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Política

Direção da Abin sob Lula interferiu em investigação sobre software espião, diz PF

Interferência pode ter causado prejuízos à investigação e também para a própria agência


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Imagem ilustrativa da imagem Direção da Abin sob Lula interferiu em investigação sobre software espião, diz PF
Direção da Abin sob Lula interferiu em investigação sobre software espião, diz PF |  Foto: José Cruz/Agência Brasil

A direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sob o governo Lula (PT) tentou interferir nas investigações sobre o uso do software espião FirstMile durante o governo Jair Bolsonaro (PL), diz a Polícia Federal.

No pedido que fez ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para a realização de operação desta quinta-feira (25), a PF afirma que "a direção atual da Abin realizou ações que interferiram no bom andamento da investigação".

Para a PF, houve "conluio de parte dos investigados com a atual alta gestão da Abin", que teriam causado prejuízos à investigação e também para a própria agência.

O órgão cita o número dois da agência, Alessandro Moretti, e diz que, em reunião com investigados, ele afirmou que a apuração sobre o caso tinha "fundo político e iria passar". Moretti é delegado da PF.

"Não é postura esperada de Delegado de Polícia Federal que, até dezembro de 2022, ocupava a função de Diretor de Inteligência da Polícia Federal cuja essa unidade –Divisão de Operações de Inteligência– lhe era subordinada", afirma a PF no pedido.

"A reverberação das declarações da Direção da Abin, portanto, possui o condão de influir na liberdade e na percepção da gravidade dos fatos pelos investigados ao afirmara existência de 'fundo político' aos investigados", diz a entidade.

Com base em depoimento, a PF diz que houve, após o início das investigações, uma estratégia da direção-geral da Abin para "tentar acalmar a turma".

"A percepção equivocada da gravidade dos fatos foi devidamente impregnada pela direção atual da Abin nos investigados", diz a Polícia Federal.

Isso "não alterou o cenário vivido pelos investigados" em relação ao tempo em que estavam na gestão de Bolsonaro, "em nítida relação de continuidade", afirma o órgão.

Moretti foi número dois de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, na Secretaria de Segurança do Distrito Federal, entre 2018 e 2021, e diretor de inteligência na PF no último ano do governo Bolsonaro.

Quando Lula indicou o delegado da PF Luiz Fernando Corrêa para o comando da Abin, o Senado atrasou sua sabatina por ele ter escolhido pessoas apontadas como bolsonaristas para a cúpula da agência, inclusive Moretti.

Ao ser sabatinado, Corrêa saiu em defesa de Moretti e disse à comissão que "gozando da confiança do presidente, jamais correria o risco de expor qualquer governo a uma situação no mínimo constrangedora de indicar alguém que não tivesse esse status para a posição que estamos indicando".

Sob autorização de Moraes, a Polícia Federal cumpriu na manhã desta quinta-feira (25) mandados de busca e apreensão e de suspensão de exercício de funções públicas de policiais federais envolvidos no uso do FirstMile.

Os mandados foram cumpridos em Brasília (DF), Juiz de Fora (MG), São João Del Rei (MG) e Rio de Janeiro (RJ). Um dos alvos de busca foi Alexandre Ramagem, chefe da Abin no governo de Bolsonaro, atual deputado federal e pré-candidato do PL à Prefeitura do Rio de Janeiro.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, Ramagem é investigado porque os monitoramentos ilegais ocorreram durante sua gestão e por supostamente ter se corrompido para evitar a divulgação de informações sobre o uso irregular do software espião durante sua gestão.

O ex-diretor da Abin teria sido corrompido por dois oficiais da Abin que ameaçaram divulgar o uso do software espião após a agência cogitar demiti-los em um processo administrativo interno por participação em uma fraude licitatória do Exército.

Segundo a PF, as provas coletadas na primeira fase da operação mostram que "o grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal".

Procurada, a Abin ainda não se manifestou.

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