Moro sai do governo para subir no palanque
Cláudio Humberto
A saída de modo espetacular de Sergio Moro do cargo, com direito a pronunciamento em rede nacional, utilizando palavras cuidadosamente escolhidas com uma frase final que mais parece obra de marqueteiro político – “Fazer o certo, sempre” – conduziram as forças políticas de Brasília a concluírem que o ex-ministro da Justiça começou ontem sua campanha a presidente da República, em outubro de 2022.
"Me desculpe, mas, não é por aí”
Presidente Jair Bolsonaro, ao revelar que Sergio Moro disse aceitar troca na Polícia Federal se fosse indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF)
Acusação política
Na maciota, Moro acusou seu futuro adversário em 2022 dos crimes de coação, falsidade ideológica, prevaricação e obstrução de Justiça.
Mísseis balísticos
O ex-ministro da Justiça também jogou no ar suspeitas contra Bolsonaro por delitos de advocacia administrativa ou corrupção passiva privilegiada.
Azedou faz tempo
A bronca em Moro, na reunião ministerial da última quarta-feira, que esta coluna revelou e Bolsonaro confirmou, mostrou que a relação estava azedada.
Cacoete de candidato
Moro encerrou seu pronunciamento, agora habitual entre demissionários, prometendo “servir ao País”. Não foi casual, foi promessa de campanha.
Bolsonaro ameniza a crise “plantando” a dúvida
No discurso do fim da tarde, Jair Bolsonaro precisava “plantar a dúvida” para sobreviver à sexta-feira em que seu governo foi desestabilizado pelo ex-ministro da Justiça. De certa maneira, o Presidente conseguiu, ao revelar que as “interferências” na Polícia Federal se limitaram a cobrar investigação mais efetiva sobre o crime de facada de que foi vítima, nunca esclarecido, e a tentativa – frustrada pelo filho e detetive amador Carlos Bolsonaro – de envolvimento do seu nome no caso Marielle.
STF como meta
Bolsonaro deixou Moro mal na foto ao contar que ele pediu para que o ex-diretor da PF ficasse no cargo “até o senhor me indicar para o STF”.
Faltou um tuíte
Moro negou haver condicionado a troca na PF à sua indicação ao STF, mas calou sobre o corpo mole na investigação da facada no Presidente.
Discurso para a tropa
A avaliação da Comunicação do Planalto é de que o discurso de Bolsonaro, cercado de ministros, repercutiu bem sobretudo entre seus eleitores.
Sobre Moro, o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), disse a esta coluna que o ex-juiz não tem credibilidade para fazer acusações e “atira para se manter no jogo político, onde sempre esteve”.
Inteligência sem espaço
O Presidente fez uma afirmação, ainda não esclarecida, sobre a qual o Moro também silenciou: disse que o ex-ministro da Justiça fez a inteligência da Polícia Federal perder espaço.
Em seu pronunciamento, Bolsonaro acabou revelando, com certa dose de orgulho, que o filho 04, de 20 anos, “passa o rodo”: ele contou ao pai que saiu com metade das garotas no condomínio onde reside, no Rio.
Eleitor-problema
O ministro Celso de Mello, que mandou Rodrigo Maia desengavetar um processo de impeachment contra Bolsonaro, vai se aposentar em novembro. E sabe que são escassas as chances de gostar do nome, seja quem for, que o Presidente escolherá para ocupar sua vaga.
Rotas salvadoras
Bolsonaro parecia preocupado em não ser antagonizado com a Polícia Federal, ao lembrar que deve sua vida também os policiais, que tinham uma “rota de fuga” no momento da facada, em Juiz de Fora.
Obras entregues
O ministro Tarcísio Freitas (Infraestrutura) já entregou 12 obras durante a pandemia do coronavírus, incluindo mais de 40km de rodovias, ponte na BR 367 e a sala de embarque do Aeroporto de Navegantes (SC).
Genro bem na fita
Para se adequar às regras e retomar as atividades, a construtora Pride decidiu contratar familiares de funcionários para produzir máscaras de proteção. A ideia surgiu com a contratação da sogra de um engenheiro.
Eleição em 2º plano
Diante da dúvida com relação à realização das eleições, o Tribunal Superior Eleitoral resolveu que votarão normalmente os 2,5 milhões de eleitores que não fizeram biometria. Assim, não perdem os CPFs.
Pensando bem...
... e olha que a Amazônia ainda nem começou a pegar fogo.
PODER SEM PUDOR
ACM apoiou com mão-de-ferro a ditadura, na Bahia. Governador proibiu uma passeata em solidariedade à greve no ABC paulista, liderada por Lula, o metalúrgico. O valente deputado Elquisson Soares, presidente do PMDB, telefonou a ACM fazendo-lhe um último apelo. Ele negou e ainda provocou:
“O que vocês acham da invasão russa no Afeganistão?” Soares respondeu: “Somos contra. Mas também somos contra à repressão no Brasil.”
ACM gritou do outro lado da linha: “O quêêê?! Me respeite!” O deputado devolveu: “Me respeite você!” ACM mandou um palavrão (“&*%$#@*&!”), o deputado também (“&*%$#@*&!”) e desligou.
A passeata, claro, foi dissolvida à base de pancadaria.
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Cláudio Humberto,por Cláudio Humberto