivo na reta final do Brasileiro e da Copa Libertadores. Em média, foi uma partida a cada 68 horas. E com um vai-e-vem dos mais frenéticos, com viagens interestadual e intercontinental. A Fifa e a Conmebol deveriam ter vergonha de serem cúmplices de uma falha dessas. E isso depois de terem o descaramento de aprovar o calendário do torneio sabendo da possibilidade de o representante da entidade ser um clube brasileiro envolvido com a disputa do título da Série A.
O deslocamento das delegações para um campeonato oficial da entidade que controla o futebol ao redor do mundo deveria estar a cargo de quem organiza e promove o evento.
E não quero aqui diminuir a responsabilidade da SAF do Botafogo controlada pelo endinheirado John Textor.
É evidente que a intenção dele era dar o melhor ao time ao alugar a aeronave de Robert Kraft, dono da franquia New England Patriots, da NFL. Mas o operacionalização da ideia foi mal feita e impactou no rendimento do time. Não dá para ignorar que o planejamento comprometeu o desempenho.
Num cenário competitivo e com as desvantagens já conhecidas decorrentes do calendário, o Botafogo repetiu erros já vistos em outras edições deste torneio que ilude os clubes brasileiros. O futebol não permite mais que os jogadores entrem em campo só com a arte de jogar o jogo. É preciso respeito à ciência.