Login

Esqueci minha senha

Não tem conta? Acesse e saiba como!

Atualize seus dados

ASSINE
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
ASSINE
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Assine A Tribuna
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo

ENTRE PRATELEIRAS

O Fato Espera. A Leitura Não.

Entre o que acontece e o que imaginamos que aconteceu

Jaques Paes | 01/12/2025, 08:45 h | Atualizado em 01/12/2025, 08:45
Entre Prateleiras

Jaques Paes

Executivo, mestre em gestão empresarial, consultor, mentor de profissionais em transição de carreiras e professor do MBA de ESG e Sustentabilidade da FGV


Eis que a distância entre o que acontece à nossa volta e o que parece acontecer vai se abrindo. O moderado vira crise; decisão vira batalha. Respiramos um ar mais pesado do que o necessário. O mundo muda, mas não mudamos a forma como o enxergamos.

Os fatos caminham lentos, mas suas interpretações não. Elas chegam antes, tão rápidas quanto as expectativas que criamos, os ressentimentos que mantemos, as memórias que acionamos. Quando o fato finalmente pousa diante de nós, já não importa: a leitura que faremos dele chegou primeiro, acumulada e pronta. Era tudo o que precisávamos: uma confirmação.

Nesta semana no LinkedIn escrevi um post sobre governança e sucessão que ocorreu em um telejornal. Compartilhei uma leitura de cenário, entre tantas possíveis. Vieram comentários, mensagens, teorias, certezas. A repercussão chamou atenção, não surpresa. Tenho um defeito: sempre olho o avesso.

E o avesso me trouxe um ponto curioso: a governança que mais influencia qualquer debate não é a das instituições, mas a que opera dentro de cada um. Uma governança cognitiva, feita de filtros, preferências, memórias, manias e atalhos. Há algo íntimo e cognitivo decidindo o que veremos, o que ignoraremos e o que transformaremos em verdade.

Esse mecanismo acentua conflitos e nos faz criar uma sensação permanente de colapso, mesmo quando ele não existe. É daí que nasce a ansiedade social. Deixar o fato respirar antes da opinião talvez seja um ansiolítico necessário. O mundo está cheio de certezas para dúvidas que ainda nem tivemos tempo de ter. Paramos de reagir ao mundo para reagir ao espelho que colocamos entre nós e ele.

Moldamos o acontecimento para que caiba em nossas narrativas, aquelas que carregamos sem notar. Entender já não importa. Procuramos dentro do que aconteceu um ponto que sustente o que pensávamos, porque isso dá alívio, dá coerência e evita revisões incômodas das nossas certezas.

Discutimos menos os fatos e mais as projeções que fazemos sobre eles. O acontecimento virou coadjuvante da leitura que escolhemos fazer. Não há interpretação: há confirmação.

Correrei o risco do ridículo e direi: vivemos a Era Halo. Um combustível silencioso que responde à lente que colocamos sobre algo ou alguém, favorável ou desfavorável. Essa lente faz com que tudo seja interpretado por ela. Nada mais importa além do halo que o antecede. É uma forma elegante, quase confortável, de não ter o trabalho de duvidar. A convicção oferece a falsa calma de não enfrentar o incerto.

Os debates deixaram de ser espaços de ideias para se tornar máquinas de ressonância e validação emocional. Cada lado usa o que acontece no mundo como argumento para reforçar o que já acreditava. Quando o fato não ajuda, remodela-se o fato. Criam-se intenções, ampliam-se ruídos, inventam-se sentidos. Sempre na direção que confirma, nunca na que explica.

Talvez tenhamos travado a guerra errada. Não precisamos interpretar melhor, precisamos interpretar menos. Diminuir a pressa com que encaixamos tudo em nossas certezas. Deixar que o fato exista antes da opinião, pois interpretar deixou de ser entender; virou confirmar.

E o post continua lá, ressoando em leituras que vão muito além do que eu escrevi.

Definitivamente, o mundo precisa de mais poesia.

Continuo o assunto nas redes: Instagram: @jaquespaes; LinkedIn: in/jaquespaes

Jaque Paes é Executivo, mestre em gestão empresarial, consultor, mentor de profissionais em transição de carreiras e professor do MBA de ESG e Sustentabilidade da FGV

SUGERIMOS PARA VOCÊ:

Entre Prateleiras

Entre Prateleiras, por Jaques Paes

Executivo, mestre em gestão empresarial, consultor, mentor de profissionais em transição de carreiras e professor do MBA de ESG e Sustentabilidade da FGV

ACESSAR Mais sobre o autor
Entre Prateleiras

Entre Prateleiras,por Jaques Paes

Executivo, mestre em gestão empresarial, consultor, mentor de profissionais em transição de carreiras e professor do MBA de ESG e Sustentabilidade da FGV

Entre Prateleiras

Jaques Paes

Executivo, mestre em gestão empresarial, consultor, mentor de profissionais em transição de carreiras e professor do MBA de ESG e Sustentabilidade da FGV

PÁGINA DO AUTOR

Entre Prateleiras

Esta coluna parte da ideia de que gestão, sustentabilidade, projetos e estratégia não vivem em gavetas separadas. “Entre Prateleiras” é o espaço onde essas fricções aparecem e onde decisões, narrativas e contradições se encontram. Seu propósito é trazer à superfície o que costuma ficar guardado para provocar conversas que façam diferença no mundo que a gente vê lá fora.