Pacientes buscam até internação para tratar vício em jogos no ES
De acordo com médicos, há quem tenha perdido 400 mil reais em jogos on-line
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O vício em jogos de azar não pode ser considerado frescura. Pelo contrário, é uma doença classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS): a ludopatia.
No Espírito Santo, há até caso de internação para tratar vício em jogos, junto com transtornos mentais, como depressão.
A médica Nathália Gonring Sandoval, por exemplo, disse que a procura por ajuda tem aumentado. Em um dos casos, um paciente precisou de internação após perder R$ 100 mil em jogo de azar on-line em um período de três meses.
“No caso mais recente foi necessária internação. Um administrador, de 25 anos, casado, com um filho, entrou em quadro depressivo ansioso após adquirir dívida. Ele perdeu a casa onde morava, colocando toda a família em situação de risco por causa de um jogo de azar em app (aplicativo). Ele ficou quase um mês internado”.
Ela explica que a dependência em jogos eletrônicos se manifesta quando o controle sobre o tempo e a frequência de uso é perdido, sendo reconhecida como uma possível condição psiquiátrica moderna.
“Se o ato de jogar está afetando qualquer área importante da vida do indivíduo, como sua saúde física, mental ou social, é preciso buscar uma avaliação médica”.
O psiquiatra Valdir Campos também tem pacientes que buscaram ajuda por causa do jogo patológico, sobretudo aqueles que têm até 30 anos e do sexo masculino, embora ele perceba um aumento de casos entre adolescentes, mulheres e até idosos.
Um empresário de 28 anos é um dos pacientes. “O jogo trouxe problemas dentro da família, perdas financeiras, comprometendo até o casamento, pois ele acabou penhorando o apartamento e bens que tinha por causa de uma dívida de jogo no valor de R$ 400 mil”.
Dependência
Sobre a internação, que não foi o caso do empresário, Valdir Campos explica que ela ocorre em casos geralmente quando está associada à dependência de álcool e outras drogas ou então quando o paciente tem uma outra doença mental, como transtorno bipolar.
Ele destaca que geralmente quando é só o jogo patológico, é possível o tratamento ambulatorial. “As internações são mais raras, mas podem ocorrer até de forma involuntária requerida pela família. Nesse caso, é preciso de laudo médico comprovando a necessidade”, destacou.
Saiba mais
A ludopatia
É uma condição médica caracterizada pelo desejo incontrolável de continuar jogando. A doença é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e no Brasil tem CID: 10-Z72.6 (mania de jogo e apostas) e 10-F63. 0 (jogo patológico).
Ela funciona no mesmo mecanismo que a dependência de álcool ou drogas. É causada pelo desenvolvimento da fissura, que é o desejo incontrolável de jogar ou apostar.
Alguns sinais
Sentir-se inquieto ou irritado quando tenta reduzir o jogo;
Jogar sob o argumento que precisa escapar de problemas ou aliviar sentimentos de desamparo, culpa, ansiedade ou depressão;
Tentar recuperar o dinheiro perdido apostando mais;
Pedir ajuda financeira ou empréstimos.
“A sensação é de frustração”, diz jovem
Há um ano, uma jovem de 28 anos conheceu o Fortune Tiger, popularmente chamado de “jogo do tigrinho”. No último sábado (13), sentindo que a sorte estava do seu lado, ela foi apostando, mas perdeu cerca de R$ 900.
O governo federal prepara normas para tentar evitar que pessoas se tornem dependentes e compulsivas em apostas esportivas e jogos on-line. Nos próximos 15 dias, o Ministério da Fazenda deve concluir a definição das regras para as plataformas de apostas (popularmente conhecida como bets) e jogos de apostas on-line. As normas entrarão em vigor a partir de janeiro de 2025.
Até o fim do ano, as empresas têm um prazo para se regularizar no Brasil. Os sites que forem aprovados pelo governo poderão ser identificados pelo domínio ‘bet.br’.
À reportagem, a jovem contou que está arrasada por ter perdido todo o dinheiro que recebeu trabalhando na área de estética.
A Tribuna - Quando começou a jogar on-line? Já ganhou?
Jovem - "Comecei há cerca de um ano. Apesar de ganhar algumas vezes eu pegava o dinheiro e apostava de novo, só que perdia. Somando, devo ter perdido mais de R$ 5 mil nesse período. O último foi no sábado."
- O que aconteceu?
"Eu recebi R$ 900, cheguei em casa e separei o dinheiro para pagar as minhas despesas. Só que decidi apostar R$ 50, mas perdi.
Apostei mais R$ 100 e perdi de novo. Depois eu fui apostando, pois no fundo eu sentia que a sorte estava do meu lado, mas quando vi já tinha feito transferências de Pix de todo o dinheiro que eu tinha recebido no trabalho. Já era tarde demais."
- Esse dinheiro tinha destino?
"Pior que sim. Parte dele, R$ 750, seria para pagar o aluguel da minha casa e o restante para fazer algumas compras no supermercado. Fiquei sem nada."
- Acha que é viciada?
"Acho não, eu tenho certeza que estou viciada. Passei o final de semana muito angustiada, chorei e decidi que nunca mais vou jogar. A sensação é de frustração."
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