Cigarro eletrônico provoca até “buraco no pulmão”
Médicos alertam que o produto conhecido como vape causa falta de ar, tosse, enfisema, doença pulmonar crônica e até câncer
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Polêmico e viciante. Esse é o vape, cigarro eletrônico que é moda entre a juventude e tem causado problemas de saúde na população.
Um caso recente foi o do jovem Joseph Lawrence, de 25 anos, morador de Las Vegas (EUA), que foi internado com um buraco no pulmão causado pelo consumo excessivo do aparelho.
Nas redes sociais, ele fez um alerta. “Se você fuma, por favor, considere desistir. Outro dia tive um buraco no pulmão e tive que ser levado às pressas para o pronto-socorro porque não conseguia respirar. Felizmente, estou bem e não entrei em colapso total. Por favor, cuidem-se e parem de usar, não vale a pena”, comentou.
A história de Joseph não é isolada. Outra pessoa que foi para o hospital por conta do uso do cigarro eletrônico é Gabriel Nogueira Souza, resgatista de fauna de 23 anos. No seu diagnóstico estavam problemas de broncopneumonia e enfisema pulmonar.
“Os médicos explicaram que não foi o cigarro comum que causou os danos. Nos exames, ficou constatado que dentro dos brônquios tinha óleo contido nos cigarros eletrônicos”, relatou Gabriel à BBC News no ano passado.
Sobre a condição de Joseph, a pneumologista Carla Bulian explicou que o uso de vape pode resultar em lesões que, na patologia, são chamadas de enfisema.
A profissional também alertou que o dispositivo provoca outros malefícios. “Causa falta de ar, tosse, e pode evoluir para a doença pulmonar obstrutiva crônica e até câncer de pulmão”.
Em relação ao funcionamento do aparelho, ela disse que possui uma estrutura que contém líquido com nicotina, aromatizador e várias substâncias químicas; o aquecedor (que contém níquel e cádmio, substâncias cancerígenas) e o inalador.
“Hoje sabemos que tem quase 2 mil produtos químicos dentro desse vapor, que antes achavam que era de água. Vários deles nem foram identificados, não sabemos o potencial mal”, disse o pneumologista Roberta Couto.
Sabendo dos efeitos nocivos, uma dúvida que resta é: por que ele chama a atenção dos jovens? “É tão popular na juventude pela pegada tecnológica. Os jovens gostam disso. Os dispositivos para fumar se assemelham a pen drives, isso encanta bastante”, explicou Roberta, complementando:
“Também há o aspecto que ele é composto por substâncias químicas com sabores e aromas agradáveis. E também a sensação de pertencimento. O jovem quer pertencer a um grupo onde todos usam”.
Risco maior para doença do coração
Além do aumento dos riscos de doenças pulmonares e cânceres, os cigarros eletrônicos também elevam em 19% as chances de um quadro de insuficiência cardíaca.
O dado faz parte de um estudo recente apresentado no encontro da American College of Cardiology. A pesquisa foi baseada em registros eletrônicos de dados de saúde de adultos dos Estados Unidos.
Dos 175 mil indivíduos pesquisados ao longo de 45 meses, 3.200 tiveram insuficiência cardíaca, em especial a do tipo que leva ao enrijecimento do músculo do coração.
O médico cardiologista especializado em hipertensão arterial, Fernando Nobre, enfatizou os riscos dos cigarros em geral para doenças cardíacas.
“Fumar 20 cigarros por dia, por exemplo, aumenta em 400% a chance de ter um infarto”.
Ele revelou, ainda, que no caso da insuficiência cardíaca, o coração deixa de exercer sua principal função, que é bombear o sangue.
“Para se ter uma ideia, no momento que você faz o diagnóstico de uma insuficiência cardíaca, em cinco anos metade das pessoas diagnosticadas estará morta”.
O cardiologista aponta o cenário atual como uma catástrofe, já que apesar de proibido, o consumo é observado em todos os locais, não só do Brasil, mas do mundo.
O cardiologista Pietro Dall’Orto Lima, que atua com cardionutrologia em Vitória, destacou que é alarmante o crescimento desenfreado no uso de cigarros eletrônicos na população, principalmente entre os mais jovens.
“Cigarro eletrônico não só é responsável pelo aumento do diagnóstico de insuficiência cardíaca, mas também infarto e AVC (Acidente Vascular Cerebral).
Os riscos, segundo ele, são semelhantes aos que já conhecidos no cigarro industrial, acrescidos por veículos sintéticos para melhorarem o aroma e o sabor que são cancerígenos.
“A facilidade no uso e transporte, além da redução do mau cheiro, fazem com que o uso do cigarro eletrônico seja ainda maior do que o industrial. Se compararmos que do cigarro eletrônico, quatro puffs (como tragada) equivalem ao consumo de um cigarro. Cada dispositivo vem com quase 1.000 puffs, a catástrofe está anunciada”.
Opiniões
"Tenho atendido pacientes com quadro de falta de ar, e eles têm em comum o uso do vape." - Carla Bulian, pneumologista.
"O vape pode causar vários tipos de câncer. Pode ser de pulmão, laringe, faringe, esôfago e estômago." - Marco Homero, cirurgião de cabeça e pescoço.
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