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Cidades

“Clarinha marcou a minha vida”, afirma médico que cuidou de paciente misteriosa

Atropelada por um ônibus no centro de Vitória, ela passou 24 anos em coma no Hospital da Polícia Militar do Estado


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Imagem ilustrativa da imagem “Clarinha  marcou a minha vida”, afirma médico que cuidou de paciente misteriosa
Jorge Potratz cuidou de Clarinha por mais de 20 anos: na última quinta-feira ela passou mal, vomitou e morreu |  Foto: Leone Iglesias/AT

Depois de mais de 20 anos ao lado de Clarinha, é hora do momento mais difícil para Jorge Potratz, coronel da reserva da Polícia Militar e médico que cuidou dela durante duas décadas: dizer adeus.

Clarinha foi atropelada em 12 de junho de 2000, no centro de Vitória, e estava internada em coma no Hospital da Polícia Militar do Espírito Santo (HPM), na capital.

Ela passou mal na manhã de quinta-feira (14), vomitou e teve uma broncoaspiração. Por volta das 20h30, morreu.

Nessas décadas, nenhum familiar ou amigo procurou por ela, que se manteve em estado vegetativo. Ao longo dos anos, foram várias tentativas de identificação, sem êxito.

Para o coronel, que tem 61 anos, a missão é garantir que ela não seja sepultada como “indigente”, considerando que não tem registro.

A Justiça, na última quarta-feira, um dia antes dela morrer, determinou que seja lavrado o assento de nascimento tardio de Clarinha, no Cartório de Registro Civil – Comarca da Vitória, com os demais dados necessários.

Por meio de nota, o HPM lamentou a morte da paciente misteriosa. Em um dos trechos, disse: “A guerreira sem família biologicamente, adotada pelo Hospital da Polícia Militar capixaba nos deixou... Clarinha tinha marcas de cesárea, o que indica que ela teve um filho. Pelos cálculos do hospital, ela teria falecido com cerca de 45 anos”.

Para Potratz, fica o sentimento de vazio, mas a certeza que tentou de tudo para dar dignidade a ela. “Estou muito triste com o falecimento dela. Certamente, Clarinha marcou a minha vida e a história dela vai ser eterna em minha memória e de toda a equipe que cuidou dela ao longo desses anos”, disse o médico, com voz embargada.

Ao relembrar os anos que conviveu com Clarinha, ele disse que, apesar dela não interagir, ele conversava com ela e dizia: “Quando acordar e estiver sentada no cantinho da enfermaria vai falar assim: 'você está atrasado, estou esperando para ir embora'”.

Ele contou que Clarinha terá um velório e sepultamento digno, mas ainda não há uma data definida, considerando que é preciso esperar os trâmites legais, já que o corpo ainda está no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória.

A Polícia Científica informou que aguarda o andamento dos trâmites relacionados ao sepultamento iniciados pela Polícia Militar junto ao Ministério Público Estadual.

ENTENDA

Mais de 20 anos em coma

• Clarinha foi atropelada no dia 12 de junho de 2020, no centro de Vitória. Testemunhas, à época, contaram que ela estava fugindo de um perseguidor, também não identificado, e foi atropelada por um ônibus.

• Ela, que ficou em coma por mais de 20 anos, ganhou o apelido por indicação de uma das enfermeiras.

• Em 2022, as demandas relacionadas a ela passaram a ser encaminhadas ao 10º promotor de Justiça Cível de Vitória, Luiz Alberto Nascimento.

• Um dia antes dela morrer, o Juízo da 2ª Vara da Fazenda Pública Estadual e Municipal, Registros Públicos, Meio Ambiente e Saúde de Vitória julgou procedente o pedido para determinar que seja lavrado o assento de nascimento tardio da pessoa apelidada por Clarinha, no Cartório de Registro Civil – Comarca da Vitória.

• O coronel Jorge Potratz, que ao longo dos anos cuidou de Clarinha, prontificou-se a atuar como responsável. Acredita-se que ela não será enterrada como indigente.

• Será feita solicitação judicial para que sua certidão de óbito seja lavrada em nome de Clarinha, contendo informações como o local do sepultamento, além do registro fotográfico e papiloscópico, a fim de viabilizar eventuais esclarecimentos. Também será solicitada a coleta de material genético para eventuais exames.

• Foram centenas de tentativas frustradas para que ela fosse identificada. Somente ontem, três famílias entraram em contato com o MPES manifestando interesse na realização de exame de DNA com Clarinha a fim de confirmar possível parentesco. O Ministério Público busca junto aos órgãos competentes auxílio com relação a essas demandas.

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