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Cidades

Cirurgia estética não é para todos, dizem médicos

Procedimento para tratar o lipedema é indicado quando há alteração na mobilidade, como a artrose


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Imagem ilustrativa da imagem Cirurgia estética não é para todos, dizem médicos
A dançarina Luana Andrade, de 29 anos, morreu após ser submetida a uma lipoaspiração para tratar o lipedema |  Foto: Reprodução/Instagram

Ainda que pouco falado, o lipedema, acúmulo de gordura em regiões como pernas e braços, pode ser doloroso e é uma doença crônica. Atinge quase que exclusivamente mulheres, só que muitas confundem a doença com celulite e até mesmo obesidade.

Nos últimos dias, o lipedema ganhou ainda mais repercussão após a morte da influenciadora, assistente de palco e dançarina Luana Andrade, de 29 anos, ocorrida na terça-feira (07).

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Isso porque a maquiadora Brenda Paixão revelou que a amiga passou pela lipoaspiração por causa da doença. Mas médicos alertam: a cirurgia não é indicada para todos os casos de lipedema

Segundo Brenda, Luana tinha vontade de fazer a cirurgia desde a época do “Power Couple”, programa de TV que participaram juntas.

“Sempre foi sua vontade remover, falou sobre isso comigo algumas vezes, trazia muitas inseguranças para ela”, revelou a maquiadora em suas redes sociais.

Porém, o cirurgião vascular Brenno Seabra explica que o tratamento para o lipedema, inicialmente, é clínico, sendo a cirurgia indicada logo de início para os estágios mais graves da doença.

“Nesses casos, de estágio 3 e 4 da doença, a cirurgia é indicada quando há alterações de mobilidade, como artrose, impedindo a paciente de andar e causando muita dor local. A principal indicação não é estética, mas funcional, em pacientes mais graves. Pacientes com estágios 1 e 2, a cirurgia não seria a primeira indicação”, destaca o médico.

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|  Foto: Divulgação/Rodrigo Gavini

Para os casos menos graves, Brenno afirma que o tratamento seria mudança no estilo de vida, atividade física e tratamento de outros fatores que podem causar a doença.

A cirurgiã plástica Patricia Lyra explica que a cirurgia não é indicada sem que o paciente passe antes pelo tratamento. “Isso não é estética, é doença. O objetivo da cirurgia é tirar maior quantidade possível de tecido doente”.

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|  Foto: Divulgação

A médica destaca ainda que a cirurgia de lipedema envolve apenas lipoaspiração. “Tudo leva crer que a cirurgia da Luana não foi de lipedema, porque não envolveu só lipoaspiração. Ela teve um embolia maciça, e isso é muito comum quando se faz lipoenxertia, que tira a gordura de um lugar e injeta no músculo ou em outras áreas. Tudo leva a crer que foi isso”, explica a cirurgiã plástica.

A cirurgiã vascular Aline Lamaita alerta que o diagnóstico incorreto do lipedema atrasa o tratamento, agravando o quadro, o que pode levar a dificuldades de locomoção, linfedema, disfunções circulatórias, como insuficiência venosa, e até problemas ortopédicos nos joelhos, seja pela sobrecarga ou alteração da própria articulação.


Fique por dentro

Lipedema

Doença crônica e progressiva caracterizada pela deposição anormal de gordura em membros inferiores e, às vezes, pode acometer membros superiores. Atinge quase que exclusivamente mulheres e tem início na puberdade.

A gordura do lipedema é diferente da obesidade, tende a formar nodulações no subcutâneo, além de ter um componente inflamatório.

Sintomas

Entre as queixas mais frequentes estão dor (principalmente à palpação), dificuldade de mobilidade, edema (inchaço) e hematomas frequentes. Pode haver ainda associação com outras doenças, como insuficiência venosa crônica, linfedema e obesidade. Um sinal típico é o acúmulo de gordura na região do tornozelo, conhecido como sinal do manguito.

Tipos

O lipedema é classificado em cinco tipos, de acordo com as áreas dos membros que estão afetadas.

Tipo I: do umbigo até os quadris.

Tipo II: até os joelhos, com presença de tecido gorduroso na parte lateral e inferior dos joelhos.

Tipo III: até os tornozelos, com formação de “manguito” de gordura logo acima dos pés.

Tipo IV: braços. Associado ao II e III.

Tipo V: apenas do joelho para baixo.

Tratamento

O tratamento é multidisciplinar: médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, educadores físicos, psicólogos e terapeutas.

A lipoaspiração só e indicada para casos graves ou quando não há sucesso no tratamento convencional.

Fonte: Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.


Análise

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Mariana Carmo é psicóloga especialista em compulsão alimentar e transtornos alimentares |  Foto: Divulgação

"A saúde deve ser priorizada acima dos padrões de beleza"

“No contexto de uma sociedade onde a mídia e as redes sociais impulsionam imagens de corpos considerados 'ideais', é notável o impacto dessa pressão estética, especialmente nas mulheres.

A incessante comparação com corpos retocados resulta em insatisfação com a própria aparência. Isso, por vezes, conduz a decisões extremas, como a busca por cirurgias plásticas e procedimentos estéticos invasivos.

Tudo isso contribui para o aparecimento do Transtorno Dismórfico Corporal, condição mental em que uma pessoa fica excessivamente preocupada com defeitos mínimos, só que essas percepções não correspondem fielmente à realidade.

Pessoas com essa condição buscam procedimentos desnecessários na tentativa de corrigir suas percepções corporais distorcidas, mas essas intervenções, muitas vezes, não aliviam o sofrimento emocional. Esse cenário impacta a saúde mental, podendo resultar em transtornos alimentares, ansiedade e depressão, além de se colocar em risco ao realizar procedimentos estéticos e cirúrgicos.

É vital entender que a saúde deve ser priorizada acima dos padrões de beleza. A verdadeira beleza reside na aceitação própria, no equilíbrio, valorizando a saúde e o bem-estar, em oposição à busca por padrões irreais e inatingíveis”.


Doença já foi tema da coluna "Fala, Doutor!"

Em maio deste ano, o jornal A Tribuna, na coluna Fala, Doutor!, conversou com o cirurgião vascular Brenno Seabra, que falou sobre o lipedema. Segundo ele, a causa da doença é genética, hormonal e ligada ao estilo de vida, como o tipo de alimentação.

“Metade das pacientes tem obesidade associada, cerca de 30% têm hipotireoidismo e, às vezes, nem sabem. São problemas associados que precisamos ver e acompanhar o paciente de perto”, alertou o médico na época.

Brenno destacou ainda que a doença não tem cura, sendo necessário o paciente manter o acompanhamento multidisplinar ao longo da vida. “Se tiver um reganho de peso ou algo que aumente a quantidade de hormônios, como uma gravidez, ela tem chance de voltar a ter o acúmulo de gordura”.

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