“Sonho da cirurgia estética virou pesadelo”, diz cabeleireira
Yara Helmer passou por intervenção estética nos seios, mas teve os mamilos deformados e mutilados após falhas no procedimento
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“O sonho da minha cirurgia estética virou um pesadelo. Sinto muita tristeza por tudo que estou passando”.
Esse é o relato da cabeleireira Yara Helmer, de 35 anos, que em meados de 2022 passou por uma cirurgia estética nos seios, em Nova Venécia, mas, segundo relata, teve os mamilos deformados e mutilados após falhas no procedimento.
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O caso foi parar na polícia. Em novembro de 2022 foi ajuizado e desde novembro do ano passado, ela aguarda a sentença da Justiça, de acordo com seu advogado José Geraldo Nunes Filho. Yara pede indenização por danos morais, materiais e estéticos em razão do erro médico.
Por conta das deformidades, agora Yara precisa passar por uma cirurgia reparadora que, segundo afirma, custa mais de R$ 60 mil. “Ainda corro vários riscos. Eu tenho traumas. Estou até depressiva. Preciso que a Justiça olhe para meu caso”.
A cabeleireira contou que após ter filhos os seios ficaram caídos, por isso procurou pela cirurgia de redução e lifting de mama (técnica para “levantar” os seios).
Com muito trabalho e até empréstimo com uma amiga, ela conseguiu reunir o valor – R$ 16 mil – e buscou um médico com quem já tinha feito outro procedimento anos antes.
“Ele já tinha retirado uma cicatriz da minha barriga. O sonho da minha vida era fazer meu peito, e ele me disse que era especialista em fazer cirurgia plástica reparadora em pacientes que passam pela bariátrica. Até me mostrou fotos”.
Após o procedimento, no entanto, ela já viu que algo não estava certo. “Estava faltando um pedaço de um bico do peito e o outro estava faltando ele todo”.
Segundo Yara, o médico ofereceu reparação. “Ele não tem habilitação para fazer o que fez. Ele é obstetra. Ele me ofereceu três médicos de confiança dele para, se eu quisesse, consertar meus seios. Eu fiquei com medo e, por não confiar nele, não aceitei”.
Até hoje, de acordo com Yara, os pontos ainda existem em seus seios. “Eu sinto dor e tomo tramadol (remédio) todos os dias. Não tenho condições de pagar outro médico para reparar meus seios. Não consigo me olhar no espelho. O sonho que tinha virou o pesadelo. Meu conselho é que as mulheres pesquisem muito o profissional e não façam o que eu fiz”, aconselha.
O médico que operou Yara foi procurado pela reportagem, mas não respondeu até o fechamento desta edição.
Seis mortes a cada hora por erros
No Brasil, mais de 50 mil pessoas morrem por ano devido a erros e falhas em hospitais, aponta levantamento feito pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), que analisou 182 hospitais nos anos anteriores à pandemia da covid-19.
Na época, foram registrados seis mortes, a cada hora, um total de 144 mortes por dia, decorrentes dos chamados “eventos adversos graves”, ocasionados por erros, falhas assistenciais ou processuais ou infecções, entre outros fatores.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que aproximadamente 2,6 milhões de pessoas morrem anualmente em todo o mundo devido a erros evitáveis na assistência à saúde, o que equivale a cinco pacientes a cada minuto.
De acordo com o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado (CRM-ES), Fernando Tonelli, a grande maioria das denúncias que chegam ao CRM-ES são intercorrências que ocorrem em procedimentos médicos e que não poderiam ser evitados pelo profissional.
“Ao contrário, nesses casos, em geral, os danos tendem a ser minimizados exatamente pelo conhecimento técnico do médico. Só depois da análise aprofundada de um caso, conforme os procedimentos e protocolos médicos recomendados, o Tribunal de Ética do CRM-ES poderá dizer se há, de fato, uma falta ética”, explica.
Sobre o fato de médicos atuarem em áreas sem especialidade, Tonelli explica que o médico, quando se forma, está preparado para atuar em diversas áreas.
“O que ele não pode fazer é anunciar uma especialização que não tem. Todo profissional é responsável pelo procedimento que faz. Se for denunciado, o CRM-ES vai apurar, primeiro por uma sindicância, e, depois, caso se tenha indício de falta ética, por processo, com amplo direito à defesa”.
“A análise do Conselho se dará pela avaliação dos procedimentos médicos, conforme os melhores protocolos para cada caso”, completa.
Outros casos
Sedação
Em novembro de 2023, Jéssica Marques Vieira, de 32, morreu durante um procedimento para a retirada de dispositivo intrauterino (DIU) por um cardiologista. O caso ocorreu em Matozinhos (MG), na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O laudo de necrópsia constatou que a morte decorreu de um edema pulmonar, que pode ter relação com a sedação aplicada em Jéssica.
A Polícia Civil de Minas Gerais indiciou o médico por homicídio doloso. Jéssica tinha sopro no coração e era acompanhada pelo cardiologista.
Exames ignorados
Marisa Rodrigues da Cunha, 62 anos, morreu por complicações de cirurgias plásticas, em Goiânia (GO). Ela realizou uma cirurgia estética para redução de mama, abdominoplastia e lipoaspiração em abril de 2023. Segundo o Ministério Público de Goiás, ela fez os exames pré-operatórios, que constataram que ela era pré-diabética, hipertensa e usava de hormônio tiroidiano. Sendo assim, não tinha condições para fazer a cirurgia.
Perfuração no estômago
No dia 26 de abril a engenheira Laura Fernandes Costa, de 31 anos, passou por uma cirurgia para colocação de um balão gástrico (dispositivo inserido no interior do estomâgo que reduz a fome), em uma clínica do Barreiro, em Belo Horizonte. Onze dias depois, segundo o G1, Laura foi internada com fortes dores e precisou passar por uma intervenção de emergência, mas não resistiu. A equipe médica constatou a perfuração no estômago. A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou inquérito para apurar as circunstâncias e a causa da morte da mulher.
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