“Apesar da morte, ele deu a vida a alguém”, diz filha de homem que doou órgão
Paulo César Guerra era morador de Vitória e morreu vítima de AVC. O fígado dele foi doado para uma idosa do Rio de Janeiro
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Filha de Paulo César Guerra, a capixaba Maiana Guerra, que é trancista, contou que o pai trabalhava como lavador de carros na Serra e que, na última quinta-feira (26), estava no trabalho quando começou a sentir dores na cabeça. Ele foi levado a um hospital, mas não resistiu. Paulo César deixou quatro filhos e dois netos.
Maiana conta que estava no cartório, fazendo o atestado de óbito do pai, quando uma amiga mandou uma mensagem, dizendo que o transporte do órgão havia interditado uma das principais vias do Rio de Janeiro, na manhã de terça-feira (1º).
Ela lamentou a morte do pai, mas diz se sentir feliz pelo fato dele ter dado vida a outra pessoa.
“Na hora imaginei a família do receptor recebendo a notícia. Eles estão vivendo uma sensação oposta à minha. Estou vivendo um luto e eles um momento de esperança. É uma sensação estranha. Apesar da morte, levar a vida para alguém é extraordinário”.
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A Tribuna - O que aconteceu com o seu pai?
Maiana Guerra - Ele tinha sociedade em um lava a jato com um amigo, em Jacaraípe, na Serra. Eu creio que era por volta das 15 horas de quinta-feira (26) e meu pai falou com o amigo que estava sentindo muita dor na cabeça. Ele pediu água e o amigo foi buscar na geladeira. E, nisso que ele pegou e foi dar ao meu pai, o meu pai já desmaiou e teve convulsão.
Como ele foi socorrido?
O amigo jogou água nele, para ver o que acontecia, porque ele não tinha problema de pressão alta, nada, nada! Foram chamar os outros amigos do meu pai. O amigo que é mais próximo disse que ele tentou levantar o braço, mas não levantava mais.
Colocaram ele dentro do carro e foram em direção a UPA de Castelândia. Nesse momento eles encontraram a ambulância parada. Ele foi entubado, só não posso te afirmar com certeza se ele foi entubado na ambulância ou na UPA de Castelândia. Mas passou pela UPA e chegando na UPA já informaram: “Olha, ele está indo para o Hospital Central” E eu sei que o hospital é referência aqui no nosso estado de neurologia.
O estado de saúde dele sempre foi crítico?
Na sexta-feira (27) eu perguntei a enfermeira, ela falou que era grave. Que estavam dando medicação, que poderia ser que o próprio corpo absorvesse o coágulo, mas que não poderiam me dar certeza. O médico veio conversar comigo, disse que o estado dele era bem grave. Perguntei se, caso ele sobrevivesse, se poderia ficar com sequelas e ele respondeu que, provavelmente, sim.
E quando foi iniciado o protocolo de morte cerebral?
No outro dia - sábado (28) - meu tio foi visitar, porque eu também estava trabalhando. Aí, meu tio já chegou falando a questão que o meu pai tinha tido, provavelmente, uma morte cerebral. Eu até falei não, meu pai não, a gente até brigou com meu tio e disse que ele não ouviu direito.
Aí eu fui na UTI e uma outra médica conversou comigo. Ela falou: ”Olha, o seu pai, fizemos dois exames e antes de fazer esses dois exames que são feitos para contar a morte cerebral, ela explicou que foram feitos outros testes para verificar os sinais vitais.
Eu comecei já a chorar. Aí, ela falou que meu pai era um possível doador e que eu poderia pensar na situação, pois estava passando por um momento difícil. Mas você poderia ajudar alguém.
Qual foi a sua reação?
Ainda faltava fazer um exame. Deixei meu número e me ligaram, informando que tinha comprovado a morte encefálica. Eu perguntei se a doação de órgãos era segura. Porque você pensa em tudo hoje em dia. Ela falou, sim, é seguro.
Vem a equipe, o hospital tem um protocolo de cirurgia, vem a equipe. Vai ser buscado para as pessoas que estão no Estado já esperando. Se ninguém estiver qualificado também, questão de tipo sanguíneo e tal, vai ser na lista nacional. Vai para o Brasil, outras pessoas de outros estados. Falou do prazo para conseguir alguém compatível.
O que você levou em conta na sua decisão?
Ela me explicou: “Você pode ajudar alguém”. Eu falei que, para mim, tudo bem. Na hora imaginei a família do receptor recebendo a notícia. Eles estão vivendo uma sensação oposta à minha. Estou vivendo um luto e eles um momento de esperança. É uma sensação estranha. Apesar da morte, levar a vida para alguém é extraordinário.
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