Médica explica síndrome que causa “ataques de sono”
Na narcolepsia, o paciente nem chega a sentir sonolência, ele simplesmente adormece sem perceber
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Enquanto a maioria dos brasileiros sofre com insônia, há uma pequena parcela que, literalmente, cai no sono.
Pode até parecer estranho, mas existe uma síndrome que causa sono involuntário e afeta intensamente as atividades diárias: a narcolepsia. Segundo a pneumologista Roberta Couto, especialista em Medicina do Sono, a pessoa com narcolepsia pode apresentar “ataques de sono”.
“Não é nem uma vontade de dormir, a pessoa adormece sem perceber. Ela nem chega a sentir a sonolência, ela simplesmente adormece. São ataques de sono que esses pacientes podem apresentar”, explica.
A síndrome do sono pode levar, em média, 13 anos para ser diagnosticada, segundo a médica.
A Tribuna - Como diferenciar um cansaço comum da narcolepsia?
Roberta Couto - A narcolepsia é uma doença rara, atinge menos de 65 pessoas a cada 100 mil indivíduos. O fato dela ser uma doença rara atrapalha um pouco no diagnóstico.
O fato da queixa principal ser a sonolência, que é uma queixa tão comum a várias outras doenças também, acaba sendo um fator que dificulta o diagnóstico. Temos uma estatística que aponta 13 anos, em média, o tempo que os pacientes levam para ter o diagnóstico, dentro do início dos sintomas. É muito tempo.
Além da sonolência excessiva , quais outros sintomas?
Há outras situações associadas que chamam atenção. Uma delas se chama a paralisia do sono: o paciente desperta, acorda, mas não consegue mexer nenhum músculo. Ele fica paralisado por alguns segundos. Ele está consciente, mas não consegue se mexer.
Esses pacientes também podem ter as chamadas alucinações na transição sono-vigília e vigília-sono. Outra situação curiosa é a cataplexia, que é quando o paciente se expõe a uma situação de emoção forte, às vezes um riso, e apresenta uma fraqueza muscular em uma parte do corpo, chegando a cair.
Quem tem narcolepsia, muitas vezes, é considerado preguiçoso?
Essa associação é enorme. E por conta disso, os pacientes com narcolepsia têm uma associação muito grande também com depressão e ansiedade, porque são estigmatizados como preguiçosos.
Eles têm problemas no estudo e no trabalho. Correr atrás desse diagnóstico melhora muito a qualidade de vida desses pacientes.
Temos a opção de fazer o tratamento medicamentoso e o tratamento não medicamentoso, que vai trabalhar a parte comportamental e cognitiva. Isso é muito importante para melhorar a qualidade de vida desses pacientes.
De que forma essa doença age no corpo?
A narcolepsia é uma doença neurológica, caracterizada por a sonolência excessiva e por essa alteração nos ciclos sono-vigília. Há uma necessidade de dormir durante o dia, mas o sono noturno é fragmentado.
É uma lesão numa região do cérebro que produz uma substância chamada hipocretina, que é responsável pela vigília. Ocorre uma destruição dessa região no cérebro, entendemos que é uma alteração autoimune, não sabemos ainda qual é o agente que vai lá destruir, mas tem essa situação autoimune.
Quanto tempo a pessoa pode ficar “apagada”?
Eles têm cochilos rápidos. Existe até uma técnica, da terapia cognitivo-comportamental, que são os cochilos programados. Como eles têm períodos de sonolência importantes durante o dia, no acompanhamento desses pacientes definimos os horários que eles têm maior sonolência e programamos, antes desse horário, que eles tenham cochilo de 30 minutos. Esse tempo é suficiente para eles terem uma produtividade muito maior.
Qual a média de idade em que essa doença pode se manifestar?
Pode ser que apareça em pessoas com mais idade. Geralmente aparece mais em torno dos 20 e 25 anos. Mas tem casos em crianças e em pessoas mais velhas, mas é mais comum nos jovens.
Quem tem a síndrome convive com ela pelo resto da vida?
Ainda não temos como repor essa substância chamada hipocretina. Então, trabalhamos nos sintomas. Existem medicações para trabalhar a sonolência diurna excessiva, que trazem um alerta maior para esses pacientes.
Existem ainda medicações para o tratamento da cataplexia, que é essa perda do tônus. A cataplexia traz muito problema para a vida do paciente: problema social, no trabalho e risco de acidentes.
A pessoa dirigindo pode ter uma perda do tônus muscular. Vamos tratando os sintomas para tentar dar melhor qualidade de vida para esses pacientes.
FIQUE POR DENTRO
Na narcolepsia, a pessoa pode adormecer involuntariamente mesmo que esteja dirigindo, comendo ou conversando. Outros sintomas podem incluir fraqueza muscular súbita, chamada de cataplexia.
Pessoas com narcolepsia entram em sono REM rapidamente, 15 minutos após adormecerem.
A narcolepsia é uma doença crônica. Apesar de não existir cura, os tratamentos disponíveis amenizam os sintomas.
Os medicamentos disponíveis são destinados ao controle dos sintomas mais incapacitantes, como a sonolência excessiva e a cataplexia.
A maioria das pessoas não é diagnosticada ou recebe o diagnóstico errado, sofrendo prejuízos por toda a vida. O diagnóstico, além da avaliação médica, envolve exame de polissonografia e testes de sono.
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