“Microempresários deram um impulso à economia”, diz diretor do Sebrae-ES
José Eugênio Vieira lembra da época em que profissionais não tinham acesso a direitos básicos
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“Aos 78 anos, faço uma retrospectiva da minha trajetória com orgulho e felicidade. Vi e vivi diversas transformações sociais e acredito que, olhando para os acontecimentos econômicos, a valorização dos micro e pequenos empresários foi uma das principais mudanças para o fortalecimento econômico do Estado.
Por décadas, essas pessoas, que tanto produzem para o Espírito Santo, não tinham acesso a instrução, crédito e direitos fundamentais dos trabalhadores. Eram invisíveis nas políticas públicas.
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Quando essa mudança de cultura aconteceu, tivemos uma expansão do setor e, hoje, podemos ver o quanto ele contribui para o nosso crescimento. Vi microempresários impulsionarem a economia."
Vida pessoal
"Nasci em Afonso Cláudio e sou o mais velho entre sete irmãos. Minha mãe era professora rural e meu pai, técnico agrícola. Desde cedo, trabalhei para ajudar a família, sem deixar de estudar. Fiz técnico em contabilidade e meu primeiro emprego foi um estágio na área.
Aos 18 anos, me mudei para Vitória para cursar um pré-vestibular e buscar uma vaga na faculdade. Com muito sacrifício, meu pai me ajudou. Meu sonho era ser engenheiro, mas o caminho mudou após uma conversa com amigos, em uma viagem de praia.
Enquanto cursei Economia, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), consegui meu primeiro emprego. Desde então, nunca deixei de trabalhar.
Já passei por inúmeras secretarias de Estado, fui concursado da Caixa Econômica e escrevi 15 livros sobre temas relacionados à história administrativa, política e econômica de municípios capixabas."
Transformações sociais
"Na República Nova, 15 dos presidentes tinham algo em comum: trabalharam na roça. Não era algo tão incomum no século passado, visto que o Brasil foi um país essencialmente agrícola por anos.
Vivemos, contudo, um processo forte de êxodo rural, que eu vivi nos anos 60 e 70 no Espírito Santo. O café era o nosso maior produto e, com a crise do café e a industrialização, a população capixaba deixou o campo para construir a Grande Vitória.
Foi assim que muitos tiveram acesso à educação, saúde pública e a oportunidades de gerar renda para a família. Quando mais novo, fiz a mudança para Vitória para estudar e, no curso de Economia, pude expandir meu conhecimento sobre o mundo, o que me proporcionou oportunidades.
Para muitas famílias, essa mudança para a zona urbana também foi algo transformador. Tanto que o perfil econômico do Estado se dinamizou."
Micro e pequenas empresas
"Hoje, no Estado, as micro e pequenas empresas (MPE) representam cerca de 98% do total de estabelecimentos. Nem sempre, contudo, esse setor foi olhado com cuidado e incentivo. Os microempresários não regulamentavam o próprio negócio porque não viam vantagens nisso.
Só que, nos dias atuais, essas micro e pequenas empresas são um pilar fundamental da economia capixaba, e isso foi algo construído. A valorização e a criação de oportunidades impulsionam o consumo e oferecem melhores condições de vida para essas pessoas.
Isso significa que um microempreendedor, por exemplo, consegue se regularizar e buscar a aposentadoria. Essa dignidade e o acesso a direitos é algo recente, dos últimos 20 anos. Não podemos negar o poder das micro e pequenas empresas na geração de empregos, e a valorização das pessoas que constroem o setor, sem dúvidas, fortalece a economia."
Valor do trabalho
"Em qualquer momento da carreira, o mais importante é trabalhar em harmonia, ser digno e respeitar ao próximo. Acredito que o que engrandece um profissional é a transparência, a confiança no que se faz e o comprometimento com o trabalho. Talvez esse seja um ensinamento para as novas gerações”.
Quem é
José Eugênio Vieira, de 78 anos, é economista e diretor de atendimento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae-ES). É bacharel em Economia e especialista em Planejamento Agrícola pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pelo Instituto Agronômico de Montpellier, na França.
Na entrevista, ele aborda a história econômica do Estado e aponta as transformações sociais e econômica que viu e viveu.
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