Denise Hills: “Investir em meio ambiente não é opção, é obrigação”
Fala é da especialista ao explicar que as empresas terão dificuldades para obter capital se não levarem sustentabilidade a sério
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“Vocês estão respirando? Então, ao respirar, todos estão emitindo carbono”. Foi com essa informação que a especialista em sustentabilidade empresarial Denise Hills chamou a atenção para a importância do investimento em meio ambiente, na área social e em governança nas organizações.
“Investir em meio ambiente não é mais uma opção para empresas, é uma obrigação”, alertou.
Com mais de 30 anos de atuação na área, em grandes empresas, Denise Hills compartilhou a experiência em uma palestra durante a 12ª edição do evento Em Pratos Limpos, promovido pela Rede Tribuna. A palestra, que teve como tema “Sustentabilidade, inovação e impacto positivo: o que vem pela frente para o Brasil?”, abordou o futuro do chamado ESG.
A sigla vem do inglês Environmental, Social and Corporate Governance, (ambiente, social e governança corporativa), que se refere a um conjunto de políticas para orientar empresas, investimentos e escolhas de consumo focadas em sustentabilidade.
Denise ainda apresentou uma agenda de 17 objetivos de desenvolvimento sustentável criado em 2015 pela Organizações das Nações Unidas (ONU), com ações voltadas para meio ambiente e para o social:
“Hoje, se a empresa não tem políticas voltadas para isso, se não endereçar o quanto sua empresa ou seu negócio atende a algum desses objetivos, por exemplo, você não participa da Bolsa de Valores, nem aqui, nem em nenhum lugar do mundo.”
Ela explicou que a Bolsa lançou um guia estabelecendo que não se abre capital sem que a empresa reporte suas emissões, o grau de diversidade, e se isso representa a sociedade com o qual ela faz produtos e serviços. “Mais do que tudo, é preciso que a empresa informe qual o seu impacto. O que ela faz para mitigar os negativos e potencializar os positivos.”
Outra mudança que torna imperativo pensar na agenda ESG, segundo ela, é que até mesmo a regulação contábil mudou.
“A empresa que divulga seu balanço a partir de 2027, se tem capital aberto em qualquer lugar do mundo, vai ter que valorar, econômica e financeiramente, seus impactos de sustentabilidade e risco climático de forma obrigatória no Brasil a partir de 2027”.
A palestrante e o conteúdo
Quem é Denise Hills
É executiva com mais de 30 anos de experiência em finanças, sustentabilidade e inovação.
Durante sua carreira, ocupou posições estratégicas como Head de Inovação e Educação Financeira, Superintendente de Sustentabilidade, e Negócios Inclusivos no Itaú Unibanco e diretora de Sustentabilidade da Natura&Co América Latina.
Atuou em diversas organizações globais e conselhos, entre as quais o Pacto Global da ONU (onde foi a primeira mulher presidente da Rede Brasil do Pacto Global).
Atualmente, atua como conselheira independente em iniciativas ligadas a sustentabilidade, incluindo o Comitê de Sustentabilidade da Zurich Seguros e o Centro de Inovação e ESG da Fundação Dom Cabral.
O que ela disse sobre:
- Carbono
“Quando você respira, você emite carbono. Então, o primeiro impacto não é opcional, ele é o essencial da vida. Só que para você continuar respirando, precisamos de duas grandes tecnologias, que a gente não está acostumado a nomear como tecnologia: florestas e oceanos. Sem elas, não teríamos a fina camada – que é de 45 quilômetros – onde os 18 primeiros quilômetros contém 89% dos gases que garantem toda a vida do planeta do jeito que a gente conhece.
E é porque esse sistema está desequilibrado, às vezes gerando mais carbono e a gente consumindo essas tecnologias, que a gente precisa falar disso”.
- Ambiente x Economia
“O que o meio ambiente tem a ver com economia? Um relatório do World Economic Forum faz as projeções do que vai acontecer no mundo nos próximos dois a dez anos. Nos próximos dez, você tem duas preocupações claramente vindas da parte da economia: Inflação e recessão. Mais os outros riscos todos apresentados, a gente está falando basicamente de riscos ambientais, sociais, geopolíticos e de tecnologia.
Sendo que os ambientais, eventos climáticos extremos e poluição advinda desse excesso de contaminação por carbono no ecossistema se tornaram críticos, tanto agora, quanto no futuro. Uma das lições do dia: a economia depende da natureza e da sociedade, não do contrário.
- Desenvolvimento econômico
“A gente não pode ter desenvolvimento econômico competindo com a natureza. Temos de criar desenvolvimento econômico que valorize a natureza.
- Clima
“As questões de clima e dos eventos climáticos se tornam ainda mais críticas e começa a entrar a perda de recursos da natureza como algo relevante para a economia.
Cerca de 70% dos trabalhadores do mundo correm risco à saúde devido às mudanças do clima, porque pode ter poluição, porque os eventos extremos afetam nossa capacidade de viver. É sobre a nossa produtividade também. Até dá para colocar ar-condicionado em alguns lugares, mas não dá na Terra inteira. Não dá para trocar cabos de energia no sol”.
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