Dia da Consciência Negra: tranças viram símbolo de autoestima
Além de deixar o visual poderoso, elas são fonte de renda para muitas mulheres. Há trancistas que faturam R$ 50 mil por mês
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Símbolo de resistência, cultura e beleza, a trança no cabelo não só transforma o visual, mas também a autoestima de muitas pessoas, principalmente de mulheres pretas.
“Ela gera reconhecimento e empoderamento feminino. É uma porta de entrada para um novo mundo. Dá uma potência sem outra igual à mulher, que passa a sentir que pode tudo”, afirma a trancista Viviane Teobaldo, que mudou o visual de Jessica Vicente.
Mais conhecida como Vivis, a profissional ressalta que houve todo um sistema que colocou os traços das pessoas pretas como estranhos e exóticos.
“No geral, as mulheres são criadas para se odiarem e usar produtos e químicas. A mulher preta tem a autoestima ainda mais afetada, porque não somos ensinadas a gostar do nosso próprio cabelo”.
A trancista ainda apresenta as facilidades que esse estilo de cabelo traz para a mulherada. “Cuidar de trança é muito fácil. A touca de cetim é a melhor amiga de quem usa trança, porque ela reduz o frizz”, conta.
Desde 2019, as tranças furaram a “bolha” e foram aderidas por pessoas de outras ascendências. “Mas foi preciso muita luta e resistência para elas serem aceitas”, salienta Vivis, que iniciou no ramo nesse mesmo ano.
Hoje, há trancistas que faturam mais de R$ 50 mil por mês. A analista do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Rarici Ziviani ressalta que muitas mulheres, principalmente as pretas, descobriram nas tranças uma fonte de renda.
“É um nicho que tem se destacado dentro do setor de beleza. A trancista precisa de produtos e acessórios específicos e existe a necessidade de cursos profissionalizantes, então movimenta toda uma cadeia. O Sebrae tem promovido ações voltadas para o empreendedorismo negro como um todo”.
A administradora Mayra Cristina encontrou no talento de fazer tranças uma forma de conseguir uma renda extra. “Iniciei em 2022, como um hobby, elas são uma terapia. Mas, no início deste ano, decidi abrir uma página na internet e divulgar esse serviço, depois de receber muito incentivo”.
Quem não dispensa um visual cheio de estilo é a servidora pública Aline Silva, 26. “Ao longo da minha infância, eu e minha irmã usávamos tranças nagô em ocasiões especiais. Foi no ensino médio que ressignifiquei as tranças como parte de mim e da minha identidade”.
Poder de transformação
O trabalho como trancista é a principal fonte de renda de Juliane Sátiro, que iniciou no ramo em 2021. Contudo, seu próprio negócio foi aberto apenas há um ano e meio.
“Comecei com uma cadeira, um espelho e um sonho. Até conseguir uma cliente fixa foi difícil, mas foi onde eu me encontrei”, lembra, de forma bem-humorada.
Ela ressalta o poder que as tranças têm em transformar a autoestima de mulheres. Os trabalhos podem durar até oito horas.
“Às vezes, as mulheres chegam tristes, porque estão passando por uma transição capilar. Quando termino o serviço e vejo aquele sorriso, me sinto realizada”.
A professora Veruska Vieira, 36, optou pelo estilo de tranças gypsy braids, que está super em alta.
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