Exame de DNA e digital para achar desaparecidos
Para localizar pessoas, Polícia Científica do Estado compartilha informações com o Banco Nacional de Perfis Genéticos
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A procura por um familiar desaparecido, muitas vezes, pode ter fim se ele for um paciente não identificado pela equipe de um hospital, ou mesmo se estiver morto. No entanto, se as digitais tiverem sido coletadas e seu perfil genético estiver sequenciado, as esperanças de encontrar a pessoa se renovam.
Esse trabalho é feito pela Polícia Científica do Espírito Santo, que compartilha as informações com um banco de dados nacional.
Em 10 anos, já foram identificados 13 corpos encontrados no Estado, sendo que 10 famílias e o cadáver eram do Estado, enquanto nos outros três casos, as famílias eram de Brasília, Minas Gerais e Bahia, de acordo com Caio Nucci de Araújo, perito chefe do Laboratório de DNA Forense.
“Esse banco estadual é sincronizado com o banco nacional. O perfil genético da pessoa é comparado em nível nacional com familiares de outros estados, que procuraram os órgãos competentes dos seus estados, que também têm banco de perfis genéticos. No País foram identificados 381 corpos por conta do banco. No Estado, 13”, afirma.
O perito observa que é importante o registro de pessoas desaparecidas na polícia, bem como a coleta de digitais e material genético por parte dos familiares.
Ele exemplifica que se a família já passou pela triagem no Departamento Médico Legal (DML), já existe um corpo compatível com aquele histórico, seja pelo sexo, pela idade, por algum exame médico, pela data do desaparecimento e a data que o cadáver foi encontrado. Então, algumas informações permitem “direcionar” os dados para aquela família.
“Muitas vezes, a família é encaminhada para comparar com um corpo específico”, observa Caio Nucci de Araújo, afirmando que o perfil genético da paciente “Clarinha” está no banco nacional desde 2015, mas nenhuma informação sobre ela foi encontrada.
Clarinha (apelido dado no hospital, pois não havia identificação) foi atropelada no dia 12 de junho de 2000, em Vitória, ao fugir de um homem. Ela ficou em coma por 24 anos.
Segundo o perito do Laboratório de Necropapiloscopia Forense João Carlos Quemelli, quando um paciente chega sem identificação, é feita a coleta das digitais, independentemente de a família procurar por ele ou não. Quando não é possível coletar as digitais, é feita a coleta do DNA.
As famílias podem procurar o DML pelo WhatsApp (27) 3225-8260 para obter orientações.
Descartados parentes de Clarinha
As digitais da paciente conhecida como Clarinha, que ficou internada em coma por 24 anos, e morreu no dia 14, foram coletadas no dia 15. Desde que a identificação ficou pronta, no dia 17, cinco famílias procuraram o DML para fazer o exame de comparação de digitais.
“São cinco prontuários de digitais: da Serra, Bahia e de São Paulo, que deram negativo. E estamos aguardando o envio de prontuário de Brasília e Paraná”, conta o perito do Laboratório de Necropapiloscopia Forense João Carlos Quemelli.
Ele contou que foi preciso levantar parte da epiderme de um dos dedos, até alcançar a derme.
“Ela tinha as mãos anquilosadas (fechadas para dentro) e é comum pacientes muito tempo internados perderem a digital, mas conseguimos fazer a coleta”.
A auxiliar de perícia médico legal Polyanna Caliari afirma que, nos casos em que as famílias procuram o DML e não têm documento com digital para comparação, a equipe vai tentar até a semana seguinte agendar os nomes para fazer o exame de DNA, que demora em média 40 dias úteis para ficar pronto. Enquanto isso, o corpo de Clarinha deve ficar no local.
Segundo Polyanna, caso nenhum familiar seja encontrado, Clarinha não será enterrada como indigente. “O enterro pode ficar a cargo do médico, o tenente-coronel Jorge Potratz, que cuidou dela por todos esses anos, que já manifestou interesse”, afirma.
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