"Chacina da Ilha": réus são condenados a mais de 592 anos de prisão
Crime aconteceu em setembro de 2020, na Ilha da Pólvora, em Santo Antônio, Vitória. Quatro jovens foram assassinados e outros dois baleados
Escute essa reportagem
Quase cinco anos após o crime, os quatro réus acusados de participação na chamada "Chacina da Ilha" foram condenados pelo assassinato de quatro jovens e por tentativa de homicídio contra outras duas vítimas. O crime aconteceu em setembro de 2020, na Ilha Doutor Américo, conhecida como Ilha da Pólvora, no bairro Santo Antônio, em Vitória.
O julgamento, realizado no Fórum Criminal de Vitória, durou mais de 27 horas, começando na segunda-feira (14), se estendendo ao longo da terça-feira (15) e sendo concluído somente na madrugada desta quarta-feira (16), por volta de 1 hora.
Somadas, as penas dos réus chegaram a 592 anos e 9 meses de prisão. Além dos quatro homicídios e duas tentativas, eles foram condenados por associação armada para o tráfico de drogas e três deles por corrupção de menores.

As penas individuais foram as seguintes:
- Felipe Domingos Lopes, conhecido como “Cara de Boi” ou “Boizão”: condenado por quatro homicídios consumados triplamente qualificados, dois homicídios tentados triplamente qualificados, associação armada para o tráfico de drogas e corrupção de menores. Pena: 178 anos.
- Victor Bertholini Fernandes, o “Vitinho”: condenado por quatro homicídios consumados triplamente qualificados, dois homicídios tentados triplamente qualificados e associação armada para o tráfico. Pena: 154 anos e 8 meses.
- Werick Sant’Ana dos Santos da Silva, o “Mamão”: condenado por quatro homicídios consumados triplamente qualificados, dois homicídios tentados triplamente qualificados, associação armada para o tráfico de drogas e corrupção de menores. Pena: 140 anos, 9 meses e 10 dias.
- Adriano Emanoel de Oliveira Tavares, vulgo “Balinha” ou “Bamba”: condenado por quatro homicídios consumados triplamente qualificados, dois homicídios tentados triplamente qualificados, associação armada para o tráfico de drogas e corrupção de menores. Pena: 119 anos, 4 meses e 6 dias.
Esses crimes foram considerados ainda mais graves porque, conforme a denúncia do Ministério Público Estadual (MPES), foram praticados por motivo torpe, vinculado à guerra do tráfico de drogas, mediante o uso de meios que dificultaram a defesa das vítimas e praticados por meio cruel.
Os réus, que já estavam presos preventivamente a pedido do Ministério Público, vão cumprir a sentença inicialmente em regime fechado. Além da prisão, eles foram condenados ao pagamento de 100 salários mínimos para a família de cada vítima de homicídio consumado, bem como 50 salários mínimos para cada vítima de homicídio tentado, conforme pedido pelo MPES durante o júri.
Tribunal do Júri
O Tribunal do Júri começou por volta das 9 horas de segunda-feira, com o encerramento dos trabalhos às 19h30. Foram ouvidos dois delegados e dois investigadores arrolados pelo Ministério Público, testemunhas de defesa e uma vítima que sobreviveu à tentativa de homicídio.
Na terça, o júri recomeçou 8h30. Pela manhã, foram ouvidas três testemunhas de defesa e os quatro réus foram interrogados. À tarde, foi realizada a fase de debates entre acusação e defesa, e cada parte pôde apresentar seus argumentos por duas horas e meia.
À noite os jurados realizaram a votação secreta, que durou quase quatro horas, para a análise de 202 quesitos feitos pelo juiz. A partir do resultado da votação, o magistrado proferiu a sentença e fixou as penas dos réus.
No total, foram ouvidas 12 testemunhas no júri: 4 arroladas pelo MPES e 8 pela defesa. O primeiro dia de julgamento durou aproximadamente de 10 horas e 30 minutos. No segundo dia, os trabalhos se estenderam por 17 horas.
Relembre a "Chacina da Ilha"
Os crimes ocorreram na Ilha da Pólvora, no dia 28 de setembro de 2020, durante o estado de calamidade pública decretado em razão da pandemia de covid-19. O caso, que ficou conhecido como "Chacina da Ilha", causou grande comoção e é considerado um dos mais brutais já registrados na Grande Vitória.
A motivação apontada pela investigação foi a rivalidade entre facções ligadas ao tráfico de drogas. Segundo o MPES, os autores integravam uma associação criminosa e cometeram os homicídios como forma de intimidação e demonstração de poderio bélico.
Conforme a denúncia oferecida pelo MPES, os réus, com a ajuda de um adolescente, executaram quatro vítimas e tentaram matar outras duas, utilizando armas de fogo, sob o pretexto de que as vítimas pertenciam a uma facção criminosa rival.

Na época dos fatos, a Polícia Civil descobriu que, durante uma conversa, os jovens que foram alvos do ataque teriam mencionado o nome de uma facção que atua na capital capixaba.
As vítimas que morreram foram identificadas como Pablo Ricardo Lima Silva, de 21 anos; Wesley Rodrigues Souza, de 29 anos; Yuri Carlos de Souza Silva, de 23; e Victor da Silva Alves, de 19 anos.
Os rapazes foram subjugados por mais de 30 minutos, sofreram ameaças, foram filmados, interrogados e tiveram seus celulares invadidos, antes de serem atingidos pelos disparos.
Três vítimas morreram no local e uma quarta faleceu após ser socorrida. Outras duas conseguiram sobreviver após fugirem e receberem atendimento médico.
MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários