Dezembro Laranja: pessoas de pele negra podem desenvolver câncer
Nessa população, o diagnóstico geralmente ocorre em estágios mais avançados devido à baixa percepção de risco
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A campanha Dezembro Laranja é uma iniciativa de conscientização, promovida anualmente no Brasil, para alertar a sociedade sobre a prevenção do câncer de pele, o tipo de câncer mais comum no país e no mundo.
Quando se fala no movimento, é comum utilizar a imagem de pessoas de pele clara, ignorando que indivíduos com tons de pele mais escuros também podem desenvolver a doença, embora menos frequentemente. Nesses casos, o diagnóstico geralmente ocorre em estágios mais avançados devido à baixa percepção de risco.
O médico da família Orisvaldo Gonçalves e professor da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Jaboatão, explica que o câncer de pele é frequentemente associado a pessoas de pele clara porque as pessoas de pele negra ou morena têm menor risco de desenvolver a doença.
“Isso ocorre, principalmente, porque as pessoas de pele morena ou negra têm uma maior quantidade de melanina (pigmento que dá cor à pele) que oferece uma proteção natural contra os raios ultravioletas (UV) do sol”, fala.
A exposição solar desprotegida, principalmente nos horários de maior incidência da radiação ultravioleta (entre 10h e 16h) continua sendo o principal fator de risco para desenvolvimento da doença, em pessoas de qualquer tom de pele. Além disso, o histórico familiar (fator genético) também aumenta o risco, especialmente se o caso ocorreu em parentes de primeiro grau.
O professor da Afya Jaboatão informa que o uso de protetor solar é recomendado para pessoas de todos os tons de pele.
“É um mito achar que pessoas de pele morena ou negra não precisam usar protetor solar, por já possuírem uma proteção natural, que é a melanina em maior quantidade. Também é importante escolher um protetor solar que proteja contra os raios UVA e UVB. Além disso, que tenha um Fator de Proteção Solar (FPS) de 30, no mínimo. Vale ressaltar que, mesmo nos dias nublados, seu uso deve ser mantido e reaplicado a cada duas horas”.
É comum o câncer de pele ser identificado em estágios mais avançados em populações negras ou morenas porque nessa população há uma tendência à descoberta da doença em estágios mais avançados.
“Isso se deve a alguns fatores, tanto biológicos quanto culturais e sociais. As alterações iniciais das lesões de pele podem ser menos perceptíveis, a ideia errônea de que pessoas morenas e negras estão imunes ao câncer de pele, a desigualdade de acesso aos serviços de saúde e até mesmo a menor conscientização dessa população, são fatores que contribuem para esse diagnóstico tardio”, revela Orisvaldo Gonçalves.
Ele orienta que toda pinta ou mancha que aparecer em qualquer parte do corpo deve ser sempre avaliada. Lesões que sangram com facilidade ou que demoram muito a cicatrizar também merecem atenção. Por isso, é fundamental o autoexame em busca de manchas suspeitas.
A cor da pele por si só não é um fator determinante no tratamento do câncer de pele. O que vai guiar o tratamento será o tipo específico da doença, sua localização, extensão e estágio (inicial ou avançado), além das condições clínicas do paciente.
“Todo tratamento deve ser individualizado. Lembrando que quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores serão as chances de cura”, destaca.
A pele é um órgão que desempenha funções importantes para a sobrevivência humana, desde barreira física até a regulação da temperatura corporal. Além disso, muitas doenças apresentam sinais e sintomas que se refletem na pele.
“Para as pessoas de pele morena e negra, eu chamo a atenção para que as medidas de proteção sejam postas em prática, eliminando de uma vez por todas a ideia de que só pessoas de pele clara podem ter câncer de pele. A melhor forma de evitar o desenvolvimento do câncer é a prevenção adequada e, se ainda assim, vier a desenvolver que seja diagnosticado precocemente para que seja tratado o mais rápido possível”, recomenda o professor da Afya Jaboatão.
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