4.678 tentativas de "golpe 0800” a cada hora
Golpistas usam aplicativos de mensagem e ligações telefônicas para enganar as vítimas e cometer crimes
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Uma mensagem de um suposto banco informa: uma compra foi realizada em seu nome. Para saber mais sobre a transação, basta ligar para a central de atendimento em um número 0800.
O telefone, na verdade, não é do banco, mas de criminosos que se passam por funcionários para enganar as vítimas e aplicar golpes.
Segundo dados do Datafolha e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada hora, 4.678 pessoas são alvo de tentativas de golpes financeiros no Brasil por meio de aplicativos de mensagem ou ligações telefônicas.
No mesmo período de tempo, cerca de 2.500 pessoas pagam por produtos na internet que acabam não sendo entregues, e outras 1.680 vítimas têm o celular furtado ou roubado no País.
Os números fazem parte de uma pesquisa realizada com 2.508 entrevistados em todas as regiões do País, entre os dias 11 e 17 de junho. O cálculo leva em conta a proporção de pessoas que relatam terem sido vítimas de crimes, num período de 12 meses, e o tamanho total da população.
As estimativas levam a um número de crimes maior do que se vê nos dados oficiais.
Mas a pesquisa Datafolha também mostra um alto índice de subnotificação dos crimes cibernéticos e até dos roubos e furtos de celular. Apenas 30% dos entrevistados que admitiram ter sido vítimas de golpes que envolveram Pix ou boletos falsos dizem que registraram ocorrência em delegacias, e 55% daqueles que tiveram o aparelho celular subtraído afirmam que fizeram boletim de ocorrência, por exemplo.
O pesquisador sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Leonardo de Carvalho ressaltou que os dados vêm mostrando algo que já vinha sendo percebido na prática: o aumento dos crimes de estelionato.
“Por causa disso, tivemos até a inclusão no capítulo do artigo 171, do Código Penal, a qualificadora do estelionato por meio eletrônico”, disse. Ele explicou ainda que, apesar dos golpes sempre existirem, a tecnologia tem aumentado o potencial de vítimas.
O titular da Delegacia Especializada de Crimes de Defraudações e Falsificações (Defa), Fabiano Alves, destacou que uma das orientações para se proteger de possíveis golpes é sempre desconfiar de propostas generosas e de ganhos muito altos, tanto de forma presencial, quanto na internet.
“Além disso, é preciso ter cuidado ao fornecer os dados pessoais para pessoas que não conhecem ou que entraram em contato via celular ou por mensagem”.
Até vídeo com a voz da vítima
Após ter a conta do Instagram invadida, uma modelo de 23 anos passou por um sufoco. Ela revelou que criminosos passaram a usar a sua conta para “anunciar” eletrodomésticos.
“Eles chegaram a fazer vídeo com a minha voz divulgando jogos de aposta. Postaram foto de contas fake falando que estavam ganhando dinheiro com aquilo. Depois, invadiram o WhatsApp e mandaram mensagem para meus contatos pedindo dinheiro”.
Mesmo avisando sobre o golpe a quem podia, ela relatou que duas pessoas fizeram transferências.
“A gente sente que não tem o que fazer. É horrível ter o nome usado”.
Saiba mais
Pesquisa
A Pesquisa de Vitimização e Percepção sobre Violência e Segurança Pública – 2024 foi divulgada esta semana pela Datafolha, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Foram ouvidas 2.508 entrevistas, entre os dias 11 a 17 de junho, considerando crimes nos últimos 12 meses.
Resultados
Sofreu alguma tentativa de golpe financeiro em aplicativos de mensagens ou por ligação: 26%.
Suspeitou da origem e autenticidade de mercadorias compradas na internet por preços inferiores aos praticados no mercado: 25%.
Foi vítima de tentativas de golpes feitas por aplicativos de mensagens ou por ligações envolvendo transferências, Pix ou boletos falsos: 25%.
Pagou por algum produto pela internet ou redes sociais que não foi entregue: 14%.
Foi vítima de golpe envolvendo o PIX ou de boletos falsos: 11%.
Recebeu notas de dinheiro falso: 9%.
Teve o seu celular furtado ou roubado: 9%.
Sofreu fraude contra o seu cartão de crédito: 7%.
Sofreu golpe em algum investimento que realizou após publicidade na internet: 7%.
Teve sua identidade ou perfil nas redes sociais invadidos e bloqueados: 6%.
Teve seu celular clonado para aplicação de golpes: 5%.
Teve seus dados pessoais divulgados na internet ou em redes sociais sem o seu consentimento: 5%.
Foi vítima do crime da “maquininha”, quando máquinas adulteradas de cartões de débito ou crédito desviam dinheiro das suas contas: 3%.
Como se proteger
1- Em compras pela internet, desconfie sempre de preços atrativos demais. Valores abaixo do mercado podem ser alerta para possível golpe ou ainda indicar produtos de procedência ilícita.
2- Nunca passe informações pessoais por telefone ou preencha as informações em sites duvidosos.
3- Nunca realize ligações para números de telefone (0800) recebidos através de mensagens. Ligue para o número da central de atendimento do seu banco.
4- Os bancos não pedem dados como senhas, token e outros dados pessoais em ligações. Além disso, nunca ligam e pedem para clientes que façam transferências ou Pix ou qualquer tipo de pagamento.
5- Ao receber uma mensagem de algum contato com um número novo, é preciso certificar-se que a pessoa é realmente ela. Não faça o Pix até falar com a pessoa.
6- Nunca entregue seu cartão a ninguém. Os bancos não pedem os cartões de volta, mesmo se houver a possibilidade de fraude ou defeito.
7- Confira o nome no cartão após realizar uma compra na maquininha.
8- Sempre ative a função “duplo fator de autenticação” em suas contas de e-mail, redes sociais, aplicativos de mensagem e outros.
9- Nunca clique em links desconhecidos e sempre confira a origem das mensagens ao receber promoções e e-mails do banco.
10- No caso de compras on-line, dê preferência a sites conhecidos e confira sempre se o endereço do site é o verdadeiro.
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