“Registrei histórias de amor com minha lambe-lambe”, recorda fotógrafo
José Cezario Filho, de 86 anos, trabalhava no Parque Moscoso. Ele conta que fazer uma foto era um momento especial na época
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“Os fotógrafos sempre foram figuras populares, sensíveis e atentas. Por mais de 50 anos, me dediquei a eternizar momentos especiais e, dessa forma, cuidei da minha família. Eu trabalhava como fotógrafo de rua no Parque Moscoso, no centro de Vitória, e já registrei muitas histórias de amor com as minhas lentes de lambe-lambe.
Nasci em Conselheiro Pena, no interior de Minas Gerais, e, aos 22 anos, me mudei para Vila Velha em busca de melhores oportunidades de vida. Por curiosidade, comprei uma câmera fotográfica e, sem perceber, meu hobby virou uma profissão.
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Naquela época, conseguíamos tirar um bom rendimento com a fotografia. Todos os dias, eu saía de Aribiri, em Vila Velha, para trabalhar no Parque Moscoso. Tenho orgulho em dizer que várias das primeiras fotos de centenas de capixabas foram tiradas por mim."
Filas para fotos
"As filas para fazer fotos comigo chegavam a 20 pessoas no Parque Moscoso. Fazer uma foto era um evento: todos vestiam as melhores roupas, arrumavam os cabelos e buscavam as melhores poses. Diferentemente de hoje, em que a fotografia está às mãos de todos, registrar uma foto era um momento especial.
Os principais clientes do meu trabalho no Parque Moscoso com as câmeras de lambe-lambe incluíam pessoas que iriam emitir documentos, crianças e, sem dúvida, casais. O Parque Moscoso era o coração de Vitória e, por isso, muitos casais se formavam e, até mesmo, se casavam lá.
Eu lembro de fotografar inúmeros noivos, casais apaixonados que se conheceram no Parque Moscoso e o primeiro encontro de alguns casais. Na época, tudo era mais romântico. Sem dúvida, um registro fotográfico era um presente e tanto.
Infelizmente, também fotografei momentos delicados. Lembro-me de um casal que me contratou para fazer fotos no cartório mas, antes de assinarem o documento, decidiram não se casar. Aquela foi uma foto que nunca esqueci – e um momento que, com certeza, ninguém gostaria de eternizar.
Tirando essa história, eu diria que fotografei os momentos mais felizes de muitas pessoas. As brincadeiras, os sorrisos, os primeiros encontros, os reencontros e os momentos em família, por exemplo. Esse é um ponto bom de ter sido fotógrafo de rua: sinto que minhas fotos alegraram muitas famílias.
Minha esposa, Creuza, era minha parceira nos trabalhos fotográficos. Ela trabalhava em um estúdio caseiro, fotografava casamentos em igrejas e se dedicava a atender muitos dos nossos clientes. Nossa parceria deu tão certo que influenciamos muitos dos nossos filhos a seguirem a fotografia.
Muitas das minhas fotos também refletiam as mudanças das cidades. Quando cheguei no bairro de Aribiri, em Vila Velha, lembro que havia poucas casas em construção. Hoje, todos os bairros em que frequentei cresceram muito.
Inclusive, voltar ao Parque Moscoso para fazer a reportagem é uma emoção muito grande para mim. Embora ele esteja diferente, minha memória me transporta para os tempos em que eu passava o dia fotografando os moradores e os turistas da cidade.
Me aposentei da fotografia há cerca de 15 anos. Dediquei uma vida ao meu trabalho. Ainda assim, sinto que as memórias que construí sempre me acompanharão, e me sinto feliz em poder contá-las."
Futuro
"Eu não imaginava que, em algum momento, ser fotógrafo seria algo tão mais fácil. Na verdade, hoje, todos podem ter uma boa câmera às mãos. Os celulares estão cada vez mais potentes, com câmeras de alta qualidade e menos complexas.
Apesar disso, o trabalho de um fotógrafo profissional nunca será substituído. O olhar sensível, atento, o domínio da linguagem fotográfica e a busca pelos melhores ângulos compõem características únicas, que nem todos com uma câmera conseguem ter.
Não sei dizer o que o futuro reservará à fotografia, mas acredito que a paixão por eternizar momentos especiais sempre guiará o desejo de todos”.
Quem é
José Cezario Filho, de 86 anos, é fotógrafo aposentado. Nascido em Conselheiro Pena, Minas Gerais, ele se mudou para Vila Velha aos 22 anos. Logo que chegou no Estado, começou a trabalhar como fotógrafo lambe-lambe no Parque Moscoso, no centro de Vitória.
Lá, o mineiro registrou momentos especiais, fotos para emissão de documentos e, além disso, eternizou histórias de amor. Ao longo da entrevista, ele relata detalhes de seu trabalho como fotógrafo de rua.
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