Tire suas dúvidas sobre a vacina contra a dengue
Idoso não pode tomar o imunizante? Há algum efeito colateral? Especialistas revelam como substância age no organismo
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Em meio a mais um estado de alerta contra a dengue no País, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, ressalta um atenuante: pela primeira vez, o Brasil terá o auxílio de uma vacina no enfrentamento à doença.
A Qdenga, fabricada pela farmacêutica Takeda, foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) e deve começar a ser aplicada ainda no mês de fevereiro. Ela já está disponível em laboratórios particulares a um preço médio de R$ 450 por dose.
A aprovação do imunizante foi recebida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em março de 2023 para pessoas de 4 a 60 anos. Ele é aplicado via subcutânea, em duas doses, com intervalo de três meses.
As 757 mil doses entregues pelo laboratório fabricante passam por processo de liberação no Ministério da Saúde, como ocorre com os medicamentos e imunizantes importados que chegam ao Brasil.
O cronograma de distribuição e a quantidade de doses para cada região serão divulgados em breve, diz a pasta. Enquanto isso, especialistas tiram as principais dúvidas da população sobre o uso da vacina.
Alerta
Nos últimos dias, publicações em redes sociais estão indicando ivermectina contra dengue.
Porém, o Ministério da Saúde divulgou nesta semana que não reconhece “qualquer protocolo” que inclua a ivermectina para o tratamento da dengue, e que o medicamento não é eficaz em diminuir a carga viral da doença.
O posicionamento oficial foi emitido para esclarecer boatos de que a medicação seria efetiva contra o vírus. O conteúdo enganoso foi compartilhado por perfis com milhares de seguidores em redes sociais como Facebook e X.
“A narrativa falsa foi divulgada em alguns perfis de profissionais da saúde, inclusive com repercussão na mídia, mas sem nenhum dado ou fonte que comprove a afirmação”, diz nota.
O medicamento chegou a ser defendido em meio à pandemia da covid como parte de um tratamento precoce contra a doença, mesmo sem eficácia comprovada.
Agora, diante do aumento expressivo dos casos de dengue em todo o País, voltou a ganhar espaço na rede como possível solução para a doença a despeito da falta de evidências científicas.
Fique por dentro
Quem pode receber a vacina
Nos laboratórios particulares, pessoas que estão na faixa etária de 4 a 60 anos conseguem receber o imunizante. Para isso, elas podem levar indicação médica ou se consultar em triagem com os profissionais dos próprios estabelecimentos.
O preço varia entre R$ 400 a R$ 490 por dose em laboratórios de São Paulo. Em alguns, porém, como o Fleury, o estoque está limitado aos clientes que solicitaram a segunda dose e em algumas unidades já não há mais vacina disponível, devido à alta demanda por imunização e à restrição da oferta do fabricante da vacina ao setor privado.
Pelo SUS, porém, o público inicial será composto por crianças e adolescentes de 10 a 14 anos.
Essa faixa etária, segundo o Ministério da Saúde, concentra o maior número de hospitalizações por dengue, depois de pessoas idosas - grupo para o qual a vacina não foi liberada pela Anvisa.
O ministério segue recomendação do grupo de assessoramento (Sage, em inglês) da OMS (Organização Mundial da Saúde), que aconselharam a introdução da vacina para o público de 6 a 16 anos. Dentro dessa faixa etária, a vacina deve ser introduzida cerca de 1-2 anos antes do pico de incidência de hospitalizações relacionadas à dengue.
Quem não pode receber a vacina
Segundo a bula do fármaco, a Qdenga não deve ser aplicada em gestantes, lactantes, pessoas alérgicas a algum dos componentes da vacina e aqueles com problemas no sistema imunológico, como HIV, questões genéticas ou que estão em tratamento que afeta as defesas do corpo.
Qual eficácia e contra quais tipos de dengue a vacina protege?
Em testes conduzidos em oito países na Ásia e na América Latina (Brasil, Colômbia, República Dominicana, Nicarágua, Panamá, Filipinas, Sri Lanka e Tailândia), a vacina teve eficácia de 80% contra os casos de dengue confirmados 12 meses após a segunda dose, e reduziu as hospitalizações em 90,4% nos 18 meses após a segunda dose.
Em relação à eficácia por sorotipo, a análise mostrou uma proteção variável para cada um, sendo de 69,8% contra o sorotipo 1 e 95,1% para o tipo 2, demonstrando uma boa proteção para este último.
Por outro lado, a proteção para o sorotipo 3 foi abaixo do limite de eficácia de 50% (48,9%, com intervalo de 27,2%-64,1%) e, para o sorotipo 4, foi inconclusivo.
Este último ponto preocupa os especialistas, especialmente pela possibilidade de uma epidemia dos sorotipos 3 e 4 no País este ano.
Quais os possíveis riscos associados?
Como todo fármaco, a vacina possui efeitos colaterais esperados, como dor ou vermelhidão no local da injeção, dores de cabeça e musculares, mal-estar generalizado e fraqueza.
Cerca de 10% dos vacinados podem apresentar febre. Os efeitos colaterais são, em geral, leves a moderados, e podem desaparecer em poucos dias.
Um efeito que pode surgir ao aplicar a vacina e preocupa cientistas é a ocorrência de uma reação chamada ADE (aumento dependente de anticorpo, na sigla em inglês).
Isto ocorre porque a vacina induz a produção de anticorpos ligados aos diferentes sorotipos, mas ela não é igual para cada um deles.
Assim, no momento de uma infecção por um dos tipos do vírus, em vez de combatê-lo, os anticorpos podem ajudar a infecção do vírus nas células, causando um quadro similar ao de dengue hemorrágica - que pode ocorrer ao contrair a doença pela segunda vez.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, a Takeda afirma que após um estudo de mais de quatro anos de seguimento, o imunizante não apresentou nenhum risco de segurança ou agravamento de doença associado à vacinação, independentemente de exposição prévia ao vírus.
Fonte: Ministério da Saúde e Pesquisa AT.
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