Congresso Médico Estadual: Tecnologia não pode afetar a relação com os pacientes
Médicos afirmam que a inteligência artificial tem muito a contribuir, mas não pode substituir o tratamento com empatia e acolhimento
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A Inteligência Artificial (IA) já faz parte da rotina de grande parte da população: as novas configurações nas mensagens do WhatsApp, o GPS do carro, a televisão, a caixa de som inteligente e o robô aspirador estão entre os exemplos.
Na Medicina, não é diferente. A IA pode auxiliar em diagnósticos, prever desfechos clínicos, personalizar tratamentos e otimizar processos administrativos. Porém, ainda assim, segundo médicos, é preciso cuidado para que ela não afete a relação entre médicos e pacientes.
A IA, o avanço de inovações como a telemedicina, a cirurgia robótica e a formação contínua na prática médica são temas debatidos no 60º Congresso Médico Estadual da Associação Médica do Espírito Santo (Ames), que começou ontem e vai até hoje no auditório da Ames, em Bento Ferreira, Vitória.
Para o presidente da Ames, o cirurgião cardiovascular Fabrício Gaburro, a IA deve melhorar ainda mais os resultados cirúrgicos.
“Se soubermos trabalhar bem, esse impacto será muito bom, por isso queremos incentivar essa discussão. É óbvio que a Medicina sempre será uma ciência humana. A máquina nunca substituirá o toque e a palavra gentil. Podemos dar uma palavra de esperança e isso a máquina nunca vai substituir”.
O médico Fabiano Barcellos Filho, doutorando em Inteligência Artificial pela Universidade de São Paulo (USP), um dos palestrantes do congresso, explica que a inteligência artificial preditiva pode ajudar a fazer melhores diagnósticos e prognósticos.
“Já a inteligência artificial generativa, como ChatGPT, pode nos ajudar, dentro do consultório, a facilitar a consulta, por meio de entendimento dos dados que estão sendo fornecidos pelos pacientes e até pela organização mais automática desses dados”.
Fabiano explica que uma das maiores discussões é o fato de os algoritmos não terem sido treinados com dados da saúde.
“Eles foram treinados com a literatura, não foram, necessariamente, ajustados para a linguagem médica. Muitos deles são generalistas e amplos. Não podemos ainda utilizá-los sozinhos para um diagnóstico. Acredito na tecnologia aliada ao médico. O ChatGPT pode ser um facilitador e ajudar o médico a pensar”.
“Não tem como a gente parar o futuro” - Fabrício Gaburro, presidente da Ames
Em conversa com a reportagem, o presidente da Associação Médica do Espírito Santo (Ames), o cirurgião cardiovascular Fabrício Gaburro, falou sobre como a Inteligência Artificial (IA) tem transformado o trabalho dos médicos, ampliado a prevenção de doenças e pode, no futuro, agilizar decisões.
A Tribuna - Como usar a inteligência artificial para melhorar diagnósticos e tratamentos?
Fabrício Gaburro Os softwares estão cada dia evoluindo mais. Áreas de radiologia, de tomografia e de ressonância, com a inteligência artificial, vão conseguir fazer uma análise muito mais delicada do que o ser humano.
Porque esses softwares analisam pixel, algo que o homem não é capaz de fazer. Com a cirurgia robótica, por exemplo, é possível ter acesso às cavidades que sem o robô seria mais difícil.
Fora que, prevejo para o futuro, que a inteligência artificial vai fornecer algoritmos de melhora de diagnóstico. Por exemplo, um paciente vai chegar ao consultório, a IA vai escutar a consulta e sugerir hipóteses diagnósticas. Claro que vai caber ao médico concordar ou não com a informação recebida.
O objetivo do congresso é discutir essas mudanças na medicina?
Nosso objetivo é atualizar a visão da medicina. Na época em que muitos de nós nos formamos, não havia nada disso. Era apenas sentar e atender o paciente com os recursos que tínhamos na época. E hoje precisamos incentivar as novas tecnologias.
Uma das transformações que houve na prática médica, com a pandemia de covid, foi a teleconsulta. Acredita que essa ferramenta vai se fortalecer ainda mais?
Sem dúvida. Há pessoas que ainda têm muito preconceito com a telemedicina, mas não tem como a gente parar o futuro. Há 15 anos, quem tinha um parente no exterior tinha de marcar hora para ligar. Hoje, com a câmera do celular, a pessoa bate-papo. O mesmo é com a telemedicina. Mas é preciso ter cuidados para gerenciá-la.
Quais são esses cuidados?
Não podemos achar que fazer um vídeo com um paciente é uma teleconsulta. Outras especialidades, por exemplo, a cardiologia e a pneumologia, o médico precisa contar com o auxílio do paciente e de acessórios, como aparelhos para medir a temperatura, aferir a pressão e que fazem ausculta pulmonar e cardíaca a distância. Acredito que, no futuro, serão vendidos esses kits de telemedicina para a população.
O que falta para isso?
Existem muitas empresas especializadas em teleconsultas e em análises de eletro e condutas a distância, com cardiologista atendendo a vários hospitais, analisando o caso clínico e o eletro, e ele orienta. Acredito que em anos, não muitos, isso deve se difundir pelo Brasil.
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Abordagem
Entre os temas destacados, o congresso discute a importância da formação contínua e da humanização na prática médica. Com o avanço de inovações como a telemedicina, a cirurgia robótica e a inteligência artificial, os temas serão debatidos na mesa-redonda “Inovação e Saúde”.
O evento é voltado para profissionais da saúde em geral, estudantes de Medicina, residentes e médicos.
Programação de hoje
- Temas das mesas-redondas
- Empreendedorismo e marketing médico
- Gestão de carreira e estratégias de investimento
- A escolha da especialidade médica
- Inovação e Saúde: reimaginando o cuidado com a Tecnologia.
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