Inteligência artificial dá vantagem a profissionais com mais de 40 anos
Especialistas e executivos em geral dizem que a tecnologia favorece profissionais com mais experiência e poder de articulação
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O “boom” da inteligência artificial no ambiente de trabalho pode parecer preocupante para os “veteranos”, mas especialistas afirmam que esse segmento não deve ter medo: são os profissionais acima dos 40 anos que podem se beneficiar mais com o avanço das IAs.
Frederico Comério, CTO da Intelliway Tecnologia e especialista em inteligência artificial, vê os impactos da tecnologia para a geração acima dos 40 anos como mais positivos do que negativos.
“A principal quebra de paradigma das IAs no mercado de trabalho é que, em vez de produzirmos o resultado do nosso trabalho, quem faz isso por nós é a tecnologia. Mas o resultado é proporcional à qualidade do comando que damos a essas IAs”, explica.
Comério cita fala do CEO do Grupo O Boticário, Fernando Modé, ao Jornal Valor Econômico ao explicar que, diferente das outras revoluções tecnológicas, esta favorecerá as gerações mais antigas porque as IAs dependem de instruções detalhadas, e o profissional mais sênior, em geral, tende a ter mais habilidades de comunicação.
Além disso, eles também tendem a fornecer mais riquezas de contexto para que os comandos dados à IA sejam mais claros e gerem resultados melhores.
“Pesquisas tem mostrado que essas novas gerações estão mais pobres em termos de vocabulário. Além disso, o senso crítico de um veterano é muito maior que o de um jovem, e isso fará a diferença na hora de lidar com essas ferramentas”, complementa.
Esse raciocínio já está sendo percebido por especialistas do mundo todo. O economista Carl Benedikt Frey, da Universidade de Oxford, em entrevista ao portal norte-americano Business Insider, explicou que os profissionais mais velhos possuem experiência altamente valiosa que não pode ser automatizada, e por isso vão se favorecer mais com a implementação das IAs no ambiente de trabalho.
Co-fundador da Affetic, Jean Paul Villacis tem 49 anos e conta que utiliza diariamente as ferramentas de inteligência artificial em seu trabalho. Ele afirma que as ferramentas têm servido como meio para acelerar suas atividades.
“Com o 'prompt' (comando) certo, você consegue ter a possibilidade de agir de forma mais efetiva e eficiente. São tecnologias que vieram para ser ferramentas de auxílio, não substitutas dos profissionais especializados na área”.
Como a IA mexe com os mais maduros
1 Na contramão das outras revoluções
Historicamente, as chamadas revoluções tecnológicas afetaram diretamente o emprego dos profissionais mais velhos.
Um exemplo disso está nas primeiras revoluções industriais, onde os trabalhadores mais velhos foram desvalorizados por serem considerados menos capazes de realizar trabalhos manuais que exigiam esforços físico, o que fez com que muitos profissionais mais velhos perdessem espaço no mercado de trabalho.
Situação semelhante ocorreu a partir dos avanços tecnológicos ocorridos principalmente após a década de 1980. Computadores, smartphones e aplicativos ainda são vistos com receio e medo por uma parte considerável dos profissionais mais velhos, que enfrenta dificuldade em se manter no mercado.
Porém, a Inteligência artificial pode ter efeito oposto nessa faixa da população: por se tratar de uma tecnologia baseada em comunicação, onde a ferramenta deve receber informações detalhadas e profundas para executar uma atividade, profissionais com mais bagagem e experiência tendem a ser favorecidos.
2Senso crítico e capacidade de comunicação
A situação ocorre porque os profissionais mais jovens, além de ter menos vocabulário, demonstram dificuldade de se expressarem de uma forma geral. 39% dos integrantes da chamada Geração Z (nascidos entre 1997 e 2010) tem comunicação no trabalho considerada ruim, o que indica dificuldades para passar, de forma mais clara, as informações para que as IAs atuem.
Isso ocorre porque as IAs ainda não são 100% autônomas, e precisam da supervisão humana para que seu trabalho seja homologado. Por terem maior capacidade crítica, os profissionais acima dos 40 anos acabam favorecidos
3 Exemplos de profissões favorecidas
Profissionais da educação acima dos 40 anos que se adaptarem ao uso de IAs poderão utilizar seus conhecimentos e senso crítico mais aguçado para personalizar o material didático conforme as necessidades e o ritmo de cada aluno, tornando a educação eficaz.
Da mesma forma, profissionais do setor de RH poderão utilizar o metaverso para treinar funcionários em novas tecnologias, utilizando IAs que ajustem o conteúdo do curso com base em seu estilo de aprendizagem.
Profissionais citados por especialistas como aqueles que podem aproveitar o uso das IAs de forma mais eficiente por conta de sua experiência são veteranos das áreas de saúde, finanças, marketing e logística.
4 Sem substituição
Especialistas explicam que a Inteligência Artificial não veio para substituir os profissionais, mas sim para funcionar como ferramentas de apoio para agilizar processos repetitivos.
Para Leopoldo Jereissati, CEO e fundador da agência All Set Comunicação, profissionais que já alcançaram o nível sênior estarão especialmente seguros, já que o desafio ficará com os recém-formados, que terão de desenvolver soft-skills como capacidade de comunicação e senso crítico para se manterem no mercado de trabalho.
5 Desafios
O cenário para os profissionais mais velhos com a IA, porém, não será sem desafios. Especialistas destacam a necessidade do profissional ter mente aberta e capacidade de adaptação para lidar com o surgimento dessas novas ferramentas de trabalho.
“É preciso que essa geração não se acomode e realmente mergulhe de cabeça na utilização de ferramentas de IA (especialmente as mais populares como ChatGPT, Google gemini, Leonardo.ai, stable diffusion, entre outras)”, explica Frederico Comério, CTO da Intelliway Tecnologia e especialista em inteligência artificial.
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