Maioria dos jovens não sabe que profissão seguir, diz pesquisa
Pesquisa feita a pedido de A Tribuna mostra ainda que maioria acredita que vai mudar de carreira ao longo da vida
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A lista de cursos de graduação ofertados pelas instituições de ensino superior aumentou ao longo das últimas décadas para atender às transformações da sociedade. Em meio a tantas opções, a escolha profissional se tornou mais complexa. Tanto que 52,8% dos jovens e adultos do Estado não sabem qual profissão irão investir para construir uma carreira.
Os dados são de uma pesquisa de opinião, realizada pela Empresa Júnior da Universidade Vila Velha (EJUVV), a pedido do jornal A Tribuna, entre os dias 22 e 25 de julho.
Para a doutora em Administração e gestora de carreira Andrea Deis, o excesso de informação pode contribuir para a indecisão dos jovens. A especialista aponta que a escolha profissional deve ser construída com autoconhecimento e reflexão sobre as afinidades e as aspirações pessoais.
“Hoje, o excesso de informação dificulta a decisão dos jovens. Há pessoas que não conseguem se aprofundar sobre os próprios valores. Os jovens atuais são ansiosos e querem tomar decisões, mas nem sempre há espaço para o planejamento, o conhecimento e a investigação”.
Andrea alerta que a pressão social, as expectativas familiares, as crenças pessoais e a valorização excessiva do status social podem levar à frustração e à insegurança quanto à escolha profissional.
O professor da UVV e coordenador da pesquisa da EJUVV, Fabrício Azevedo, aponta que os jovens precisam entender que há uma transformação no percurso da vida em relação à carreira.
“Questões de escolha são naturais e fazem parte do processo. Entendo que há uma mudança significativa no percurso da vida em relação à profissão. Mudamos constantemente nossas opiniões e estratégias, e, por isso, vemos muitos profissionais também mudando de área para alcançar resultados melhores em qualidade de vida”.
A pressão para escolher a carreira “certa” pode gerar ansiedade e indecisão, especialmente quando as expectativas externas entram em conflito com os interesses e paixões pessoais, analisa a psicóloga e diretora de Liderança, Cultura e Diversidade do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo (Ibef-ES), Gisélia Freitas.
“Vários fatores devem ser considerados. Perguntas como ‘O que me entusiasma?’, ‘Quais são meus pontos fortes?’ e ‘Quais são meus valores fundamentais?’ podem ajudar a esclarecer o caminho. Abraçar as incertezas e as falhas como parte natural do percurso pode transformar a indecisão em uma oportunidade de crescimento”.
Novos rumos aos 20!
Aos 20 anos, o universitário João Miguel Zouain, hoje com 24, decidiu abandonar o curso de Engenharia Civil. Ele voltou ao pré-vestibular e seguiu um novo sonho: a Nutrição.
Hoje, já no último período do curso, o jovem se sente mais feliz e realizado.
“Comecei a olhar para mim e ver o que mais combinava comigo. Sinto que, na Nutrição, não serei apenas um profissional qualquer. Posso ser um diferencial na vida de muitas pessoas”.
Salário é o que mais influencia escolha de carreira
Afinidade com a carreira, aptidão para o trabalho e autoconhecimento, sem dúvida, orientam a decisão por uma carreira. Mas, de acordo com a pesquisa de opinião, outro fator pode ter maior influência: 39,2% dos entrevistados apontaram que as perspectivas mercadológicas são decisivas para a escolha de uma profissão.
O professor da UVV e coordenador da pesquisa de opinião da EJUVV, Fabrício Azevedo, analisa que o alto custo de vida na Grande Vitória influencia a escolha profissional motivada pela perspectiva de um bom retorno salarial.
“Isso é um reflexo do custo de vida, que é muito elevado. Três ou quatro salários mínimos é o básico para que a pessoa consiga ter a manutenção do padrão de vida. A perspectiva é sempre acima dessa faixa. Por isso, o pensamento da escolha profissional está ligado ao retorno salarial, às necessidades do mercado de trabalho”.
A pesquisa de opinião da EJUVV atestou ainda que 24,7% dos entrevistados elencam a afinidade pela área de trabalho como fator mais influente.
Em seguida, 17,6% apontam a opinião da família. Por fim, 18,5% consideram o prestígio social da profissão. Os resultados demonstram, então, que questões mercadológicas são as mais influentes.
CONFIRA A PESQUISA COMPLETA
1 - Você sabe qual profissão deseja seguir como carreira para a vida?
47,2% Sim, fiz a decisão na adolescência e estou certo(a) de que é o caminho correto.
52,8% Não, ainda não sei em qual profissão irei investir para uma carreira.
2 - Você acredita que a escolha de uma carreira por afinidade pode evitar decepções profissionais futuras?
25,6% Sim, escolher uma carreira por afinidade é uma forma de ter uma vida profissional mais feliz.
74,4% Não, as decepções profissionais estão relacionadas a outras questões, além da afinidade pela carreira.
3 - O que mais influencia na sua decisão por uma carreira?
39,2% As perspectivas mercadológicas das profissões.
24,7% A afinidade pela área.
18,5% O prestígio social da profissão.
17,6% A opinião da família.
4 - Você acredita que terá mais de uma profissão até se aposentar?
59,9% Sim, acredito que, ao longo da vida, seguirei várias profissões.
40,1% Não, acredito que irei construir uma carreira em uma área específica.
5 - Qual é a sua expectativa salarial após cinco anos de formado(a)?
0% Até dois salários mínimos.
0% Entre dois e três salários mínimos.
48,1% Entre três e quatro salários mínimos.
51,9% Acima de cinco salários mínimos.
Fonte: Empresa Júnior da Universidade Vila Velha (EJUVV).
Ajuda de especialistas para acertar na escolha
Com tantas opções de novas carreiras e cursos de graduação, a decisão sobre os caminhos profissionais envolve vários fatores nos dias atuais. Especialistas revelam os segredos para evitar erros durante a decisão.
O processo de escolha profissional é um momento crítico para os jovens de todas as gerações, porém, a percepção da aceleração do ritmo de vida, provocada pelo desenvolvimento tecnológico, influencia de forma específica a escolha entre as novas gerações, defende a especialista em Desenvolvimento Humano e Organizacional Bia Nóbrega.
“Eu acredito que os jovens devem decidir pela primeira carreira, e não pela primeira profissão. A multiplicidade e a longevidade fazem parte do cenário atual, e se desejarmos, podemos seguir mais de uma carreira ao longo da vida. Fazer a escolha de carreira é refletir sobre o caminho que se deseja trilhar”.
A especialista, com mais de 30 anos de experiência, indica que a escolha da primeira carreira considere, principalmente, o curso de graduação.
A realidade atual apresenta inúmeras possibilidades profissionais, mas a dificuldade está em transformar tais possibilidades em oportunidades, aponta o professor, psicólogo e orientador vocacional do Curso Positivo, Ivo Carraro.
O especialista analisa que as novas gerações perderam a referência vertical dos pais para a decisão profissional. Para ele, um dos segredos de uma boa escolha é optar por uma área em que haja identificação.
“Gostar do que faz é o lema para escolher uma profissão, assim como se gosta de retornar a uma loja onde se foi bem atendido, por exemplo. A profissão é uma atividade prática onde se aplica os talentos desenvolvidos ao longo da vida. Identifique quais inteligências foram desenvolvidas nas suas experiências cotidianas”.
A psicóloga e diretora de Liderança, Cultura e Diversidade do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo (Ibef-ES), Gisélia Freitas, defende o papel da família na orientação dos jovens. A especialista aconselha que haja acolhimento e compreensão de que errar também faz parte do processo.
“É fundamental que os jovens se sintam apoiados e compreendidos. O diálogo aberto sobre suas inseguranças e aspirações pode ser um grande incentivo. A família também deve desmistificar a falha e normalizar a ideia de que errar faz parte do processo de aprendizado”.
Como fazer a escolha profissional?
Autoconhecimento
Compreender os próprios desejos, expectativas, gostos e afinidades é o primeiro passo para fazer uma escolha profissional. Busque refletir, ao longo do processo de escolha, sobre o que provoca mais identificação pessoal. É importante considerar, ainda, o estilo de vida que se deseja ter. Por exemplo, alguém que estuda uma licenciatura pode ter uma rotina bem definida ao longo do ano, diferentemente de alguém que deseja ser jornalista ou analista de relações internacionais.
Informações precisas
O excesso de informação nas plataformas de mídias sociais pode mais atrapalhar do que ajudar. Assistir a um vídeo de um profissional contando sobre a própria rotina em uma carreira escolhida aproxima o estudante de entender a profissão, mas o excesso pode provocar insegurança e dificultar a decisão.
Identifique inteligências
Identifique quais inteligências foram desenvolvidas nas suas experiências cotidianas. Algumas pessoas, por exemplo, construíram maior aptidão para a matemática, enquanto outras construíram um senso crítico mais aguçado ou uma sensibilidade artística.
Converse com profissionais
Quando houver a oportunidade, converse com profissionais das áreas em vista. Entenda a rotina profissional, os desafios, as perspectivas mercadológicas e as transformações da carreira nos próximos anos, por exemplo.
Diálogo familiar
Converse com a família, e, se houver necessidade, busque orientação vocacional.
Fonte: Especialistas consultados.
Empresas se adaptam a mudanças
Ambientes dinâmicos, flexibilidade de horários, modelo híbrido de trabalho e desenvolvimento rápido são algumas das principais demandas da geração Z, apontam especialistas. Diante do cenário, as médias e pequenas empresas buscam se adaptar aos desejos desses jovens.
A Geração Z compreende as pessoas nascidas entre 1995 e 2010. A sócia e diretora comercial da QualyCestas, Bruna Bertoli, explica o que motiva esses anseios entre os mais jovens.
Para a especialista, a Geração Z nasceu em um contexto privilegiado, com acesso a facilidades, especialmente no que diz respeito à informação.
Este cenário é resultado do avanço tecnológico, que tornou o acesso à informação ao alcance das mãos. Essa conjuntura influencia nas demandas da Geração Z e impõe a necessidade de adaptação cultural das empresas, diz ela.
“Algumas grandes corporações têm feito esforços para se adaptar às demandas dessa nova geração, como a implementação de programas de desenvolvimento de carreira, iniciativas de bem-estar e políticas de diversidade e inclusão. Para médias e pequenas corporações, a adaptação a esta geração pode ser mais lenta”.
Bruna Bertoli justifica que a dificuldade de adaptação das médias e pequenas empresas se deve principalmente à falta de conhecimento dos anseios das novas gerações devido a estrutura mais enxuta e rígida, por exemplo.
Adaptar-se às expectativas da Geração Z não apenas ajuda a atrair e reter esses jovens profissionais, mas também pode trazer benefícios para toda a empresa. Quem não buscar atender a tais necessidades, pode perder talentos, alerta.
“As empresas que não se adaptarem às demandas da Geração Z arriscam perder novos talentos para concorrentes mais flexíveis, que se arriscam em inovações e que estão mais alinhados com os valores dessa geração”.
ANÁLISE | Cecília Perini, economista e líder da XP Investimentos no Espírito Santo
“A vida profissional é repleta de decisões importantes que podem influenciar diretamente o nosso futuro. Quem nunca tomou uma decisão errada, precipitada ou não aceitou uma oportunidade que se arrependeu? É comum nos depararmos com situações assim ao longo da nossa jornada.
Muitas vezes, escolhemos uma profissão por pressão externa, expectativas da família ou simplesmente por falta de autoconhecimento. Porém, ao ingressar no mercado de trabalho, percebemos que aquela não era a melhor escolha para nós.
Nesses momentos, é fundamental ter coragem para mudar de rota, buscar aquilo que realmente nos faz feliz e realizado profissionalmente. Afinal, não podemos ser excelentes em algo que não nos motiva e apaixona.
O fundamental é aprender com essas experiências, buscar autoconhecimento, se reinventar quando necessário e seguir em frente com determinação e foco no crescimento profissional e pessoal.
Errar faz parte do processo de aprendizado e amadurecimento profissional. O importante é reconhecer os equívocos, buscar feedbacks construtivos e aprender com as experiências vividas.
São os desafios e obstáculos superados que nos tornam mais fortes e preparados para as oportunidades que surgirão no futuro”.
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