O que a polícia investiga no caso do adolescente baleado na cabeça em Cariacica
Jogador de futebol de 14 anos está internado em estado grave em um hospital de Vitória
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O caso do adolescente atingido por um disparo de arma de fogo na cabeça dentro de uma casa no bairro São Geraldo, em Cariacica, na noite do último sábado (21) segue sob investigação da Polícia Civil. A vítima, que tem 14 anos de idade, segue internada em estado grave no Hospital Infantil de Bento Ferreira, em Vitória — e outro adolescente, de 15 anos, está internado provisoriamente por ato infracional análogo ao homicídio tentado.
Em entrevista à reportagem da TV Tribuna nesta quarta-feira (25), Fábio Pedroto, delegado titular da Delegacia Especializada de Adolescentes em Conflito com a Lei (Deacle), esclareceu as linhas de investigação traçadas pela polícia e quais são os próximos passos do trabalho.
Veja o que a polícia investiga sobre o caso:
Simulação dos fatos
Segundo o delegado, a Polícia Civil avalia a realização de uma reprodução simulada dos fatos para compreender a dinâmica do incidente. Até o momento, os investigadores apreenderam três aparelhos celulares — dois deles pertencentes aos adolescentes envolvidos e um terceiro que foi encontrado dentro da residência, mas que ainda não teve a propriedade identificada.
"Esses aparelhos serão submetidos à extração de dados para que a gente avalie imagens, vídeos, mensagens relacionadas ao fato, seja antes do acontecimento, seja depois", explicou o delegado.
Além disso, a polícia também obteve as imagens de videomonitoramento do imóvel. O objetivo é obter informações sobre o que aconteceu antes e depois do disparo, incluindo quem esteve na casa no dia do incidente. "Tudo isso vai trazer informações importantes para que a gente consiga, de certa forma, montar esse quebra-cabeças e entender efetivamente o que aconteceu", diz Fábio Pedroto.
Cápsula de disparo que atingiu adolescente não foi encontrada
A cápsula que atingiu a cabeça do adolescente não foi encontrada no local do incidente. De acordo com o investigador, a polícia recebeu informações de que o material foi descartado em via pública e, agora, quer descobrir porque isso ocorreu. "Nós [Polícia Civil], junto com a equipe de peritos, tentamos fazer o encontro e a apreensão desse material, mas não obtivemos sucesso. Temos que entender por que essa cápsula deflagrada foi descartada naquele momento", explicou.
Já o projétil foi encontrado dentro de um ar-condicionado e foi recolhido para análise da Polícia Civil.
Demora no pedido de socorro
A Polícia Civil acredita que houve um intervalo maior que o recomendado entre o disparo e o acionamento dos serviços de socorro. Para confirmar esta informação, os investigadores solicitaram informações ao CIODES e ao SAMU, para verificar quem realizou o pedido de resgate, em qual horário ele foi feito e se houve omissão, caso tenha sido muito posterior ao acontecimento.
"Pela linha investigativa não foi feito no momento que deveria ter sido", revelou o investigador.
Outros adolescentes estavam no local do incidente
A Polícia Civil identificou outros quatro adolescentes, além da vítima e do menor de idade apreendido, que estiveram no local do incidente. Segundo o investigador, eles serão chamados para prestar declarações — há, também, informações preliminares de que o grupo esteve na residência após o ocorrido.
"Nós ainda não sabemos exatamente quando foram embora e se foram embora depois do socorro à vítima. Isso vai ser esclarecido também, o motivo deles terem se dirigido para lá. Se eles se dirigiram para lá antes do acionamento do socorro público, isso tudo será ainda objeto de apuração para que a gente entenda efetivamente o que aconteceu", explicou o delegado.
Pais também podem ser responsabilizados
"Estamos diante de várias possibilidades relacionadas ao fato em si. Quem efetuou o disparo? Por que se efetuou o disparo? Quem estava presente no momento em que esse disparo foi efetuado? Quem acionou o socorro? Em relação aos pais, por que o adolescente teve acesso a essa arma de fogo? Como ele teve acesso a essa arma de fogo? Se estava em um cofre, por que ele tinha a senha para a liberação do cofre e retirada da arma de fogo?", afirma o investigador.
De acordo com o delegado, ao final da investigação, os pais do adolescente apreendido podem ser responsabilizados por omissão de cautela em relação à arma de fogo e também por posse irregular da arma, já que ela é irregular e está em nome de uma terceira pessoa, que é um militar reformado. Ele também será chamado para prestar depoimento e esclarecer porque a arma estava com outras pessoas.
"Essa arma foi vendida? Essa arma sofreu algum extravio antes de chegar às mãos dos pais do envolvido? Então, isso também é objeto de análise. A gente vai convocar todos a prestar declarações para que a gente entenda, inclusive, a história dessa arma, como ela chegou até o pai do adolescente apreendido", explica.
Exame pode identificar o autor do disparo
A Polícia Civil aguarda resultados de exames periciais para descobrir mais informações relevantes sobre o caso. Um deles é o exame residuográfico, que será realizado nas mãos dos envolvidos para analisar, com mais precisão, o possível autor do disparo. O teste procura vestígios de metais, como cobre e chumbo, na pessoa examinada.
"Estamos trabalhando com a possibilidade de um homicídio doloso e também com a possibilidade de algum acidente. Portanto, essa linha de investigação ainda está aberta. Que a gente ao final, junto com os exames periciais, a oitiva de testemunhas e demais diligências que nós vamos realizar, inclusive a reprodução simulada dos fatos, a gente possa concluir finalmente esse caso".
Adolescente foi autuado após apresentar versões contraditórias sobre o caso
Um adolescente de 15 anos foi autuado por ato infracional análogo ao crime de tentativa de homicídio após, no dia dos fatos, apresentar contradições em seu depoimento. Ele foi encaminhado ao Centro Integrado de Atendimento Socioeducativo (Ciase).
"O adolescente continua internado por decisão judicial e, ao final, nós vamos, então, concluir se houve ou não esse homicídio tentado, esse ato infracional análogo, ou se houve uma outra causa que fosse relacionada a algum tipo de acidente, ou algum tipo de desafio, algum tipo de brincadeira com a finalidade de publicação em redes sociais. O que é lamentável", explicou.
Por se tratar de um menor de idade, ele pode permanecer internado provisoriamente por até 45 dias a partir do dia em que ele foi apreendido. Questionado, o delegado Fábio Pedroto afirmou que, neste prazo, a Polícia Civil já deve ter finalizado as investigações.
O delegado faz ainda um alerta aos pais, em especial àqueles que possuem arma de fogo em casa.
"Utilizar uma arma de fogo para a produção de vídeos ou imagens, objetivando publicações posteriores: isso, de certa forma, banaliza o emprego e o uso de uma arma de fogo. E é preocupante. A geração de hoje está em busca desse tipo de engajamento em rede social e se descuidando de tantas coisas importantes. Fico aqui, então, aproveitando a oportunidade e o meu apelo para que os pais responsáveis tenham cuidado. Tenham máxima atenção se tiverem armas de fogo em seus domicílios para que adolescentes e crianças não acessem de forma alguma este tipo de armamento", concluiu.
RELEMBRE O CASO
O adolescente de 14 anos está hospitalizado em estado grave após sofrer um disparo na cabeça na noite do último sábado (21) no bairro São Geraldo, em Cariacica. Segundo informações da reportagem da TV Tribuna, a vítima é jogador de uma equipe de futebol sub15 capixaba.
De acordo com a ocorrência da Polícia Militar, um outro adolescente, de 15 anos, relatou que estava com a vítima na sua casa quando decidiu pegar a arma do pai, um revólver calibre 38, que estava guardado em um cofre. Segundo ele, em determinado momento, a vítima decidiu manusear a arma e acabou disparando acidentalmente contra a própria cabeça.
O Samu prestou os primeiros atendimentos ao adolescente e o encaminhou ao Hospital Infantil de Vitória, onde segue internado.
O adolescente de 15 anos foi levado à Delegacia Especializada de Adolescentes em Conflito com a Lei (Deacle), junto com o irmão de 26 anos como responsável legal para prestar esclarecimentos.
Em nota, a Polícia Civil informou que ele foi autuado por ato infracional análogo ao crime de tentativa de homicídio após contradições em seu depoimento. Ele foi encaminhado ao Centro Integrado de Atendimento Socioeducativo (Ciase).
"O estojo da munição foi suprimido da cena do fato e os policiais militares que atenderam a ocorrência consideraram o ferimento da vítima incompatível com a versão apresentada pelo conduzido", destacou a PC em nota.
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