Setembro Amarelo
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (05)
O dia 10 de setembro é instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o Dia Mundial da prevenção ao suicídio. Mas você sabe por quê? A história deste movimento inicia-se nos Estados Unidos em 1994, quando Mike Emme, um adolescente de 17 anos, comete suicídio.
Tal ato foi um susto para os amigos e familiares, pois o jovem era conhecido por ser uma pessoa carinhosa e, por isto, ninguém observou os sinais de que pretendia tirar sua vida. Mas, por que o amarelo? Mike era apaixonado por seu Mustang 68, que restaurou pintando-o de amarelo. Em seu sepultamento, os amigos fizeram uma cesta com fitas amarelas e cartões que diziam “Se precisar, peça ajuda”.
No Brasil, a campanha torna-se oficial em 2015 demonstrando o entendimento de que o suicídio é uma questão não só de saúde mental, mas de saúde pública global, afinal, por ano cerca de 700 mil pessoas o cometem (relatório Preventing suicide: a global imperative, OMS). As intervenções feitas neste mês visam à prevenção do suicídio, principalmente através da quebra de mitos que o envolvem, como, por exemplo, que ele está longe de nós e daqueles que amamos, pois aqui a nossa grama é melhor que a do vizinho e não o contrário.
Faço uma dinâmica de grupos no mês de setembro, quando dos treinamentos e palestras. Como facilitadora, fico no meio de uma sala e começo a fazer perguntas que dividirão as pessoas para esquerda e para a direita. Exemplo: “Quem é capixaba fique à esquerda e quem não é à direita”. No decorrer as inimagináveis semelhanças aparecerão. Quando caminhamos para o final, as “divisões” são mais direcionadas às dificuldades da vida e como lidamos com elas.
Na última, pedimos para aqueles que já pensaram em suicídio deslocarem-se para uma direção e os que não, para a outra. O impacto é maior quando eu saio de onde estou e me junto àqueles que pensaram! É feita uma sensibilização sobre a importância de não estereotiparmos os “suicidas”, pois se o fizermos não conseguiremos observar os detalhes e ofertar ajuda.
Afinal, se pararmos para pensar direitinho, todo mundo está lidando com dores e desprazeres da vida, e às vezes a luta se torna cansativa. As pessoas acabam pensando, na verdade, acreditando que a vida não tem mais sentido. Viver sem um sentido realmente não faz sentido (desculpe a cacofonia)!
Assim, na terapia trabalhamos com o (re)encontro deste sentido. Um dos psicólogos que apresentou técnicas para atuarmos nesta área é o pai da Logoterapia, Viktor Frankl. Seu livro Em busca do sentido analisa porque alguns prisioneiros em campos de concentração não resistiam tirando suas vidas e outros não (inclusive ele). Quem resistia tinha um sentido para resistir e, de acordo com ele, todos nós temos, só que às vezes a dor é tão grande que deixamos de nos conectar com ele.
A proposta que eu te faço é que, sempre que achar que o sentido se foi, busque ajuda, pois ele só está escondido em um lugarzinho ali dentro que, com a ajuda certa, você vai (re)encontrá-lo.
- Sátina Pimenta é psicóloga clínica, advogada e professora universitária