Glecy Coutinho: “O cinema e o teatro mudaram a minha vida”
Glecy Coutinho, que cresceu em João Neiva, já atuou como atriz, jornalista, professora, roteirista e diretora de cinema
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Meu sonho sempre foi ser professora, mas a vida também me trouxe outros caminhos. Sou uma mulher da arte, cultura e comunicação.
Nasci em Aimorés, Minas Gerais, mas me mudei para João Neiva quando tinha seis anos. Lá, tive um contato importante com algo especial: o cinema.
Ao longo da minha trajetória, conheci muitas pessoas, tive experiências em várias áreas profissionais, e o cinema e o teatro mudaram a minha vida.
Todas as noites rodavam filmes e a sala lotava nos anos 40. Naquela época, eram todos em preto-e-branco, e a maioria tinha a temática de faroeste, eram dos Estados Unidos.
Eles costumavam mudar todos os dias, mas se um agradasse ao público, ficava por um a dois dias para a população assistir.
O dia em que fui ao cinema pela primeira vez assisti ao filme “O Filho de Tarzan”, em 1942. Na Grande Vitória, tinha cinema no Bairro de Lourdes, Jardim América, São Torquato e Jucutuquara.
Eu me lembro que o primeiro filme de rock, “Ao Balanço das Horas”, passou em Jucutuquara e eu assisti. Em Vitória existia uma empresa que tinha um acordo de mandar os filmes de trem.
Eles iam e voltavam de trem para passar em outras cidades. Havia muito mais lugares para cinema do que hoje. Os anos 50 até o final dos 60 eram a época áurea dos filmes aqui.
Teatro
Eu trabalhei em muitas áreas. Em João Neiva, me tornei professora de alfabetização. Depois, em 1958, fiz um curso de Artes do governo federal em São Paulo. Após um ano de estudos, voltei para o Estado. Em 1959, me casei e me mudei para Vitória, passei a dar aula no Pavilhão de Artes que foi criado anexo ao atual Vasco Coutinho, em Vila Velha.
Infelizmente, em 1963 o meu marido faleceu e, a partir daí, fui morar com as minhas três crianças pequenas junto aos meus pais em Cariacica. Em 1964, ingressei em um veículo de comunicação e expandi minhas experiências como profissional. Ao longo desse tempo, a arte me acompanhava. Eu fazia parte do grupo de teatro Praça Oito e participei de muitas peças teatrais.
Acho que os anos 60 foram anos maravilhosos em Vitória! Aconteciam muitos festivais aqui, vinham artistas do Rio de Janeiro e São Paulo constantemente para se apresentar, tínhamos muitas peças de fora no Teatro Carlos Gomes, era impressionante a quantidade. E muitos filmes passavam lá também.
Comunicação
Fiz vestibular e passei para estudar na primeira turma do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em 1975. Na época, não era uma turma muito grande, tinha uns 20 alunos, e muitos deles eram mulheres.
Uma mulher que estudou comigo foi a jornalista Miriam Leitão. Depois que me formei após quatro anos de estudos, passei a dar aula nas matérias de Rádio e Televisão do curso na Ufes. Eu fiz amizade com alunos e tive ótimos estudantes. Foi um bom período.
Filme
Eu era louca por cinema. Minha mãe gostava muito e sempre contava sobre filmes para mim. Além de assistir, coloquei uma ideia em ação: fiz roteiro e dirigi um filme chamado “Eu sou Buck Jones”, que é a história de um garoto que eu conheci quando era criança. Quando nos mudamos para João Neiva, ele ajudou o carroceiro a levar as nossas coisas para nossa casa.
Buck Jones era um ator que fez muitos filmes e morreu em um incêndio ajudando a salvar crianças. O menino era louco pelo artista. E assim foi feito o filme.
O ator que interpretou Buck Jones ganhou prêmio de Ator Revelação pelo Vitória Cine Vídeo. Nesse mundo de filmes, tive uma grande parceira, a Margarete Taqueti.
E outro filme que fiz junto a ela sendo roteirista e diretora foi “A Passageira”, que ganhou o prêmio de Melhor Roteiro e também o de Júri Popular pelo mesmo festival.
Quem é
Glecy Helena Coutinho, de 90 anos, é jornalista, escritora, atriz, cineasta e professora.
Fez parte da primeira turma de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), do ano de 1975. Após formada, deu aulas de Rádio e TV.
Já foi diretora do Departamento Estadual de Cultura (DEC), que hoje é a Secretaria de Estado da Cultura.
Foi roteirista e diretora de filmes, como o curta “Eu sou Buck Jones”, de 1997.
Depoimento à repórter Daniela Esperandio.
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