Até hackers da China controlam aparelhos de TV box no ES
Bandidos estrangeiros usam aparelhos piratas para roubar dados de 26 mil no Estado. Recomendação é jogar fora, diz Anatel
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O Brasil tem sido um dos principais alvos de hackers que roubam dados por meio de vírus instalados em aparelhos de TV box. No Espírito Santo, são cerca de 26 mil equipamentos pirateados que são controlados por hackers até mesmo da China.
Em todo o País são mais de 1,3 milhão, segundo investigação do laboratório chinês Qianxi Xlabs, que divulgou os dados. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) inclusive recomendou que os consumidores descartem os dispositivos por causa dos riscos de segurança.
Esses aparelhos infectados com malware (vírus) são utilizados para criar botnets — redes em larga escala formada por dispositivos invadidos que facilitam o acesso aos dados das vítimas envolvidas. Em prática, os equipamentos funcionam como um exército de pequenos invasores, segundo os chineses.
Após invadirem os aparelhos de TV box, os hackers monetizam as infecções ao transformar os dispositivos em nós de rede, que funcionam como pontos de conexão em uma rede maior de comunicações — as botnets.
Esses nós servem para trocar, armazenar, enviar e recuperar dados oriundos de plataformas ilegais de streaming de mídia, redes de redirecionamento de tráfego, ataques de negação de serviço (DDoS) e fornecimento de conteúdo over-the-top (OTT), que é um método de transmissão via internet.
O CSO da Intelliway, Hugo Frauches, destacou que com os ataques, os hackers, em sua maioria com origem da China, podem controlar os dispositivos para realizar ataques a grandes empresas, ou mesmo acessar dados pessoais e sensíveis do consumidor.
“Quem tem esses equipamentos em casa muitas vezes nem tem ideia que os hackers utilizam para esse fim. A recomendação principal é não utilizar essas TV boxes. Quem compra vai pelo preço atrativo, mas não é um bom negócio e pode sair muito caro”, destacou.
No ano passado, o Conselho Diretor da Anatel aplicou multa em uma pessoa física responsável pela comercialização de equipamentos não homologados pela agência. O valor aplicado foi de R$ 7.680 por ofertar receptores clandestinos de sinal de TV, conhecidos no País como TV boxes.
“O consumidor muitas vezes não sente na pele os problemas de comprar uma TV box irregular. Ele pode até achar que é legal porque pagou centenas de reais na caixinha. No entanto, não é certificada pela Anatel e ainda permite consumo de conteúdo furtado. Se você tem uma dessas, descarte”, disse Artur Coimbra, conselheiro da Anatel.
Saiba mais
O sistema ilegal
As chamadas TV boxes são dispositivos que, conectados a internet, transformam uma TV comum em smart TV, dando acesso canais de televisão fechados e plataformas de streaming. Há opções legais, homologadas pela Anatel.
São equipamentos físicos e digitais vendidos por valores bem abaixo do preço dos pacotes de TV pagas e serviços de streaming, como a Netflix. Esses equipamentos pirateados e infectados por vírus são vendidos, em sua maioria, via internet.
Um relatório do laboratório chinês de cibersegurança Qianxin Xlabs, mostrou que os hackers, com origem do país asiático, inclusive, utilizam os dispositivos infectados para criar e gerenciar botnets, com mais de 1,3 milhão de endereços de IP, que são cada um dos equipamentos.
O VLC Media Player, um reprodutor de mídia bastante conhecido, está sendo usados por hackers chineses como veículo para espalhar conteúdos maliciosos.
Quem tem um equipamento não homologado pela Anatel, o ideal é descartar, segundo orientação da própria agência.
Roubo de dados
Os consumidores dessas TV boxes piratas correm riscos de terem seus dados, seja pessoais ou bancários, roubados por hackers e criminosos através desses sistemas.
A própria Anatel já constatou que criminosos instalam um programa de computador espião, que permite que eles assumam o controle do aparelho pirata e capturem informações do usuário, como dados financeiros, documentos e fotos.
Isso acontece porque o aparelho pirata de TV box pode acessar a rede de internet da casa do usuário, e vasculhar outros dispositivos, como computadores pessoais e celulares de qualquer pessoa da casa.
Outra possibilidade é quando a pessoa usa o próprio aparelho pirata para entrar na internet e digita as senhas dela. O aparelho pode roubar a senha.
Crime
Quem comercializa e quem consome os conteúdos de TV boxes piratas comete crime de violação aos direitos autorais contra a propriedade imaterial e de contrabando.
No Brasil, a pena para quem pratica esse crime é de reclusão de dois a quatro anos e multa.
A Anatel tem uma metodologia que prevê multas para quem comercializa os equipamentos piratas.
Fonte: Especialistas consultados, Anatel e pesquisa A Tribuna.
Pirataria pode provocar só no Estado até 25 mil demissões
Empresários do Espírito Santo estão pedindo soluções ao governo federal contra pirataria para evitar 25 mil demissões só no Estado, onde, conforme a participação na indústria brasileira e seus segmentos como vestuários, combustíveis, indústria alimentícia, há estimativa de que os prejuízos ultrapassem R$ 7 bilhões ao ano, segundo o vice-presidente financeiro da Federação das Indústrias (Findes), Fernando Otávio Campos.
“Isto já pode representar quase 4% do PIB capixaba. A situação é particularmente preocupante para segmentos que já sofrem com a concorrência legal dos importados como o caso dos vestuários. Podemos estimar que está redução do PIB capixaba direta e indiretamente reduza mais de 25 mil postos de trabalho no Estado”.
Os produtos piratas e falsificados representam no mínimo 15% do mercado, segundo José Carlos Bergamin, vice-presidente da Federação do Comércio do Estado.
Análise
“Ação da Anatel ainda não é suficiente”
“São diversos os riscos com essas TV boxes irregulares. Primeiro, partindo do pressuposto de que foi comprada de forma ilícita, em geral pela internet e sem nota fiscal, não tem garantia nenhuma de que vai funcionar e nem para substituição, por exemplo.
O segundo ponto é que esse equipamento, ao ser conectado ao aparelho de TV, pode danificar o mesmo. A terceira questão é risco de penalização na esfera criminal, pois tem a captação irregular do sinal, por exemplo.
Além disso, tem as possibilidades de invasão aos dados do usuário. O consumidor em geral não se atenta a esses detalhes e só pensa nos benefícios e facilidades. A Anatel vem tomando medidas para tentar coibir esses equipamentos irregulares, mas ainda não é o suficiente”.
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