Médicos defendem novas regras na venda de injeções para perder peso
Médicos defendem mais rigor no uso dos medicamentos, que hoje são vendidos em farmácias sem necessidade de receita
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O número crescente de casos de falsificações de Ozempic (semaglutida) levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a emitir um alerta sobre os produtos com sinais de adulteração.
A popularização das canetas, conhecidas pelo uso para diabetes e para emagrecer, também tem levado médicos a defenderem mudanças nas regras para comercialização dos medicamentos.
Hoje, as canetas são vendidas em farmácias sem a necessidade de receituário especial ou retenção da receita.
Há alguns dias, a Anvisa chegou a se manifestar sobre possível avaliação de controle mais rigoroso.
Um projeto de lei que tramita na Câmara Federal também quer a exigência de controle sanitário especial para os medicamentos que contenham semaglutida, como o Ozempic e Wegovy. Nesse caso, conforme a proposta, será necessária a retenção da receita.
A endocrinologista e professora da faculdade de Medicina da Multivix, Lusanere Cruz, ressaltou que as medicações originais são seguras, mas não são para todos.
“O uso deve ser acompanhado de perto por um médico. A comercialização deve acontecer como os antibióticos, com a necessidade de receita especial”.
Lusanere fez um alerta para casos também de uso de implante (chip) de semaglutida, sendo que o remédio não perdeu a patente.
“Ou seja, era uma falsificação ou contrabando. Há anúncios até em rede sociais. Manipulações precisam de maior rigor”.
A médica endocrinologista e pesquisadora Camila Pitanga Salim defende controle maior para a venda, com prescrição e receita médica.
A presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional Espírito Santo, Priscila Pessanha Faria, destacou que a sociedade tem defendido uma necessidade de maior fiscalização na compra da medicação mediante receita médica. “Sabemos que a compra da medicação até então é liberada sem receita”.
O cirurgião e nutrólogo Roger Bongestab aponta que a compra sem receituário médico retido hoje é um problema no País. “No Brasil, é desenfreada a busca de medicação. Isso só alimenta a facilidade de buscas de pessoas fazerem um mercado paralelo com falsificações, algo que é muito sério”.
ENTENDA
Polícia investiga falsificação
Falsificações
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fez um alerta, na última semana, de falsificações do Ozempic (semaglutida), voltado para diabetes tipo 2 e conhecido também pelo uso como emagrecedor.
O indício é que canetas de insulina estão sendo readesivadas e reaproveitadas com rótulos de Ozempic. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil no Rio de Janeiro.
Em junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também já tinha feito alerta para o aumento de falsificações dos medicamentos.
Como identificar fraudes
A caneta de Ozempic é de cor azul clara, com o botão de aplicação cinza. Já canetas de insulina Fiasp são de cor azul escura, com botão laranja.
Falsificações podem ter embalagem rasurada ou visivelmente alterada, em idioma estrangeiro.
É PRECISO ficar atento aos preços muito abaixo dos praticados no mercado regular de farmácias e drogarias do País.
Outro sinal são adesivos e indicações de “nova fórmula” ou informações semelhantes – a Novo Nordisk não lançou nova fórmula de Ozempic desde sua chegada ao mercado.
Canetas de Ozempic 1mg com numerações no seletor de dose diferentes de 0mg e 1mg também podem ser fraudadas.
Fonte: Anvisa.
Sensação de desmaio e tontura
No lugar de medicamentos usados para tratamento de diabetes e obesidade, canetas falsificadas de Ozempic escondiam uma outra substância: a insulina. O golpe está em investigação pela Polícia Civil do Rio de Janeiro e já fez diversas vítimas. Elas relatam sensação de desmaio, fraqueza e tremores. Uma das vítimas foi parar na UTI.
A farmacêutica Novo Nordisk informou que foram identificados casos de falsificação de Ozempic no Rio de Janeiro, além de casos isolados em outros estados. Há indícios de que canetas de insulina de uma marca foram readesivadas com rótulos de Ozempic.
Uma paciente, em entrevista na última semana a um programa de TV, afirmou que está traumatizada. “Apliquei às 8 horas. Depois de 15 minutos comecei a me sentir tonta. Deitei no chão, botei as pernas para cima, achando que tinha caído minha pressão”.
A médica endocrinologista e pesquisadora Camila Pitanga Salim destacou que, em geral, medicações falsificadas podem ter eficácia comprometida e resultar em reações adversas graves e não esperadas, causando complicações serias de saúde.
Vem aí opção que pode ser aplicada uma vez por mês
A farmacêutica responsável pelos medicamentos Ozempic e Wegov – para diabetes e obesidade – firmou parceria para desenvolver versões com aplicação mensal. Hoje as medicações têm aplicação semanal.
Em comunicado, a Novo Nordisk revelou que assinou acordo de colaboração com a Ascendis Pharma para desenvolvimento e comercialização de produtos.
O agonista do receptor de GLP-1 (como a semaglutida) administrado mensalmente será o principal candidato a produto da colaboração, que inicialmente terá como alvo a obesidade e o diabetes tipo 2.
A colaboração aproveita as tecnologias TransCon, da Ascendis, e a expertise da Novo Nordisk em doenças cardiometabólicas.
“Desenvolver potenciais terapias que possam ser administradas com menos frequência pode beneficiar tanto a sociedade quanto os pacientes individualmente” disse Brian Vandahl, vice-presidente Sênior de Tecnologias Globais de Pesquisa da Novo Nordisk.
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