Pacientes vão parar em hospital por causa de pombo
Meningite causada por fungo encontrado nas fezes do animal fez com que 11 pessoas fossem hospitalizadas no ES em 2023

O Espírito Santo já registrou, este ano, cinco casos de meningite provocada por fungo de aves, entre elas o pombo. Em todo o ano passado, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), a doença, chamada meningite criptocócica, levou 11 pacientes a hospitais.
Devido a seus sintomas, que podem incluir dor de cabeça intensa, febre, rigidez no pescoço, náuseas, vômitos, sensibilidade à luz (fotofobia) e confusão mental, especialistas afirmam que a meningite criptocócica pode ser confundida com outros tipos da doença.
A infectologista Ana Carolina D'Ettorres explica que a meningite criptocócica é uma inflamação da membrana que envolve o sistema nervoso (meninge), causada por um fungo chamado criptococo.
“A transmissão desse fungo não ocorre entre humanos ou por animais, mas por sua inalação pela via respiratória. O fungo está presente na natureza, principalmente em solo, vegetação (forte associação com eucalipto) e fezes de aves, em especial o pombo. Por isso, essa associação com o animal”, frisou.
Ana Carolina alerta que a maior diferença da meningite criptocócica para as demais está no tempo de evolução dos sintomas. “No caso da criptocócica, ela pode ser mais arrastada, tem o tratamento mais difícil e com maior chance de falha”, explicou.
A médica de família e comunidade, doutoranda em doenças infecciosas pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Taynah Repsold, explica que, embora qualquer um possa ser afetado, a doença é mais prevalente em indivíduos com sistemas imunológicos comprometidos, como pessoas em tratamento de câncer ou aquelas que fazem uso prolongado de medicamentos imunossupressores e pacientes com HIV/Aids.
“Em casos mais avançados, pode ocorrer perda de visão, convulsões e coma”, alerta.
A prevenção eficaz da meningite criptocócica, de acordo com Taynah, envolve não apenas o tratamento e o comportamento humano, mas também a gestão ambiental e a redução da exposição a fontes potenciais de infecção.
“Isso inclui a implementação de medidas para controlar populações de pombos em áreas urbanas e a educação pública sobre os riscos associados à exposição a esporos fúngicos”, destacou.
Por que pombo transmite doenças?
Médica de família e comunidade, Taynah Repsold explica que o pombo se adapta bem a ambientes urbanos, em locais como edifícios e estátuas, por exemplo, onde suas fezes se acumulam e servem como meio de cultivo para microrganismos como o Cryptococcus neoformans.
“Essas fezes podem secar e se transformar em poeira, sendo inalada por humanos. Pombos hospedam diversos patógenos, incluindo vírus, bactérias, fungos e parasitas, responsáveis por doenças como criptococose, histoplasmose, salmonelose e psitacose. A falta de controle populacional e a alimentação dada frequentemente pelos humanos aumentam a interação e o risco de transmissão de doenças”.
Saiba mais
Meningite criptocócica
É uma infecção fúngica que afeta as meninges (membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal). Esta condição é causada principalmente pelo fungo Cryptococcus neoformans e, em alguns casos, pelo Cryptococcus gattii.
Transmissão
A transmissão do Cryptococcus ocorre por meio da inalação de esporos fúngicos presentes no ambiente. Esses esporos são frequentemente encontrados em solo contaminado com fezes de pássaros, especialmente pombos, e em matéria orgânica em decomposição.
Uma vez inalados, os esporos podem chegar aos pulmões e, a partir daí, disseminar-se para outras partes do corpo, incluindo o sistema nervoso central, onde podem causar meningite.
A meningite criptocócica não é transmitida de pessoa para pessoa. O risco de contrair a doença está relacionado à exposição ambiental aos esporos do fungo e à condição do sistema imunológico do indivíduo.
Sintomas
Podem incluir dor de cabeça intensa, febre, rigidez no pescoço, náuseas, vômitos, sensibilidade à luz (fotofobia) e confusão mental. Em casos mais avançados, pode ocorrer perda de visão, convulsões e até mesmo coma.
Esses sintomas podem ser semelhantes aos de outras formas de meningite, tanto bacterianas quanto virais, o que pode dificultar o diagnóstico inicial.
Tratamento
A fase inicial do tratamento de meningite criptocócica é realizada em ambiente hospitalar com antifúngicos. A profilaxia secundária, ou fase de manutenção, deve ser mantida por pelo menos um ano.
O tratamento é prolongado e deve ser monitorado de perto, devido aos potenciais efeitos colaterais dos medicamentos.
Fonte: Taynah Repsold, médica.
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