Vida nova após transplantes: “Fui desenganado duas vezes”, diz empresário
Wellington Vomoca, que foi diagnosticado com leucemia mieloide aguda, passou por transplante inédito há 6 meses e hoje vive bem
Escute essa reportagem
Diagnosticado há um ano com uma leucemia mieloide aguda, o empresário Wellington Vomoca Cardoso, 48 anos, hoje contabiliza a luta e a corrente do bem formada em números expressivos.
Foram mais de 300 dias internados, mais de 200 bolsas de sangue recebidas, dois momentos em que chegou a ser desenganado, 50% de compatibilidade de uma medula possível e seis meses completos desde o transplante que lhe deu uma nova chance para ver os dois filhos crescerem.
Ele foi o primeiro paciente a realizar no Estado, em novembro do ano passado, um transplante alogênico aparentado haploidêntico, em que a medula óssea a ser transplantada tem 50% de compatibilidade com o receptor.
Até então, esses procedimentos eram realizados fora do Estado. A cirurgia, feita no Centro de Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas do Hospital Santa Rita, e hoje Wellington já tem voltado a atividades, que ainda requerem cuidados e monitoramento.
A Tribuna- Como descobriu a doença?
Wellington Vomoca- Fui diagnosticado há cerca de um ano. Eu busquei um médico nutrólogo após começar a me sentir menos resistente na prática de esportes que sempre fiz, como jogar bola, pedalar e nadar.
É atleta?
Eu sempre pratiquei esportes diariamente, sempre fui regrado, me alimentei bem, mas estava sentindo o rendimento cair. O nutrólogo pediu exames e reparou que minhas plaquetas estavam baixas, em uma linha de risco para investigação. Me pediram mais exames e, depois disso, já me seguraram no hospital até chegar ao diagnóstico.
Já sabia que precisaria de um transplante?
Cerca de uma semana depois já sabia. Iniciei o tratamento, chamei meus cinco irmãos para fazer o teste de compatibilidade. Ninguém foi 100% compatível, no que era necessário. Dois irmãos meus eram 50% compatíveis, o que não era o ideal.
Isso já foi um baque?
Sim. Eu já não tinha muito tempo a perder. Me encaixaram no Banco Mundial de Medula. Depois de 90 dias de tratamento, com quimioterapias fortes, encontraram uma pessoa da Alemanha com compatibilidade. No entanto, quando ele foi fazer exames, não estava com a saúde apta a doar.
Tinha como esperar outro?
Na verdade, começou então uma busca incessante por remédios para tentar prolongar ao máximo a minha vida, pelo menos até conseguir achar um outro doador ou ver se aquele da Alemanha voltasse a poder doar.
Você chegou a desanimar em algum momento?
Eu sempre tive muita fé e me apegava a isso. Me apeguei a pessoas que passaram por isso e conseguiram, mesmo com chances pequenas.
Nesse tempo todo, esteve internado?
Praticamente todo o tempo. Saía do hospital e, no dia seguinte, já tinha que voltar. Chegou ao ponto que eu fui desenganado duas vezes, liberado para casa. Mas eu ia buscando especialistas, ouvindo mais opiniões.
Nunca desistiu...
Era muita vontade de querer estar junto dos filhos. Eu cheguei a fazer sete quimioterapias e, em todas elas, eu tinha que lidar com o imprevisível e não saber o que ia acontecer, porque eu estava já muito debilitado.
Quando fez o transplante?
Quando as equipes entenderam que era a minha única alternativa. Mesmo doente, a minha melhor chance era fazer o transplante com o meu irmão, que era 50% compatível. Não era o ideal, as chances eram pequenas, mas era a única chance de tentar. Eram os 50% ou zero. Me apeguei a essa metade e fiz o transplante aqui.
E como foi a recuperação?
É um processo que requer um monitoramento e cuidados intensos, principalmente nos 100 primeiros dias. Eu cheguei a tomar 60 comprimidos por dia, como imunossupressores, antivirais e antifúngicos. Hoje ainda mantenho uns cinco por dia.
O que já conseguiu retomar após o transplante?
De forma moderada tenho já voltado a pedalar, caminhar, por exemplo. Estou indo à academia em horário que não tem ninguém. No próximo mês devo ser liberado a voltar a correr. No trabalho também tenho voltado a estudar o mercado.
Hoje eu enxergo a vida com mais de atenção e amor. Temos conversado até com outras pessoas que receberam o transplante para, de alguma forma, conscientizar as pessoas da importância do cadastro no banco de medula. É algo tão simples, mas que pode salvar toda uma família, já que todos passam juntos pelo câncer.
Comentários