Polícia vai monitorar quem fica no comando de facção após prisão de Marujo
Como vários membros do grupo foram presos, policiais acreditam que no momento não há quem possa assumir a posição do traficante
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Na cadeia sucessória, até o momento, a polícia não identificou quem deve assumir a posição do traficante Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo, no comando do Primeiro Comando de Vitória (PCV).
Apontado pela cúpula da segurança pública como o criminoso mais procurado da história do Espírito Santo ao longo dos últimos anos, o traficante, de 31 anos, foi preso na sexta-feira (08), no bairro Bonfim, em Vitória.
A prisão aconteceu na residência do seu pai, em um imóvel de quatro andares. Marujo estava escondido dentro de um buraco, um bunker, no último andar. A polícia não divulgou à imprensa as medidas do local, mas informou que só era possível ficar agachado ou deitado.
Dentro do seu esconderijo havia até um cilindro de oxigênio e um fuzil 5.56 e munições. No entanto, Marujo não reagiu e não houve nenhum disparo em sua prisão.
Segundo o superintendente de Polícia Especializada (SPE), delegado Romualdo Gianordoli, vários integrantes da facção foram presos ao longo dos anos.
“Sempre tinha aquela linha de comando. Falava-se assim: 'Se o Marujo fosse preso, esse aqui seria o chefe', e nós prendemos todos eles. As prisões vêm acontecendo desde 2021”, contou
Romualdo Gianordoli destaca ainda o trabalho integrado que vem sendo feito ao longo dos anos.
“Claro que não foi só a Polícia Civil. Teve também a Polícia Militar, as belíssimas operações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), que foram tirando toda essa cadeia sucessória de forma que nós não sabemos o que vai acontecer daqui para frente, mas vamos monitorar”.
Entre os criminosos próximos de Marujo que foram presos nos últimos anos está o irmão dele Thiago Moraes Pereira Pimenta, conhecido como “Panda”.
Ele foi preso em janeiro de 2021 em uma operação no Bairro da Penha e em Consolação. Segundo a Polícia Militar, Thiago era um dos gerentes do tráfico da região.
Em novembro do ano passado, um dos braços direitos dele também foi preso durante uma operação no Morro da Garrafa, na região da Praia do Suá, em Vitória.
De acordo com a Polícia Civil, Danilo Pires Nunes, de 28 anos, conhecido como 2D, era o líder do tráfico no Morro da Garrafa e assumiu o comando a pedido de Marujo, quando o antigo chefe foi preso.
Classificando Marujo como “extremamente perigoso”, o chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa da Serra, delegado Rodrigo Sandi Mori, destacou que uma das ações que o acusado responde hoje na Justiça e que irá a júri popular foi resultado de uma investigação presidida por ele.
“Em um crime ocorrido no dia 28 de março de 2019, onde um traficante foi executado no alto do Bairro da Penha, obtivemos provas que Marujo não só autorizou, por ser o chefe na época, como também participou da execução desse crime cruel”.
“É importante que a gente pare de idolatrar criminosos. Quem tem que saber nome de bandido é a polícia. A gente tem que saber quem é o professor, quem é o policial Eugênio Ricas, secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social
A vítima, segundo o delegado, teve a cabeça e o corpo inteiro cortados e, por fim, a cabeça decepada. Posteriormente, o corpo foi desovado no município da Serra.
“A motivação desse homicídio foi que o traficante que comandava o tráfico de Serra Dourada e São Marcos foi preso em 2019. De dentro do presídio, descobriu que o braço direito dele passou a se relacionar com sua mulher. Como dentro do PCV isso não é permitido, a vítima foi executada perante um tribunal do tráfico”.
Eugênio Ricas: “Carta fora do baralho”
Elogiando o trabalho de investigação da Polícia Civil, o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, Eugênio Ricas, afirmou ontem que Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo, é carta fora do baralho.
Ele aproveitou para mandar um recado para os criminosos.
“O ladrão que bate a carteira do seu João ou o maior líder de uma organização criminosa tem a mesma importância para nós. Nós vamos colocar todos atrás das grades. A prisão do Marujo hoje (ontem) é um exemplo disso. Ninguém vai ficar impune, ninguém vai ficar fora do alcance das leis”.
Eugênio Ricas fez outra observação. “É importante que a gente pare de idolatrar criminosos. O Marujo tem a sua importância na cadeia criminosa, mas temos que parar de idolatrar essas pessoas. Quem tem que saber nome de bandido é a polícia. O cidadão não tem que saber quem é Marujo, quem é fulano, quem é ciclano. A gente tem que saber quem é o professor, quem é o policial, quem é o médico que está cuidando das pessoas”.
O secretário parabenizou todos os policiais que participaram da prisão. “Não tem jeito da gente combater a criminalidade se não for dessa forma, todos juntos”.
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