Uma em cada 3 pessoas vai ter ataque de pânico na vida, diz psiquiatra
Especialista explica que prevalência é maior por volta dos 20 anos e em crianças com ansiedade de separação
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Falta de ar, tremores, sensação de desmaio, medo e desespero. Esses são apenas alguns dos sintomas relacionados ao ataque de pânico, um episódio de medo intenso que pode durar até uma hora. No Brasil, cerca de uma em cada três pessoa vivenciará o problema em algum momento da vida.
Quem faz o alerta é a médica psiquiatra, professora e pesquisadora do Centro Universitário do Espírito Santo (Unesc) Karen de Vasconcelos. Em entrevista ao jornal A Tribuna, a médica aponta os sintomas, as causas e as possíveis formas de controle do ataque de pânico.
A Tribuna - O que é o ataque de pânico?
Karen de Vasconcelos - "Ataque de pânico é um episódio isolado - ou distanciado - de medo intenso, que inicia de repente e pode durar de vários minutos a uma hora. Pode estar relacionado a vários transtornos psiquiátricos, incluindo o transtorno de pânico, ou, até mesmo, a outras condições médicas não psiquiátricas, como o hipertireoidismo."
- Como saber se uma pessoa está tendo um ataque?
"Durante o ataque de pânico, os pacientes apresentam ao menos quatro dos seguintes sintomas: palpitação, que é uma sensação de que o coração está batendo mais rápido ou mais forte; sudorese, tremores, sensação de que o fôlego está curto ou falta de ar; sensação de sufocamento, dor ou desconforto no peito; náusea ou desconforto abdominal; sensação de desmaio, tontura ou cabeça vazia; calafrios ou calor excessivo, formigamento e desrealização, que é a percepção distorcida da realidade, como a sensação de que o chão está afundando.
Outro sintoma é o de despersonalização, que é a sensação distorcida de si mesmo, como sentir que está maior ou gigante, além do medo de perder o controle ou de ficar doido. A sensação de morte também é um sintoma."
- O que pode desencadear o transtorno de pânico?
"Várias doenças ou condições podem desencadear transtorno de pânico. Entre elas está a agorafobia, que é um transtorno ansioso que algumas pessoas podem desenvolver.
Elas passam a ter medo de frequentar lugares ou situações em que possam ficar constrangidas ou que não consigam socorro caso tenham um ataque de pânico. É o caso, por exemplo, de shows ou outros lugares com muita gente.
Fobias específicas também podem desencadear a doença. As pessoas podem apresentar ataques de pânico desencadeados por situações específicas, como aranha, na aracnofobia; altura, na acrofobia, ou ambientes fechados como na claustrofobia.
Diferente do transtorno de pânico, em que os ataques ocorrem sem causas aparentes."
- Há casos em que a fobia social leva ao pânico?
"Na fobia social, os ataques de pânico acontecem em situações de exposição social, em que a pessoa se sente avaliada, no centro das atenções, como em uma apresentação de trabalhos ou ao ter que se apresentar em uma entrevista de emprego."
- Há problemas de saúde que influenciam?
"Sim, as arritmias cardíacas, o hipertireoidismo ou os nódulos antigos de tireoide, a asma, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), as crises convulsivas, a labirintite e até a enxaqueca."
- Como controlar?
"É possível controlar os episódios tratando a causa dos ataques. Para as causas clínicas, o recomendado é o controle da doença de base.
Para as causas psiquiátricas, a terapia e os antidepressivos fazem um excelente controle.
Benzodiazepínicos podem ser usados como medicamentos de resgate para interromper a crise, ou medicação SOS, como é mais conhecido.
A atividade física ajuda muito, principalmente para os ataques de pânico de causa psiquiátrica, relacionados à ansiedade. A melhora do condicionamento cardiopulmonar diminui muito a incidência ou intensidade das crises.
Cerca de 1/3 da população, ou seja, uma a cada três pessoas, vai experimentar um ataque de pânico em algum momento da vida. A prevalência é maior na faixa etária adulto jovem, por volta dos 20 anos de idade.
É também frequente em crianças com ansiedade de separação, que são aquelas com ansiedade excessiva relacionada ao distanciamento dos pais, para ficar na escola, por exemplo."
- O que ocorre se os ataques forem frequentes?
"O ataque de pânico pode evoluir para um transtorno de pânico. Diferente do ataque de pânico, que é um episódio isolado ou episódios muito afastados, no transtorno de pânico os pacientes sofrem com episódios de pânico recorrentes, sem fatores desencadeantes, seguidos por pelo menos um mês de preocupação em ter um novo ataque ou mudança comportamental mal adaptativa relacionada a novos ataques."
Crise durante voo
A atriz e influenciadora digital Rafa Kalimann, de 31 anos, revelou que teve a primeira crise de pânico há cerca de seis anos, quando sentiu falta de ar, desespero, choro e medo durante uma viagem de avião.
“Senti falta de ar, medo de acontecer alguma coisa, um desespero enorme, chorava muito, e não conseguia entender de onde vinha tudo aquilo, que sentimento era aquele dentro de mim”, explicou a atriz.
Fique por dentro
Os ataques de pânico causam intenso sofrimento psíquico, com modificações importantes de comportamento nos afetados pelo problema devido ao medo da ocorrência de novos ataques.
O transtorno do Pânico (TP) pode ter como origem situações extremas de estresse, como crises financeiras, brigas, separações ou mortes na família; experiências traumáticas na infância ou depois de assaltos e sequestros, de acordo com o Ministério da Saúde.
O tratamento combina medicamentos antidepressivos e ansiolíticos com psicoterapia e deve ser conduzido por médico psiquiatra.
A psicoterapia visa auxiliar o paciente no resgate da autoconfiança necessária ao domínio das crises, por meio da consciência de si próprio.
Ataque de pânico: episódio isolado ou episódios muito afastados de pânico.
Transtorno do pânico (TP): condição caracterizada por crises súbitas, intensas e recorrentes de ansiedade, com forte sensação de medo ou mal-estar.
Os números
- Ao redor do mundo, 2% a 4% da população vive com Transtorno de Pânico (TP);
- No Brasil, 120 milhões de pessoas têm nível alto de ansiedade.
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