Envelhecimento da população: busca por prevenção à saúde, exercícios e lazer
Medicamentos e alimentação estão entre os maiores gastos da população idosa
Escute essa reportagem
A busca de idosos por autonomia e por manter-se ativos está entre os focos do envelhecimento atual, segundo especialistas. Para isso, esse público tem procurado por mais saúde, atividades físicas e lazer.
A presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do Estado, Daniela Barbieri, analisa que com mais pessoas vivendo muito, surge uma preocupação em cuidar-se melhor mesmo em idades maiores.
“Para isso é fundamental o exercício físico e a manutenção da mobilidade e da independência. As pessoas estão percebendo isso e investindo mais nessa ferramenta essencial para a saúde”.
O cuidado com a saúde mental e com vínculos afetivos, ao longo da vida, também deve ser observado, segundo Daniela.
“Precisamos investir para poder usufruir. É importante estimular o cérebro para prevenir a perda de memória, investir em músculos para manter a independência e cuidar da nossa rede de suporte social para termos com quem contar e sermos mais felizes na velhice”.
Os idosos, segundo médicos, tradicionalmente são mais suscetíveis às doenças. A geriatra Yara Nippes pontua que as doenças circulatórias são as de maior mortalidade.
“São doenças que afetam o coração e os vasos sanguíneos, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). Tais doenças podem ser atribuídas a fatores de risco, como dieta inadequada, tabagismo, pressão arterial elevada e obesidade. E esses fatores são modificáveis com mudanças no estilo de vida”.
O geriatra Roni Mukamal destacou que para um envelhecimento saudável, o cuidado com a saúde deve começar o mais cedo possível. “Percebemos uma redução no consumo de tabaco e as pessoas estão se movimentando mais. Precisamos investir nessa cultura da boa alimentação, do sono de qualidade, do controle de estresse e do autocuidado, que vai repercutir no bom envelhecer”.
A secretária de Saúde de Vitória, Magda Lamborghini, afirmou que o município foi eleito o melhor do País para envelhecer, segundo o Índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade.
“As nossas 29 unidades de saúde promovem a atividade física. Além disso, temos 14 Serviços de Orientação ao Exercício (SOE), que atendem cerca de 1.500 pessoas por dia.”
A secretária enfatizou que está sendo construído um novo Centro de Referência de Atendimento ao Idoso (Crai) na Ilha de Santa Maria.
Medicamentos e alimentos entre os maiores gastos
Se por um lado a população com mais de 60 anos busca qualidade de vida e acesso a lazer, o que eles mais consomem ainda é alimentação, medicamentos e serviços de saúde.
O coordenador geral do Sindicato Nacional dos Aposentados no Espírito Santo, Janio Araújo, destacou que, em consequência da pandemia, muitos idosos voltaram a ser arrimo de família, com a volta dos filhos e netos para suas casas.
“O que deveria ser gasto em saúde, lazer e uma velhice mais alegre e saudável, se resume a alimentação da família, remédios e planos de saúde. A pessoa idosa adora passear, mas, infelizmente, muitas vezes sua situação econômica não permite”.
O presidente do Conselho Regional de Economia do Estado (Corecon-ES), Claudeci Pereira Neto, destacou que os idosos consomem uma gama de serviços, principalmente de saúde, de plano de saúde e remédios.
“Aqueles que se aposentam com uma renda mais alta, que infelizmente não são a maioria, movimentam o setor de turismo”.
O empresário do setor do comércio, José Carlos Bergamin, de 75 anos, destacou que o perfil de consumo dos idosos é diferenciado.
“No caso de produtos, eles buscam o básico, mas de qualidade, duráveis. Querem menos modismo e mais personalidade. Já nos serviços, a busca é por simplicidade, com ótimo tratamento e pontualidade. Já no lazer, o consumo considera a qualidade de vida”, destacou.
Mudanças em turismo e tecnologia
O envelhecimento da população deve impulsionar mudanças nas tecnologias, no turismo e também no mercado de trabalho.
O consultor do Tesouro Estadual e conselheiro no Conselho Federal de Economia, Eduardo Araújo, destacou que, quanto aos hábitos de consumo, a população idosa tende a priorizar gastos em saúde, bem-estar e lazer adaptado, o que vem motivando uma série de inovações e adaptações no setor de negócios.
“No Japão, um dos países mais envelhecidos do mundo, essa realidade se traduziu em oportunidades de mercado em áreas como turismo sênior, com pacotes de viagens personalizados; e tecnologia assistiva, oferecendo dispositivos adaptados às limitações físicas dos idosos”.
Outra mudança gerada pelo envelhecimento em países como o Japão, segundo ele, é na habitação, com o desenvolvimento de residenciais projetados para facilitar a vida independente dos mais velhos.
“Empresas e mercados de trabalho também enfrentam a necessidade de se adaptar à crescente população idosa, seja por meio da criação de ambientes de trabalho inclusivos para trabalhadores mais velhos, seja pelo ajuste nas estratégias de marketing e desenvolvimento de produtos”.
O presidente do Conselho Regional de Economia do Estado (Corecon-ES), Claudeci Pereira Neto, pontuou que o envelhecimento da população deve impactar ainda mais o mercado de trabalho no futuro.
“A previsão é que, em 2050, a população do Brasil pare de crescer. A parte jovem da população diminui e a parte idosa cresce. Então, podemos ter falta de mão de obra jovem e adulta em alguns setores”, destacou.
Análise
“O mundo está envelhecendo a cada ano. No Brasil, o número de idosos passou de 30 milhões. Somos a quinta maior população idosa do mundo.
De um lado, a faixa etária de morte se prolongou, devido a tratamentos médicos, vacinas, entre outros. Já o número de nascimentos no País diminuiu. Ou seja, diminuiu o número de nascimentos e aumentou o número de idosos.
Mesmo com a população mais velha, a pessoa idosa sofre preconceito, devido ao estigma de não produzir.
O Estatuto do Idoso diz que é dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos das pessoas com mais idade.
Todavia, um dos grandes problemas hoje é que a pessoa idosa está suscetível à violência. Essa violência é qualquer forma de violação aos seus direitos.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que pelo menos 15,7% da população idosa está submetida a um tipo de violência. Ou seja, um em cada seis idosos sofre violência.
Assim, é preciso que não só o idoso busque ajuda, mas que toda a população também denuncie”.
- Juliana dos Santos, advogada e presidente da Comissão dos Direitos das Pessoas Idosas da OAB-ES
Comentários