Médico do ES salva a vida de passageiro em voo: “Foram 5h30 cuidando dele"
José Anthero Bragatto Filho voltava de uma viagem de férias a Nova Iorque, quando uma mulher gritou para socorrerem seu marido
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No sábado (27) foi o dia do baile de formatura do médico José Anthero Bragatto Filho, de 26 anos. Mas antes mesmo de receber o diploma de forma oficial e de ter uma vasta experiência na carreira, ele escreve uma história emocionante e de heroismo.
Nascido em São Paulo e morando em Vitória desde os 3 anos, o jovem, que concluiu o curso de Medicina há cerca de dois meses em uma faculdade na capital, salvou um passageiro em um voo internacional, no último domingo (21).
Ele voltava de uma viagem de 20 dias de férias em Nova Iorque (EUA) e seguia para Guarulhos (São Paulo). De lá, faria uma conexão para chegar ao seu destino: aeroporto de Vitória.
À reportagem, ele contou que acordou com uma mulher desesperada, gritando por socorro. “Ela dizia: 'meu marido está passando mal! Algum médico, algum médico presente?'”, recordou o jovem.
Imediatamente, José Anthero se prontificou a ajudar e não imaginou que ficaria cinco horas e meia cumprindo a missão que escolheu: salvar vidas.
“Ele estava totalmente apagado. Eu fui verificar os sinais vitais, no pulso carotídeo, na região do pescoço, e outro periférico radial, que é próximo ao polegar. Nenhum dos dois estava presente. Ele estava muito gelado e não me respondia”.
Uma peculiaridade desse atendimento é que, apesar da família do passageiro ser brasileira, ele teve que se comunicar em inglês, porque toda a equipe dos comissários de bordo era americana.
De início, ele solicitou o Dea (Desfibrilador Portátil) que tem no avião, mas não foi necessário usá-lo, pois outras técnicas foram utilizadas, que evitaram uma parada cardiorrespiratória, o que poderia ser fatal, como ele explica.
“Tinha um fisioterapeuta emergencista que me ajudou bastante no voo e conseguimos estabilizar esse paciente. A primeira pressão que eu consegui aferir estava muito baixa, acho que 6 por 4, se eu não me engano. Depois conseguimos dar uma estabilizada nele até ficar 11 por 7 e, nisso, ele já recuperou bem a consciência”.
Já estabilizado, o desafio era mantê-lo acordado. “Fiquei aferindo a pressão a cada 10 minutos, para mantê-lo realmente em observação, dando um pouco de água para ele ir recuperando aos poucos. Fui fazendo as medidas porque não tinha muitos recursos, mas peguei sal e coloquei na boca dele. Ele foi se recuperando, fiz um soro caseiro”.
Questionado se o passageiro poderia morrer caso ele ou outro médico não estivesse no voo, o rapaz respondeu: “Muito provavelmente, pois entraria em uma PCR (parada cardiorrespiratória) sem as intervenções que fizemos”.
ENTREVISTA | José Anthero Bragatto Filho: "Foram cinco horas e meia cuidando dele”
A Tribuna - Como foi o retorno dessa viagem?
José Anthero Bragatto Filho - Inicialmente, queria falar sobre uma coincidência. O meu voo originalmente seria para eu embarcar na sexta-feira (dia 19), mas por conta do apagão cibernético, eu não consegui. Fiquei duas horas no Aeroporto LaGuardia, em Nova Iorque, mas o voo atrasou e eu perderia todas as conexões. Por isso, estava no voo com o passageiro que passou mal, no último domingo. Eu era o único médico naquele voo.
O estado do paciente era muito grave?
Era. Foram cinco horas e meia cuidando dele. Era uma corrida contra o tempo. Todas as informações eram muito preciosas.
A esposa contou que ele sofreu um infarto há cerca de 10 anos. Ela me falou que ele tomava atenolol (indicado para o controle da hipertensão arterial, controle de arritmias cardíacas, infarto do miocárdio e tratamento precoce e tardio após infarto do miocárdio).
Como ele estava sem pulso, não me respondia e estava inconsciente, provavelmente iria entrar em uma parada cardiorrespiratória, o que é muito difícil reverter, principalmente em um voo que não tem muitos recursos. Eu até falei para a esposa que ele teria que usar aquelas meias de compressão e caminhar durante o voo.
No caso dele, possivelmente, eu teria que desfibrilar. Enquanto a comissária de bordo foi buscar o DEA (Desfibrilador Portátil), eu afastei todos, levantei os encostos dos bancos e o deitei, levantei sua perna o mais alto que consegui.
Imaginei que poderia ser uma hipotensão (pressão baixa), porque isso acontece muito com pacientes diabéticos e cardiopatas. Fui fazendo as medidas porque não tinha muitos recursos, mas peguei sal e coloquei na boca dele. Ele foi se recuperando, fiz um soro caseiro. Mantive minha observação. Mas um rapaz, um fisioterapeuta, me ajudou. Ele foi voltando aos poucos, até que uma hora consegui estabilizá-lo. A pressão dele chegou a 11 por 7. Ele estava oscilando um pouco, fiquei em observação.
Quem era esse passageiro? Onde mora? Chegou a conversar com ele ao final?
Na hora, foi tudo tão corrido que não consegui pegar contato, mas acho que ele é de São Paulo. Ele disse: “muito obrigado, doutor. Deus te abençoe”. A esposa dele também me agradeceu muito, assim como a filha, que devia ter entre 16 anos e 17 anos.
Foi muito gratificante vê-lo sendo levado estável pela equipe de emergência que estava em Guarulhos, que entrou no avião e o transferiu para o hospital. Espero que ele esteja bem.
Você foi aplaudido no voo pelos passageiros e chamado de herói por muitas pessoas. Se considera um herói?
Foi muito emocionante ver todo mundo no avião aplaudindo, recebi um e-mail do vice-presidente da Delta Air lines agradecendo, mas não me sinto herói. Cumpri o juramento médico e isso é indescritível.
Recentemente fiz um curso chamado de ACLS, que capacita profissionais da saúde para coordenar ou participar da ressuscitação de pacientes adultos em emergências cardiológicas. Isso ajudou bastante. Graças a Deus deu tudo certo. Eu estava preparado e o passageiro foi salvo, o que é mais importante
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