Moraes “quase executado” e Braga Netto no comando
Informação está no relatório da Polícia Federal, que deflagrou, ontem, a Operação Contragolpe
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A trama golpista envolvendo um plano para assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes previa o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno no comando do gabinete de crise ou, como vem sendo chamado, “gabinete do golpe”.
A informação está no relatório da Polícia Federal, que deflagrou, ontem, a Operação Contragolpe. Documentos apreendidos apontam que a ideia era que esse gabinete fosse formado depois que Lula fosse envenenado — a organização criminosa acreditava que o estado de saúde do petista justificaria a morte após o crime.
A Federal atribui a Braga Netto envolvimento direto com a ação dos kids pretos mobilizados para o plano Punhal Verde e Amarelo. Ao pedir a abertura da Operação Contragolpe, a PF detalhou como oficiais literalmente seguiram os passos de Moraes — ainda que a ação tenha sido abortada no último instante.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse que a ofensiva chegou “muito perto” de matar autoridades. “Eu acabo de ler as duzentas e poucas páginas da representação da Polícia Federal. Em vários momentos chegaram muito próximo, rondaram o apartamento funcional do ministro Alexandre Moraes”, constatou.
A missão empregou até viaturas oficiais da Força Armada e foi acertada em reunião na casa de Braga Netto, diz a PF. O grupo intitulou de Operação “Copa 2022” o monitoramento do ministro no dia 15 de dezembro – a 16 dias da posse do então presidente eleito Lula.
Braga Neto seria peça-chave no plano de golpe de Estado, apontado como coordenador-geral de um hipotético “Gabinete Institucional de Gestão da Crise” após a ruptura.
Segundo a Federal, a reunião ocorreu no dia 12 de novembro – um mês antes da “Copa 2022”. No encontro, o “planejamento operacional para a atuação dos kids pretos foi apresentado e aprovado”. A reunião contou com a participação do tenente-coronel Mauro Cid, o major Rafael de Oliveira e o tenente-coronel Ferreira Lima.
A PF descobriu que, para ocultar as identidades dos militares mobilizados para o plano golpista, eles assumiram codinomes para o rastreamento de Moraes - “Gana”, “Japão”, “Argentina”, “Brasil”, Áustria” e “Alemanha”, países que participaram na Copa daquele ano.
Uso de arsenal de guerra
O plano dos kids pretos para matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes foi classificado por investigadores da Federal como um “verdadeiro planejamento com características terroristas”.
O esquema Punhal Verde e Amarelo detalha o uso de tropas, veículos e armamentos para executar as ações. E previa o uso de um arsenal bélico com granadas, metralhadoras e pistolas de uso militar no dia 15 de dezembro de 2022, data prevista para a execução do plano, que acabou abortado.
O documento foi encontrado em mensagens recuperadas do celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e que negociou delação para esclarecer a trama golpista. No arquivo, são detalhadas informações, segundo a PF, sobre os seguranças de Moraes e o poder de fogo que eles detinham.
A investigação aponta que fica claro, já nessa página, que o grupo estava disposto a matar Moraes, seus seguranças e até os próprios membros do plano golpista para cumprir a missão - o que eles classificaram como "danos colaterais passíveis e aceitáveis".
Além de pistolas, metralhadora e 12 granadas, o plano previa o uso de lança-rojão. Segundo a PF, a lista descreve “armamentos de guerra comumente utilizados por grupos de combate”.
OS MILITARES PRESOS
Rodrigo Bezzerra de Azevedo
Tenente-coronel da ativa. Único dos três militares do Exército que ainda não tinha sido alvo de operações da PF. Participou de missões no exterior.
Rafael Martins de Oliveira
Tenente-coronel da ativa, ele era conhecido como “Joe” e também fazia parte do grupo de kids pretos ao final do governo Bolsonaro.
Hélio Ferreira Lima
Tenente-coronel da ativa, foi exonerado do cargo de comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus, após ser alvo de operação.
Mario Fernandes
Promovido a general de brigada em 2016, passou para a reserva em agosto de 2020, quando comandava as chamadas Forças Especiais.
MAIS DETALHES
Apelidos também para os alvos
Ministro era “professora”
O grupo de militares preso, segundo a PF, criou um grupo na plataforma Signal — que destrói mensagens — para tratar sobre o suposto plano, nomeado “Copa 2022”. O grupo também adotou codinomes para se referir aos seus alvos: Lula era "Jeca", Alckmin "Joca", e Moraes era "professora".
No relatório da PF, um carro oficial do Exército foi usado para um trajeto entre Brasília e Goiânia no dia 15 de dezembro de 2022, data que “possivelmente, seria realizada a prisão/execução” de Moraes. O veículo oficial era vinculado ao Batalhão de Ações de Comandos.
Plano de golpe
Em relatório, a PF afirmou que houve um “planejamento minucioso para utilizar, contra o próprio Estado brasileiro, as técnicas militares para a consumação do golpe de Estado”.
A conclusão parte de uma troca de mensagens em que Mauro Cid e o coronel Bernardo Romão Correa Neto combinam encontros com as forças especiais em novembro de 2022. O objetivo seria refinar o planejamento e ampliar, entre os militares, a adesão à trama golpista. Um dos encontros dentro deste planejamento, segundo a PF, ocorreu em 12 de novembro de 2022 na casa do general Walter Braga Netto, que havia sido candidato a vice na chapa de Bolsonaro.
O plano
O documento de três páginas com o planejamento da ação foi impresso dentro do Palácio do Planalto em 6 de dezembro de 2022, durante a gestão Bolsonaro, pelo general da reserva Mário Fernandes, ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência e um dos presos ontem.
A ele, apontando como um dos militares mais radicais do entorno do ex-presidente, também é creditada a elaboração do plano.
Na delação, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid define o general Mário Fernandes, seu nome de guerra, como um dos militares mais radicais do núcleo golpista e defensor “incisivo” de um golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder.
No plano, alertam para a importância de escolher o método para a execução, se tiro ou envenenamento.
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