Fabiano Contarato: “Não enganei os eleitores, sempre defendi a esquerda”
De delegado linha-dura a parlamentar petista, o capixaba não descarta a possibilidade de disputar o cargo de governador em 2026
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O senador capixaba Fabiano Contarato (PT) encerrou seu quinto ano de mandato no Congresso e fez um balanço de suas atividades em Brasília.
O político falou também do PT no Espírito Santo, sobre ter sido sempre de esquerda e seu futuro político, incluindo a possibilidade de se candidatar ao governo.
A Tribuna- Senador, qual o balanço que o senhor faz sobre seu mandato?
Fabiano Contarato- Foi um ano de grande desafios. O Brasil passou por um momento delicado, com ataque às instituições. Eu falo isso com total independência, porque a minha postura nos quatro anos do mandato de Jair Bolsonaro (PL) foi de firmeza, porque eu defendi as instituições e pautas que impactavam o País.
Nos primeiros anos, o ex-presidente falou que iria retirar os radares das rodovias. Eu fui delegado de trânsito e sabia que isso não poderia ser feito dessa forma.
Se tivesse estudo técnico, tudo bem, mas não havia. Tive que entrar com uma ação, consegui êxito na Justiça.
Fui presidente da Comissão de Meio Ambiente e o Bolsonaro queria acabar com o ministério. Mesmo com todos esses ataques, conseguimos aprovar a Lei do Piso da Enfermagem, em plena pandemia.
Por fim, gostaria de falar da resolução que proíbe juízes e desembargadores a sentenciarem contrariamente a adoção por casais homoafetivos, que foi uma provocação minha. Foi um período que sofri muitos ataques, inclusive ameaças de morte. Nunca teve isso enquanto fui delegado, mas sofri isso nos últimos anos.
Como que o senhor encara a articulação do presidente Lula (PT) com o Senado?
Eu acho que foram muitos avanços que o presidente conseguiu em um ano. Tínhamos a luta da Reforma Tributária por décadas e aprovamos. Pode não ter sido a melhor reforma, mas aprendi que o ótimo é inimigo do bom.
Às vezes, idealizo um projeto que é maravilhoso, mas daquele determinado jeito não consigo aprovar. Aí que está a sabedoria de ter articulação política e conversar com divergentes sobre as ideias possíveis.
Tivemos muitos avanços nas políticas sociais e em várias outras áreas, que são garantias constitucionais e que o PT consegue colocar em prática. Diferentemente do último governo, que a postura que se tinha era ataque às universidades e outras áreas.
Em algum momento o senhor acha que Lula errou em alguma condução?
Acho que não. A condução está serena. O presidente Lula é muito experiente, tive inúmeras reuniões com ele e a cada encontro é um aprendizado. Ele tem uma visão macro notória, tanto que antes dele tomar posse, ele já havia entrado em exercício, porque o ex-presidente foi para os Estados Unidos e abandonou o País.
O ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu (PT) fez algumas críticas ao partido, dizendo que precisa apoiar mais o ministro Haddad a respeito da meta de déficit zero que o governo propôs. Qual a sua visão sobre o tema?
Qualquer partido político faz autoanálise. Temos que entender o que é ser o administrador de um País em um governo de coalizão, que é preciso fazer aliança com partidos, inclusive com siglas sem afinidade.
Lula ficou 580 dias preso, ele estava em primeiro lugar nas pesquisas quando o ex-juiz o tirou, de forma proposital. O ex-presidente sai da prisão, o ex-juiz é condenado pelo Supremo, por ter sido parcial. Outra fator envolve Bolsonaro, que tinha a máquina na mão e utilizou as instituições para impedir que eleitores votassem nas últimas eleições.
Quando o Dirceu faz a crítica, ele fala olhando apenas para o PT, mas o presidente foi eleito em uma base articulada, com inúmeros partidos, e isso requer concessões daquilo que é possível. Volto a falar, o ótimo é inimigo do bom, e isso está sendo feito, dentro do possível.
Senador, como tem sido a sua articulação com seus colegas de bancada?
Eu tento ter uma relação de cordialidade. É um princípio que rege a administração pública. No entanto, temos divergência em campos antagônicos, mas respeito o comportamento deles.
Se o senador Do Val (Podemos) tem uma postura que não tem adesão da minha conduta enquanto líder do PT no Senado, tenho que enfrentar dentro do campo legislativo e de uma ética possível. Respeito todos eles, mas temos divergências e é natural dentro da democracia.
Como o senhor acha que o PT vai se sair nas eleições deste ano? João Coser é um dos principais objetivos do partido no Estado.
Eu venho de uma família pobre, meu pai era motorista de ônibus. Sou o filho mais novo de seis e sempre estudei em escola pública. Fiz Escola Técnica na época que tínhamos somente uma, e com o governo do PT passamos a ter 26.
Vejo que o PT, quando todos achavam que o partido tinha acabado, está voltando. O caminho é ter bastante humildade. Os eleitores sabem desse histórico positivo do partido, então quero que o partido alcance novos mandatos em câmaras ou prefeituras. Vejo que o PT pode surpreender positivamente nesse ano eleitoral.
Sobre Coser, tenho plena convicção sobre o trabalho dele. Já foi prefeito, já esteve em Brasília e já demonstrou todas suas qualidades. Eu vejo com otimismo a candidatura dele. O PT vai apoiar.
Quais são os planos futuros do senhor? O seu nome é um dos mais cotados dentro do PT para suceder o governador Renato Casagrande (PSB). Já pensou sobre o assunto?
Estou muito feliz com o mandato que tenho feito, de coragem. Não é para qualquer um ter minha postura. Vejo muita gente que fala que eu enganei, mas sinceramente, sempre defendi direitos humanos. Quando delegado, eu ia para os presídios para falar sobre erradicação da tortura, sempre cumpri com a lei doa a quem doer.
Fui eleito dentro do Rede, que é partido de esquerda, que tinha como candidata à presidência Marina Silva. Não consigo entender.
Quando falam que delegado precisava ser bolsonarista, estavam falando demais. Eu exerci a função como delegado, que me honra, mas cumprindo a lei, doendo a quem fosse. Faltou percepção de quem possa ter se julgado enganado com meu comportamento.
Quero terminar um bom mandato, para que os capixabas tenham orgulho. Vou ficar à disposição do partido. O que for melhor para o PT, eu vou cumprir. Se for em uma possibilidade de governo do Estado, estarei à disposição.
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