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Política

Operação aponta relação entre major, influenciador argentino e sócio de empresa

Major mora em Colatina e foi alvo da operação da Polícia Federal que investiga Jair Bolsonaro e aliados


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Imagem ilustrativa da imagem Operação aponta relação entre major, influenciador argentino e sócio de empresa
Polícia Federal fez operação que mirou Bolsonaro e aliados |  Foto: Divulgação/Polícia Federal

Uma das frentes da decisão em que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes autorizou busca e apreensão contra o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, cita as lives contra as urnas do influenciador argentino Fernando Cerimedo e Eder Balbino, sócio de uma empresa em Uberlândia que colaborou com a equipe contratada pela sigla para auditar o processo eleitoral.

A ordem de Moraes diz ainda que a investigação sinalizou a "existência de relação do major da reserva Angelo Martins Denicoli com Fernando Cerimedo, no sentido de disseminar desinformação sobre" o sistema de votação brasileiro.

Logo após a vitória de Lula (PT) contra Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições, Cerimedo passou a fazer lives e publicações que tiveram grande alcance alegando que as eleições brasileiras teriam sido fraudadas. Alguns dos principais argumentos de relatório do PL contestando parte das urnas usadas em 2022 tinham aparecido antes em suas transmissões.

Além de Valdemar, também Balbino e Denicoli estavam entre os alvos de busca e apreensão autorizados por Moraes na operação desta quinta. Eles são apontados como integrantes do núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral do suposto grupo criminoso investigado.

A reportagem procurou o diretório do PL e a empresa de Balbino para posicionamento, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem. Denicoli disse que não gostaria de se pronunciar.

"Todo o panorama exposto, segundo a Polícia Federal, aponta a ação coordenada dos integrantes do grupo criminoso para amplificação das falsas narrativas que construíram e replicavam acerca do sistema eleitoral brasileiro, estando ainda devidamente comprovada a relação mantida entre Fernando Cerimedo e Angelo Martins Denicoli e Eder Balbino, na dinâmica de divisão de tarefas fixada para aquela finalidade", afirma Moraes.

Como mostrou a Folha de S.Paulo em dezembro de 2022, informações divulgadas por Cerimedo à época, em sua rede social, indicaram elo entre ele e a Gaio.io, empresa da qual Balbino é sócio e que colaborou com a equipe de auditoria do PL. Três dos arquivos em uma pasta no Google Drive de Cerimedo tinham sido editados pela última vez por Balbino, em data anterior à sua ampla divulgação.

Além disso, um dos arquivos tinha como proprietário Angelo Denicoli, major da reserva que integrou o governo Bolsonaro, na pasta da Saúde, e à época era assessor da presidência da Petrobras. Procurado na ocasião, Cerimedo disse à reportagem que não conhecia as pessoas citadas.

O despacho de Moraes cita post do cientista de dados Marcelo Oliveira, que identificou tais informações inicialmente, em seu perfil no antigo Twitter (atual X).

Segundo a decisão, a PF teria descoberto a partir de informações que surgiram nas redes sociais e foram posteriormente divulgadas pela imprensa, que Eder Balbino "foi o responsável por subsidiar o 'estudo' apresentado por Fernando Cerimedo em sua live". Diz então que identificou-se que "os 'especialistas' contratados pelo Partido Liberal, supostamente independentes, possuíam na verdade vinculações" com Cerimedo e Denicoli.

A PF apontou ainda conversa entre o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o então comentarista da Jovem Pan Paulo Figueiredo, em que este pede o contato de Cerimedo ao então ajudante de ordens de Bolsonaro. Mauro Cid então, segundo a decisão, solicita e consegue o contato do argentino com Denicoli.

Denicoli volta a ser citado na decisão de Moraes em trecho em que ele afirma que Cid encaminhou para o contato do militar da reserva um link para uma reunião online em 12 de novembro.

A decisão, entretanto, não traz mais detalhes sobre outras evidências que demonstrariam contato entre Cerimedo, Balbino e Denicoli.

A decisão aponta ação coordenada dos investigados "na produção e difusão de 'estudos' que teriam identificado inconsistências nas urnas eletrônicas produzidas antes de 2020, fato que, inclusive, embasou representação eleitoral, capitaneado pelo presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, para anular os votos computados nas referidas urnas".

Em entrevista à imprensa, após apresentar ação contestando parte das urnas em novembro de 2022, Valdemar disse que o problema levantado pela sigla na representação foi descoberto por um "gênio de Uberlândia" —município onde a empresa da qual Balbino é sócio, tem um de seus endereços.

Nesse ponto, a decisão cita trecho da investigação afirmando que isso "demonstra que o Partido Liberal, através de seu representante máximo, Valdemar Costa Neto, tinha plena ciência da interlocução e do alinhamento que os investigados desenvolveram na construção da narrativa de fraude as urnas eletrônicas", diz.

De acordo com a decisão, a PF afirma que o avanço das investigações demonstrou a instrumentalização do PL "para financiar a estrutura de apoio as narrativas que alegavam supostas fraudes às urnas eletrônicas, de modo a legitimar as manifestações que ocorriam em frentes as instalações militares".

Em 2022, o PL pediu na ação a invalidação de votos depositados em urnas de modelos anteriores a 2020 e diz que, com isso, haveria uma vantagem a Jair Bolsonaro na contagem final. As alegações do partido foram rechaçadas por especialistas da área. Além disso, apesar de a situação relatada como problemática pelo partido ter ocorrido nos logs de ambos os turnos, o PL pediu a invalidação apenas de votos do segundo turno.

O partido acabou multado pelo TSE em R$ 22,9 milhões por "litigância de má-fé" ao questionar o resultado eleitoral.

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