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Polícia

“O que vivi foi pior que pesadelo”, diz jovem que viveu 9 anos sequestrada pelo tio

Após passar nove anos vivendo em cárcere e sob ameaça do próprio tio, a jovem tenta retomar a vida junto de sua família


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Imagem ilustrativa da imagem “O que vivi foi pior que pesadelo”, diz jovem que viveu 9 anos sequestrada pelo tio
Jovem chora abraçada ao pai no dia em que foi resgatada. Na casa, no Sul da Bahia, polícia encontrou armas e munição |  Foto: Divulgação / Polícia Civil

Quase um mês após ter sido liberada do cativeiro onde viveu por mais de 9 anos, a jovem de 25 anos sequestrada pelo tio falou sobre como aos poucos tem tentado retomar a vida.

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Vivendo com a família em Rio Bananal, região Norte do Estado, ela se emocionou ao falar sobre a falta de esperança que sentia por não conseguir sair da situação de cárcere que se encontrava, diante das ameaças constantes do acusado contra ela e sua família.

Sequestrada aos 15 anos, ela relatou à polícia que foi impedida de frequentar a escola, sofreu violência sexual e chegou a engravidar do tio, mas o bebê morreu dias após o parto. “O que vivi foi pior que qualquer pesadelo”.

A jovem conseguiu pedir ajuda após finalmente ter ganhado um celular e entrar em contato com uma prima por meio de uma rede social.

Durante as buscas na casa em que ela vivia em cárcere privado, no município de Jucuruçu, no extremo Sul da Bahia, a Polícia Civil encontrou três armas de fabricação caseira, uma delas calibre 12, munições e um revólver calibre 38, além de documentos falsos.

O tio da vítima, Adenilson Lima da Silva, de 43 anos, foi preso.

A Tribuna Quase um mês após deixar a Bahia, como está?

Jovem -  Aos poucos estou retomando a minha vida, tenho conseguido sair de casa. Quero agora terminar os meus estudos.

Quando parou de estudar?

Eu terminei o ensino fundamental, quando fui sequestrada. Nunca frequentei escola depois disso. Agora o que mais quero é terminar os estudos, fazer o ensino médio.

Enquanto estava lá, tinha algum lugar que poderia ir?

Saía muito pouco de casa, ia no mercado às vezes comprar coisas, mas era longe, então ficava ainda mais difícil.

Qual foi o pior momento que você passou?

Sempre foi difícil. Ele nunca foi bom para mim, mas a pior parte foi a gravidez. Eu tinha 18 anos, na época. O bebê morreu 20 dias depois que nasceu. O médico desde o início sabia que ele tinha problema.

E como entrou em contato com a família para pedir ajuda?

Quando tive acesso ao celular, eu entrei em contato com uma prima. Eu pedi ajuda a ela e contei o que estava acontecendo.

Sabia que sua família te procurava?

Só depois que fui libertada que fiquei sabendo que o meu pai, desde o começo, me procurava. Meu pai sempre soube que eu não tinha ido porque eu queria.

Você estava sozinha em casa na hora que a polícia chegou?

Eu estava do lado de fora, fazendo as coisas, mas ele (tio) estava no terreiro também. Quando eu entrei para dentro de casa, a polícia já estava toda ali, mas ele tinha fugido.

Chegou a perder a esperança de sair de lá?

O que vivi foi mais que um pesadelo, porque um pesadelo a gente consegue acordar. Ali, eu não acordava nunca. Então tem momentos que perdi a esperança mesmo.

O que você falaria para meninas e mulheres que hoje passam por situações de violência assim?

Que elas são as únicas pessoas que podem socorrê-las. Não é fácil sair de uma situação assim. Só quem vive sabe que não é fácil (choro).

Tem muitos que ainda ficam julgando a gente. Perguntando por que a gente não tomou providência antes. Mas quem tem família, não pensa só em si. Ele ameaçava, então tem que ter coragem de tomar uma atitude.

Quando voltou para casa, o que mais sonhava em fazer?

Ah, ir na casa da minha avó. Lá era onde eu ia todos os domingos. A gente almoçava por lá. Minha família é muito unida, então minha avó ficou muito feliz em me ver. Estou recebendo muito carinho.

“Ele é um monstro”, diz pai de jovem sequestrada

Imagem ilustrativa da imagem “O que vivi foi pior que pesadelo”, diz jovem que viveu 9 anos sequestrada pelo tio
Casa no município de Jucuruçu, no extremo Sul da Bahia, onde Adenilson Lima da Silva (destaque) mantinha a sobrinha em cárcere |  Foto: Divulgação / Polícia Civil

Emocionado, o pai da vítima, 55 anos, conversou com a reportagem ontem e falou que, apesar do mistério do desaparecimento, nunca perdeu a esperança de encontrar a filha com vida.

“No começo, como pai protetor, eu sempre corri atrás. Foram 90 dias procurando, com boletim de ocorrência nas mãos, mas todos os recursos acabaram. Eu parei, mas nunca desisti dela. Foram quase 10 anos sofrendo. Ela estava com esse bandido que não é um homem, é um monstro”, disse o pai.

Os anos foram passando até que o que era esperança virou realidade: a filha fez contato com a família pelas redes sociais e o encontro aconteceu.

“Fabrício Lucindo foi um ótimo delegado. Eu só tenho que agradecer a ele e a equipe dele que trabalhou nessa operação. Foi muito gentil com a gente e continua sendo, prestando muito auxílio”.

Agora, o apelo que o pai faz é à Justiça. “Quero que esse monstro fique preso, fique na chave. Não podia ter liberdade para bandido”.

Ao voltar ao passado, ele relembra que mesmo sem notícia, sentia no coração que a filha não tinha fugido. “Sentia que ela estava sendo ameaçada”.

O acusado, que é irmão do pai da vítima, ficou 60 dias na casa com eles. “Antes ele não era tão próximo, mas nunca imaginei do que esse monstro era capaz”.

Agora, a família começa a escrever mais um capítulo para que, com muito amor e carinho, tente ajudar a vítima a recomeçar.

“Ela está recomeçando aos poucos, mas é um processo lento, passo a passo. Passar praticamente 10 anos nas mãos desse nojento”.

Ele recorda que no dia do resgaste, ao abraçar a filha, não sabia se chorava de tristeza ao ver o local que ela estava em cárcere privado ou de alegria pelo reencontro.

“Quando eu olhava para o lado e via aquele muquifo e chorava mais ainda. A minha filha não merecia aquilo, aquele ambiente nojento.”

ENTENDA O CASO 

Do desaparecimento ao resgate

- Em 2015, uma jovem, hoje com 25 anos, desapareceu de Rio Bananal e apesar das buscas da família e da polícia, ela nunca havia sido encontrada.

- Depois de quase uma década, ela conseguiu entrar em contato com familiares por redes sociais e pediu ajuda. O Ministério Público e a Polícia Civil montaram uma operação conjunta.

- Os policiais e o pai da vítima saíram de Rio Bananal às 3 horas do dia 19 de setembro com destino a Jucuruçu, no extremo Sul da Bahia, local onde o criminoso – tio da vítima, de 43 anos – mantinha a jovem em cárcere privado, segundo a polícia. A cidade fica a 450 km de Rio Bananal.

- Um dia depois, 20 de setembro, às 10h, os policiais civis realizaram a abordagem no local, porém o criminoso fugiu.

Choro no encontro

- A jovem estava na casa e, emocionada com a libertação, chorou muito, sendo amparada pelo pai.

- À polícia, a vítima contou que foi sequestrada por Adenilson Lima da Silva, em 2015, e que ele a violentou sexualmente. Após ser sequestrada, ela foi levada para Teixeira de Freitas (BA), local onde era mantida trancada e ameaçada o tempo todo.

- Ele dizia que, caso ela tentasse fugir, iria matar a família dela inteira.

Vigiada o tempo inteiro

- A jovem conta que só saía de casa acompanhada pelo criminoso e ele a vigiava o tempo todo, até com quem ocasionalmente conversava.

- Segundo ela, o tio nunca permitiu que ela fosse à escola, por exemplo. Quando Adenilson não estava em casa, ele deixava tudo trancado.

- Chegaram a mudar para Vitória, onde moraram por três anos. Posteriormente, foram para Jucuruçu, onde chegou com 18 anos. Sempre viajavam de carro.

A prisão

- No último dia 14, o acusado foi preso. Ele se apresentou acompanhado de um advogado na Delegacia Regional de Linhares.

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