Exame para câncer de próstata não é mais necessário?
Médicos se opõem ao Ministério da Saúde, que não recomenda o rastreamento com PSA e toque retal em pacientes sem sintomas
Escute essa reportagem
No mês dedicado à conscientização sobre a prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata, o Novembro Azul, a discussão sobre a necessidade ou não de exames de rastreio da doença na população tem sido marcada por divergências.
O Ministério da Saúde divulgou uma nota técnica no mês de outubro em que reafirma não recomendar o rastreamento – exames de rotina como o PSA (de sangue) e o de toque retal – em pacientes sem sintomas. A medida provocou reação de algumas sociedades médicas, que defendem os exames como rotina para detectar câncer de forma precoce.
O entendimento do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional do Câncer (Inca) se baseia em estudos que identificaram que o rastreio aumenta o número de novos casos, mas sem redução da mortalidade.
Na nota, o Ministério cita ainda o “sobrediagnóstico”: a detecção de tumores que nem trazem impacto na vida do paciente.
O membro do departamento de Uro-oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e vice-presidente da SBU-ES, Gustavo Ruschi Bechara, destacou que o câncer de próstata é a neoplasia maligna mais comum entre homens, excluindo câncer de pele não melanoma.
“A maioria dos casos iniciais do câncer de próstata é assintomática, ou seja, a melhor maneira de prevenir é o diagnóstico precoce.”
Ele explicou que a Sociedade recomenda que homens aos 45 anos – com fatores de risco – ou aos 50 anos procurem o médico para avaliação individualizada e decisão compartilhada sobre exames e a periodicidade que serão feitos.
O urologista da Urovitória e membro da SBU Rodrigo Tristão lembrou que, em 2012, nos EUA, o rastreamento chegou a não ser recomendado, mas em 2018 o país voltou atrás, já que aumentou o número de casos em estágio avançado. “Se o paciente esperar ter sintomas, podemos perder a chance de cura”.
O oncologista Diogo Assed Bastos, do hospital Sírio-Libanês e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, frisou que do ponto de vista médico, fica claro que existem benefícios para o paciente em realizar os exames de rastreio.
Entenda a discussão
O Ministério da Saúde publicou em outubro uma nota técnica conjunta em que não recomenda o rastreamento populacional de câncer de próstata. O rastreio da doença consiste na realização de exames periódicos, como o toque retal e a dosagem do PSA nos homens.
Por que não recomendam?
Entre os argumentos para que não se faça, eles afirmam que há estudos que indicam que programas de rastreamento não têm grande impacto na redução de mortalidade pela doença e podem causar danos à saúde do homem.
Isso porque parte dos tumores diagnosticados podem ser de baixo risco, que crescem lentamente e dificilmente se espalham para outros órgãos. Nesses casos, a nota técnica pontua que o paciente diagnosticado tem risco aumentado de passar por tratamento que seria desnecessário e que pode deixar sequelas, como disfunção erétil.
Para quem indicam os exames?
O Ministério afirma que estudos demonstram que o rastreamento é mais eficiente em pacientes sintomáticos (dificuldade de urinar, necessidade de urinar mais vezes), ou histórico familiar da doença.
No Espírito Santo
A Secretaria da Saúde (Sesa) informou que segue as determinações do Ministério da Saúde, orientando os municípios e os profissionais que atendem na Atenção Primária sobre o não rastreamento do câncer de próstata e que a realização do diagnóstico precoce se faz por exames de sangue e histórico familiar.
Dessa forma, o diagnóstico deve ser realizado a partir das queixas do homem com a presença de sinais e sintomas significativos. O toque retal deve ser realizado para avaliação de homens com elevado risco.
O que recomendam sociedades médicas
Ao contrário do Ministério da Saúde e do Inca, sociedades médicas brasileiras como de Urologia e de Oncologia Clínica, recomendam que homens a partir dos 45 anos – caso tenham fatores de risco, como histórico familiar – ou a partir dos 50 anos – sem fatores de risco, se consultem com um médico especialista.
Eles reforçam a necessidade de condutas individualizadas para os pacientes, com informações sobre a importância do rastreio e conversas sobre a periodicidade dos exames.
Por que recomendam?
Urologistas e oncologistas destacam que esperar o homem manifestar algum sintoma da doença para orientá-lo a realizar os exames pode ser arriscado, dado que os cânceres de próstata em fase inicial geralmente não dão sinais claros.
Segundo eles, deixar de fazer o rastreamento populacional poderia levar a diagnósticos de tumores em fase já avançada, quando as chances de cura são reduzidas e os tratamentos são mais sofridos.
de acordo com os médicos, os Estados Unidos, em 2012, tomaram a decisão de não recomendar, mas diante do aumento de mortes, voltaram atrás em 2018.
Também argumentam que desestimular o rastreio e o cuidado periódico fará com que pacientes “sumam” dos consultórios, deixando de avaliar e diagnosticar outros problemas relacionados à saúde do homem no geral.
E agora? Fazer ou não exames?
Mesmo sem consenso, todos os órgãos de saúde e especialistas concordam que é preciso considerar:
Homens com mais de 50 anos devem procurar um médico da família ou urologista para avaliação de saúde e para discutir sobre a realização dos exames de PSA e toque retal.
Se o homem faz parte de algum grupo de maior risco, como população negra ou que tem casos de câncer de próstata na família, esse acompanhamento deve ser aos 45 anos.
Se há indicação médica para realização dos exames, não é preciso ter medo do exame de toque retal, ele é rápido e pode salvar vida.
Homens que manifestam sintoma suspeito, como dificuldade para urinar ou diminuição do jato de urina, é necessário buscar um médico.
O paciente precisa entender que se o câncer tiver baixo grau de agressividade, há possibilidade de fazer o acompanhamento do tumor em vez de ir diretamente para uma cirurgia.
Mesmo para pacientes com diagnóstico e recomendação de tratamento, as técnicas e materiais cirúrgicos evoluíram e não são todos os pacientes que terão sequelas,
O acompanhamento médico periódico, principalmente após os 50 anos, é fundamental não só para detecção do câncer de próstata, mas para monitorar outros problemas, como hipertensão, diabetes e obesidade.
Comentários