As áreas no mercado de trabalho onde há procura por profissionais mais experientes
Os mais experientes geralmente procuram estabilidade e resolvem problemas com mais facilidade
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O aumento na expectativa de vida dos brasileiros e o envelhecimento da população vem fazendo com que empresas iniciem um processo de mudança de mentalidade, colocando profissionais mais maduros em seu radar, visando experiência e também funcionários mais resilientes, estáveis e com menos risco de deixar a empresa repentinamente.
A diretora da Center RH Eliana Machado cita que as áreas que mais tendem a contratar profissionais nessa faixa etária, tanto hoje quanto nos próximos anos, são as administrativas, mas que também são frequentes contratações em áreas operacionais para cargos de gestão de maior grau, como coordenadores, gerentes ou supervisores.
“Justamente por conta da experiência desse profissional. O profissional mais velho é visto como um trabalhador que busca estabilidade, o que é valorizado pelas organizações, especialmente em cargos mais elevados. Isso ocorre porque o jovem é, em geral, muito impaciente e não tem esse espírito de ‘carreirismo’”, diz a diretora.
O advogado Guilherme Machado acrescenta que o profissional nessa faixa etária tem maior percepção do mercado, o que possibilita a antecipação de problemas e busca por soluções. “É natural que eles encontrem soluções que são menos óbvias para os jovens, por conta de suas vivências”, afirma.
A vice-presidente da seccional capixaba da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-ES), Fabíola Costa, aponta também que profissionais mais velhos tendem a ser mais comprometidos, não praticando o chamado “job hopping”, termo usado para quem muda de emprego com frequência.
Segundo levantamento da Ticket, enquanto 51,5% dos profissionais das gerações mais jovens disseram que não pretendiam ficar em seus empregos naquele ano, 64% dos entrevistados das gerações mais velhas não pretendiam mudar de emprego.
“O jovem tende a mudar de emprego e tem até facilidade para fazer isso. Muitos já tem nos pais uma segurança, alguns até moram com eles, então podem correr mais riscos. O profissional acima dos 40 já tem um pensamento diferente, de buscar a estabilidade porque tende a já ter compromissos financeiros. Isso acaba sendo um ponto positivo para eles”.
Para Wanderson Climaco, gerente de Recursos Humanos e TI da Simec Cariacica, a presença de empregados com mais de 40 anos de idade é muito importante para a empresa.
“Eles normalmente têm experiência em suas áreas e tendem a ser muito comprometidos. Além disso, não migram de um emprego para outro com tanta facilidade como as gerações mais jovens”.
Crucial estudar e se adaptar à tecnologia
Apesar da experiência e senso crítico aguçado favorecerem os profissionais com mais de 40 anos, especialistas alertam que também é preciso foco e esforço.
“A resistência à mudança e à adaptação a novas tecnologias podem ser obstáculos. O profissional dessa faixa etária deve entender que a IA está ali para ajudá-lo, para ser uma ferramenta que vai agilizar o trabalho”, afirma a psicóloga e diretora de liderança e diversidade do Ibef-ES, Gisélia Freitas.
E dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostram que os “quarentões” já estão atentos e buscando se manter os estudos em dia: dos 8,9 milhões de matriculados no ensino superior em 2023, 1,2 milhão tinham 40 anos ou mais. O número significa um aumento de 93,84% em relação a 2011.
Cláudia Freitas, analista de Negócios do Instituto Evaldo Lodi (IEL), detalha que este crescimento foi impulsionado principalmente com a pandemia, que mudou a forma como as pessoas encaram o ambiente de trabalho.
“A procura por cursos superiores, especializações ou mesmo formações em geral por essa faixa etária cresceu muito, porque essa geração está mudando de perspectiva de vida, começando a refletir sobre suas relações no trabalho e buscado ou mudar de carreira, ou se qualificar para atuar em funções maiores ou com uma abordagem diferente”.
O economista e professor da UVV Fabrício Azevedo acrescenta que há empresas que, percebendo que alguns profissionais nessa faixa enfrentam dificuldades para se atualizar por conta da carga de trabalho, oferecem capacitações para manter seus funcionários atualizados.
“Cerca de 20% das empresas já perceberam essa necessidade, e buscam dar esse espaço ao profissional mais veterano, porque sabem do valor de um profissional experiente e atualizado”.
Mais velhos serão maioria
A participação dos brasileiros com 40 anos ou mais no mercado de trabalho só aumenta. Segundo dados do IBGE, entre 2012 e 2023, o número de profissionais nesta faixa saltou de 38,6% para 45,1%. Em números absolutos, significa um aumento de 11,5 milhões de “veteranos”.
Segundo estudo do economista Rogério Nagamine, o número de trabalhadores disponíveis no País vai cair 6,3% até 2060, ano em que a idade média dos profissionais no mercado será de 42,1. Para se ter noção, o ano passado terminou com média de 38,8.
Nagamine alerta que, em 2060, os hoje 45,1% de trabalhadores acima dos 40 anos vão se tornar mais do que a metade da população (54,4%) até 2060.
Dados do Censo 2022 mostraram que o crescimento da população brasileira está desacelerando mais rapidamente que o esperado.
Mas o cenário não é exclusivo do Brasil. Nos Estados Unidos, um em cada cinco idosos acima dos 65 anos estão empregados, um número quase duas vezes maior do que 35 anos atrás.
Detalhes
Profissões
Especialistas relatam uma série de áreas onde o profissional com mais de 40 anos é “desejado”, por conta de sua experiência.
A diretoria do Center RH, Eliana Machado, cita que áreas administrativas em geral, como contadores e administradores, tendem a ter profissionais nessa faixa etária, por conta de suas vivências.
O advogado Guilherme Machado cita as áreas de gastronomia, enfermagem, gestão de recursos humanos, técnico em segurança no trabalho, logística, marketing, vendas e relacionamento com o cliente como outros exemplos onde o profissional nessa faixa etária é mais valorizado.
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