Pesquisa feita com 1.000 idosos revela que DNA influencia no peso
Cientistas descobriram que variações do gene NOTCH1 podem influenciar a maneira como o corpo armazena gordura
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Um estudo inédito conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) identificou novas variantes genéticas associadas ao excesso de peso e obesidade em idosos.
A pesquisa revelou que um conjunto específico de genes, conhecidos como haplótipos, está mais presente em pessoas mais velhas com sobrepeso.
Realizada pelo pesquisador e doutor em Biotecnologia pela Ufes Estevão Barcelos durante o seu doutorado, a pesquisa teve colaboração de outros pesquisadores da Ufes, da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Perúgia, na Itália.
Orientada pela professora Flávia Errera, do Núcleo de Genética Humana do Departamento de Ciências Biológicas, a pesquisa se concentrou no gene NOTCH1, que desempenha um papel no desenvolvimento humano e no controle do metabolismo.
Os pesquisadores descobriram que variações nesse gene podem influenciar a maneira como o corpo armazena gordura e controla a massa muscular. Mas a influência dessas variantes no excesso de peso ainda precisa ser determinada.
“A herdabilidade, ou seja, o quanto a variação genética contribui para o excesso de peso, é variável e tende a ser maior quanto maior for esse excesso. O problema pode ser causado por uma única ou poucas variantes genéticas em até 15% das famílias. Porém, na maioria das pessoas e suas famílias, o excesso de peso é multifatorial, tem uma origem complexa e depende de uma interação ainda pouco conhecida entre o ambiente e os nossos genes”, destaca a professora.
“Sabemos ainda que os hábitos de vida são capazes de alterar a expressão de muitos genes de forma positiva ou negativa”, afirma Flávia.
Os 1.024 idosos avaliados, com idade entre 59 e 99 anos, fazem parte do Projeto Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (Sabe), da Organização Pan-Americana de Saúde, realizado na cidade de São Paulo.
“Os resultados permitem identificar indivíduos com maior risco genético de desenvolver excesso de peso, possibilitando intervenções preventivas personalizadas. Isso é particularmente relevante para a população brasileira, que tem enfrentado mudanças na dieta nas últimas décadas, com o aumento do consumo de fast food e dietas ricas em gorduras e açúcares”, destaca Estevão.
“Iremos avaliar os novos dados coletados dos pacientes e planejar experimentos em laboratório para investigar o mecanismo por trás dessa variante genética e quais fármacos podem ser utilizados”, completa.
Perda de massa muscular preocupa
Não é apenas a obesidade na população idosa que tem preocupado especialistas ligados à saúde. A sarcopenia, caracterizada pela acelerada perda de massa e força muscular, também tem sido motivo de alerta.
Cerca de 15% dos brasileiros têm sarcopenia a partir dos 60 anos de idade, chegando a até 50% após os 80 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
“O aumento da gordura corporal, associado à perda progressiva da massa muscular, conhecida como sarcopenia, e alterações metabólicas são eventos cada vez mais comuns relacionados à idade e têm sido objeto de estudo em todo o mundo, devido à sua forte relação com o aumento do risco de eventos cardiovasculares e várias outras doenças, incluindo o declínio cognitivo”, destaca a professora Flávia Errera, do Núcleo de Genética Humana do Departamento de Ciências Biológicas da Ufes.
“Evitar a perda de músculos é tão ou mais importante quanto controlar o ganho de gordura, e o gene NOTCH1 parece ser central para a comunicação entre músculo e gordura, bem como músculo e cérebro”, afirma a professora.
Evidências mostram, de acordo com Flávia, que a educação voltada para uma alimentação equilibrada, com quantidade adequada de proteínas, a prática de atividades físicas regulares e intencionais, com alongamentos e descansos, sono adequado, o controle do estresse, por exemplo, ajudam a preservar e aumentar a massa muscular.
FIQUE POR DENTRO
Pesquisa
Um estudo inédito avaliou mais de três mil variantes de sequência de DNA do gene NOTCH1, que codifica um receptor celular crucial para o desenvolvimento humano e que parece ser um novo regulador do metabolismo.
A pesquisa, realizada por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em colaboração com outros pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Perúgia, na Itália, também mostrou, por análises computacionais, que as variantes alteram a atividade do NOTCH1 e de outros genes relacionados ao metabolismo e também à expansão do tecido gorduroso.
Avaliações
Os 1.024 idosos avaliados, com idade entre 59 e 99 anos, fazem parte do Projeto Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (Sabe), da Organização Pan-Americana de Saúde, realizada na cidade de São Paulo. Eles tiveram amostras de sangue coletadas para a pesquisa. Dos avaliados, 424 tinham sobrepeso (41,4%) e 320 obesidade (31,25%).
Resultados
Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Scientific Reports, do portfólio Nature, e podem ampliar o conhecimento sobre o complexo papel dos genes no desenvolvimento do sobrepeso e da obesidade.
De acordo com o pesquisador Estevão Barcelos, o entendimento dos fatores genéticos envolvidos no excesso de peso pode auxiliar na identificação de grupos de risco e na implementação de intervenções preventivas específicas, como dietas e programas de atividade física personalizados, visando prevenir doenças metabólicas e condições associadas ao envelhecimento.
Próximos passos
Segundo Estevão, os próximos passos incluem analisar como as variantes genéticas se relacionam a condições associadas a doenças metabólicas, como dislipidemia, resistência insulínica e fragilidade em idosos.
Além disso, eles querem investigar como essas variantes estão associadas ao excesso de peso em relação às dietas comuns na população brasileira.
A ideia dos pesquisadores, segundo Estevão, é recrutar alguns jovens para uma abordagem combinada, mas ainda não há data para esse recrutamento, que depende de financiamento.
Fonte: Ufes e pesquisador Estevão Barcelos.
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