Após alto índice de abstenções, especialistas veem desinteresse do eleitor
Abstenção no segundo turno das eleições municipais atingiu 33,17% na Serra
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O alto índice de abstenções no segundo turno das eleições municipais chamou atenção em todo o País. Para especialistas, entre os motivos está o desinteresse de eleitores, crise na democracia e até o feriado do funcionalismo público.
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Na Serra, único município do Estado com segundo turno para prefeito, o número de ausentes corresponde a 33,17% do eleitorado que estava apto a votar no último domingo.
Em números absolutos, o dado chama ainda mais atenção: 242.267 compareceram, mas metade disso – 120.257 eleitores – não foram até os locais de votação.
O advogado e presidente da Comissão de Direitos Políticos e Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Espírito Santo (OAB-ES), Fernando Dilen, avalia que, primeiramente, o feriado do funcionalismo público – ontem –, influencia na abstenção.
“Muitos servidores públicos preferem viajar, aproveitando o feriado e não votam.”
Para ele, a solução passa por uma campanha mais efetiva de conscientização do voto, não somente pela Justiça Eleitoral mas por todos, como empresas, sindicatos, igrejas. “A democracia depende dos deveres cívicos de todos os brasileiros”.
Ele também defendeu o aumento do valor da multa eleitoral, que é de somente R$ 3,51, como forma de incentivar a participação democrática.
O advogado e doutorando em direito Josmar de Souza Pagotto salientou que, normalmente, se atribui a abstenção a um desinteresse do eleitorado de comparecer à votação, mesmo estando apto para o exercício do voto, e que pode ser ligada à crise da democracia, e do fato do eleitor não se sentir representado.
Ele pontuou, ainda, que a falta de eleitores nas urnas decorre da situação de que a democracia não faz um bom trabalho de representação do povo; das constantes ameaças da democracia, e de aspectos ligados à saúde, trabalho, mudança de endereço, sem transferência do título, por preferir manter o convívio com a família.
O advogado eleitoral, Marcelo Nunes, aponta que não acredita que a abstenção tenha relação com uma polarização política observada no País.
“A votação para presidente, por exemplo, em que se tinha alta polarização entre esquerda e direita, o número de eleitores que foram votar foi bem alto. É preciso pesquisar para saber o que levou o eleitor a deixar de ir às urnas”.
Estudo para combater a ausência
A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, afirmou que a corte se debruçará sobre os números de abstenção no segundo turno para entender as razões e como diminuir a ausência nas urnas.
A abstenção chegou a 29,26% dos eleitores no segundo turno, no último domingo (27). Em entrevista coletiva após o fim do segundo turno, a ministra ressaltou que cada região deverá ter suas especificidades apuradas.
“Há um aumento de abstenção no segundo turno. Tivemos casos climáticos, outros problemas. Vamos verificar e ver o que podemos aperfeiçoar. Vamos ter que apurar em cada local e trabalhar com os dados”, afirmou Cármen.
A abstenção deste ano ficou ligeiramente abaixo dos números de 2020, ano em que o País enfrentava a pandemia de covid-19. Na ocasião, 23,15% faltaram às urnas no primeiro turno, e 29,53%, no segundo.
Segundo a magistrada, houve cidades nas quais, do primeiro para o segundo turno, a abstenção aumentou neste ano, enquanto em outras o índice diminuiu, contrariando a tendência, apontada pela própria ministra, de crescimento do índice entre as etapas. “Houve municípios que tiveram 16% de abstenção e outros com 30%”, relatou.
Diante desses números, a presidente da Corte afirmou que o TSE vai se debruçar nas próximas semanas sobre os números específicos de cada local para entender como diminuir o índice para as próximas eleições.
A pesquisa deve ser feita pelos Tribunais Regionais Eleitorais e relatada à corte federal.
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