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Cidades

Violência entre pais e filhos no Estado assusta até a polícia

Abusos sexuais e até homicídios cometidos por pais contra os seus filhos estão mais visíveis devido ao maior acesso à informação


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Imagem ilustrativa da imagem Violência entre pais e filhos no Estado assusta até a polícia
Abusos e violência contra as crianças são mais frequentes em zonas rurais e regiões mais carentes, segundo especialistas do Estado |  Foto: Freepik

Casos de violência envolvendo pais e filhos estão chocando a sociedade e até os profissionais que lidam diretamente com essas ocorrências. Quando ocorrem as denúncias, os policiais são os primeiros a intervirem e se deparam com situações nas quais, por exemplo, os assassinos do filho são os próprios pais.

Segundo o delegado Fabrício Dutra, da Superintendência de Polícia Regional Norte (SPRN), crimes como agressões físicas, abusos sexuais e até assassinatos cometidos por pais contra seus filhos, no Estado, têm se tornado mais visíveis devido ao maior acesso à informação e às redes sociais.

No entanto, ele alerta: “Esses crimes sempre existiram. O que mudou é que, agora, as cortinas caíram e conseguimos enxergar o que acontece dentro dos lares”.

De acordo com dados da Delegacia Regional de Linhares, que atende também os municípios de Rio Bananal e Sooretama, somente no último ano, 85 estupradores foram presos, sendo mais de 70% dos casos envolvendo familiares das vítimas. Neste ano já são 62.

“Esses crimes não são captados por câmeras de segurança na rua. Eles acontecem dentro de casa, em um ambiente fechado e, muitas vezes, intocável até para a polícia”, explica o delegado.

Para Dutra, o papel dos pais nesses crimes é chocante: “A maior bênção que alguém pode receber é ser pai ou mãe. É de onde a criança deveria receber proteção, carinho e segurança. Mas, infelizmente, em muitos casos, isso se transforma em violência e sofrimento”.

Outro fator que agrava a situação é a dificuldade de acesso a serviços em áreas mais afastadas. “Nas zonas rurais e regiões mais carentes, percebemos uma frequência maior desses crimes. Nesses locais, falta educação, suporte comunitário e acesso aos serviços que poderiam identificar ou prevenir os casos de violência”, pontua Dutra.

Questionada, a Polícia Civil informou não dispor de dados compilados sobre casos de crianças e adolescentes que tenham sofrido algum tipo de violência por parte dos pais no Estado.

A Polícia Militar disse que, em casos em que é acionada e constatada a lesão corporal por parte dos genitores, os autores da agressão são encaminhados para a Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).

Os números

85 presos por estupro no ano passado, nos municípios de Linhares, Rio Bananal e Sooretama.

70% dos casos nessas cidades envolviam familiares das vítimas.

Opinião

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Você sabia?

Atos de violência contra crianças, desde castigos físicos de natureza disciplinar até os casos mais graves, de menores de 14 anos, são proibidos no Brasil. A lei ampara os direitos de crianças e adolescentes, além de prever punições aos agressores.

Casos que chocaram o Estado

Mãe é presa após bebê de 6 meses sofrer queimaduras

Uma atendente de lanchonete, de 32 anos, foi presa suspeita de tortura após o filho dela, um bebê de seis meses, dar entrada no Pronto Atendimento (PA) de Flexal II, em Cariacica, com queimaduras de segundo grau, na noite do último dia 20. 

Foi a própria mulher quem levou o filho até o PA de Flexal II para receber atendimento médico.

a criança precisou ser transferida ao Pronto-Socorro do Hospital Infantil de Vitória, em Bento Ferreira, na capital.

A mulher foi autuada por tortura qualificada praticada contra uma criança sob sua guarda, causando intenso sofrimento físico ou mental como forma de castigo pessoal, com agravante de pena por se tratar de um crime cometido contra criança.

Pai na cadeia suspeito de engravidar a filha

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|  Foto: © Divulgação / Sesp

Um homem, de 43 anos, suspeito de estuprar a própria filha foi preso no último dia 25, em Piúma, no Sul do Espírito Santo.

Os abusos foram cometidos por pelo menos sete anos, quando a mulher tinha 11 anos. O detido afirmou aos policiais que engravidou a filha, que atualmente é maior de idade.

Casal atrás das grades por estuprar e obrigar filha a fazer aborto

Um casal foi preso em flagrante no dia 21, por estupro e aborto sem consentimento contra a própria filha, uma menina de 13 anos, em Vila Velha, no Espírito Santo.

O crime foi descoberto após a menina relatar os abusos na escola onde estuda, no mesmo município. Ela era vítima de violência sexual há cerca de um ano por parte do padrasto, um homem de 32 anos. Os abusos ocorriam dentro da casa da família.

Pai e madrasta suspeitos de matar adolescente de 15 anos

A Polícia Civil concluiu que o pai e a madrasta são os responsáveis pela morte de um adolescente de 15 anos.

O crime aconteceu em fevereiro de 2021, em uma propriedade rural de Jaguaré, no Norte do Espírito Santo.

Na época, o casal relatou que o menino havia cometido suicídio, mas depois foram constatados sinais de homicídio na investigação.

Análise

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Sátina Pimenta é psicóloga clínica, advogada e professora universitária

“Amor de pai e mãe é um mito social”

“Primeiro, precisamos entender que o amor de pai e mãe é um mito social. Esse mito foi criado pela sociedade, que nos diz que pais e mães precisam amar seus filhos. Porém, como qualquer mito, ele é seguido por algumas pessoas e ignorado por outras.

Quando não é seguido, duas situações podem surgir. A primeira é o abandono, algo que causa trauma na criança ou no adolescente, mas, paradoxalmente, também pode permitir que ela encontre uma nova relação familiar.

Já a segunda situação ocorre quando os pais permanecem, mas não seguem o que a sociedade define como amor. Nesse caso, os filhos acabam sendo tratados como objetos de subordinação, poder e imposição.

Nessa dinâmica, a violência, tanto física quanto psicológica, se faz presente.

Afinal, quando há amor, existem limites. Mas, na ausência dele, esses limites desaparecem.

Assim, as crianças podem ser usadas para satisfazer desejos ou servirem como alvo das frustrações dos pais, vivendo relações marcadas pela dor”.

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