Consumidor paga até 5 planos para não ficar sem internet
Falhas na oferta do serviço são frequentes e levam clientes a diversificarem operadoras, o que aumenta os custos
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Falhas no serviço de internet obrigam moradores e empresários a contratarem até cinco planos diferentes para não correr o risco de ficar sem o serviço.
É o caso, por exemplo, da comerciante Verônica Kuster, dona de uma boutique na Glória, em Vila Velha. Ela conta que, devido às quedas constantes no sinal, precisa manter cinco planos diferentes para não ficar sem o serviço no decorrer do dia.
“Nosso maior fluxo são os clientes vindos da internet, por anúncio patrocinado, influenciadoras. Não posso correr o risco de ficar sem. Contrato dois planos pré-pagos, um controle, uma internet fixa e mais a rede da máquina de cartão”, conta.
Somados, os gastos com internet superam R$ 320 por mês. Caso mantivesse apenas o plano fixo, fazendo uso do wi-fi, a lojista economizaria cerca de R$ 190 mensais.
Na segunda-feira (04) mais um episódio semelhante ocorreu em bairros próximos ao centro de Vitória, como a Ilha de Santa Maria, que ficaram a tarde, por cerca de meia hora, com o serviço comprometido.
Um banco chegou a ter o sistema interrompido por alguns minutos. Leitores reclamam ainda que vários bairros de Vila Velha estão há dias sem o serviço.
O problema afeta a economia: cerca de 20% dos comerciantes têm problemas devido à instabilidade da conexão, segundo o diretor da Federação do Comércio do Espírito Santo (Fecomércio-ES), José Carlos Bergamin.
“É uma enorme dificuldade. Algumas operadoras entregam fibra ótica em umas ruas, outras não entregam. Algumas ruas têm linhas, outras precisam de satélite. É um atraso de tecnologia enorme e causa dificuldade para operar”, relata.
O problema é mais sério para empresas de pequeno porte, que dependem de estruturas coletivas e lutam com a precariedade da oferta, segundo Bergamin.
Dos 1.000 lojistas da Glória, cerca de 15% relatam ter problemas com a internet constantemente, segundo a presidente da Associação dos Comerciantes da Glória (Uniglória), Glenda Amaral. “Você perde a agilidade na hora da venda, muitas vezes quer consultar o estoque e não consegue, pois em alguns casos é em nuvem.”
As quedas também afetam quem trabalha de casa. É o caso da correspondente bancária Amanda Fernandes, moradora do centro de Vitória, que chegou a ficar três horas seguidas sem internet na última terça-feira, perdendo um dia de trabalho em home office.
Entenda
Custo a mais
Segundo o vice-presidente da Federação do Comércio do Estado (Fecomércio-ES), José Carlos Bergamin, cerca de 20% dos comerciantes têm atualmente problemas com a infraestrutura de internet, o que demanda soluções custosas.
Em vez de os comércios optarem por um bom serviço com um grande volume de banda, Bergamin conta que eles acabam fazendo três ou quatro contratos diferentes para conseguir operar.
Alternativas
a Associação Capixaba de Tecnologia (ACT!ON) relatou, por meio da assessoria, que empresas do ramo estão optando inclusive por serviço de internet via satélite para deixar de ter prejuízos com a instabilidade no serviço.
O professor e especialista em Rede de Computadores, João Paulo Chamon, conta que precisou contratar dois provedores de internet diferentes na própria residência para evitar ficar sem internet.
“E são dois provedores com tecnologias diferentes, uma com fibra ótica e outra com cabo metálico”, ressalta Chamon.
Relatos constantes
No centro de Vitória, os relatos de consumidores com problemas na internet são constantes, segundo o presidente da Associação de Moradores do Centro de Vitória (Amacentro), Lino Feletti.
“Não só de comércios, mas de moradores. Aqui em casa, por exemplo, teve um problema da Claro que durou um dia quase inteiro. Mas ouvimos mais ainda da Vivo, com pessoas constantemente perguntando se está tendo algum problema.”
Solução para o problema
Além dos canais oficiais das operadoras, o Procon e as vias judiciais, apontados pelo especialista em Segurança da Informação Eduardo Pinheiro, a melhor gestão da infraestrutura dos postes é apontada como essencial para a diminuição das interrupções, afirma Chamon.
Gestão melhor dos postes é a saída, diz especialista
Uma das soluções pensadas para resolver o problema das interrupções constantes no serviço de internet é a melhor gestão das fiações dos postes. É o que afirma o especialista em Rede de Computadores e professor da Faculdade UCL, João Paulo Chamon.
Segundo o professor, a confusão de fios e a falta de fiscalização na instalação deles provoca diversos problemas de infraestrutura.
“Na faculdade, por exemplo, nós trocamos de provedor há algum tempo, porque o antigo deixou o sistema fora do ar por cinco dias. Alegaram roubo de cabos. Tentávamos resolver e não conseguíamos. Depois de três episódios, mudamos para outra, com duas tecnologias diferentes”, relata.
Além da fibra ótica, a nova empresa prestadora do serviço também oferece um canal sem fio, via rádio, para casos de interrupção da infraestrutura via cabo. Obviamente, o custo do serviço é maior, estimado em 35% a mais, segundo o especialista.
Chamon cobra por mais atenção dos responsáveis por gerir e fiscalizar os postes.
“Mesmo que não sejam cabos subterrâneos, podemos organizar a aérea. A instabilidade que está sendo encontrada, grande parte, é pela não gestão.”
O professor e especialista em Segurança da Informação Eduardo Pinheiro explica que os consumidores que tenham dificuldades com o serviço de internet devem procurar as operadoras e, no caso de não haver uma solução pacífica, é possível acionar vias judiciais.
“Mas o mais importante é o usuário fazer o registro do consumo. Baixar o aplicativo da operadora e acompanhar o consumo dentro do plano de dados, por exemplo. Se houver alguma inconsistência, é bom estar documentado”, diz.
No caso dos serviços de internet móvel, um possível motivo citado por Pinheiro para oscilações na internet é a mudança da infraestrutura atual para a rede 5G, ainda em fase de implantação na região.
Operadoras negam falha no serviço
Questionada sobre as interrupções na internet, a Claro afirmou estar com os serviços operando normalmente na Glória, centro de Vitória e Ilha de Santa Maria, citados pela reportagem. A Vivo informou que “não foram detectadas falhas massivas na sua rede”.
Há subnotificação dos casos aos órgão de defesa do consumidor, segundo a diretora-presidente do Procon-ES, Letícia Nogueira. “A falha na prestação de serviço de internet banda larga afeta consumidores de todo o Estado. Porém, essas reclamações são pouco formalizadas nos órgãos oficiais.”
A Anatel ressalta que “as prestadoras têm o dever de comunicar à sociedade a falha (na prestação do serviço)”, por meio de central telefônica, site ou portal público.
A agência afirma que o consumidor prejudicado tem direito ao desconto no valor cobrado pelo serviço ou direito à devolução do valor pago pela prestação, proporcionalmente ao serviço não recebido.
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