Bandidos de outros estados se escondem no Espírito Santo
Membros de facções criminosas da Bahia e do Rio têm vindo para o Estado fugindo de mandados de prisão e para disputar controle
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Bandidos de facções criminosas de outros estados estão se escondendo no Espírito Santo, tanto em uma tentativa de escapar dos mandados de prisão que têm contra si em seus estados de origem, ou de conflitos com outras gangues mais poderosas, e até mesmo para disputar o controle do tráfico de drogas em território capixaba.
Algumas prisões e investigações realizadas pela Polícia Civil capixaba demonstram quem são esses criminosos e a quais facções eles pertencem. E por quais motivos escolhem o Espírito Santo.
Nesse contexto, as facções da Bahia procuram o Norte até o Noroeste do Estado, enquanto as cariocas, e ramificações do Estado, atuam desde o Sul até o Noroeste.
O superintendente de Polícia Regional Norte, delegado Fabrício Dutra, explica que esses bandidos já têm mandado de prisão em seus estados de origem. “No Norte do Estado, eles procuram se esconder e não cometer novos crimes, pois já estão com mandado. Tivemos a prisão do Wolverine, da Bahia, que estava vivendo com a mulher e filhos em uma casa em Guriri”.
O delegado Paulo Rogério Souza da Silva, superintendente de Polícia Regional Serrana, explica que atuam na região as facções da Grande Vitória.
“É o Primeiro Comando de Vitória (PCV) e o Terceiro Comando Puro (TCP). Em Cachoeiro do Itapemirim há um braço do crime ligado ao Rio de Janeiro”, afirma.
Como exemplo, ele citou três facções que atuavam em Brejetuba, inclusive no roubo de centena de veículos. “Conseguimos a condenação de alguns membros”, disse Paulo Rogério.
Segundo ele, havia integrantes da Grande Vitória e de Cachoeiro, além de Conceição do Castelo.
A superintendência também foi a responsável pela prisão do integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção paulista, que morava na Serra, por ser o mandante de um homicídio em Laranja da Terra.
No Noroeste, foram presos integrantes da facção Mercado do Povo Atitude (MPA), que atua na Bahia, e um homem apontado como integrante da facção Raio A, do mesmo estado, foi assassinado no Norte.
ALGUNS CASOS
Preso integrante de facção de Salvador
Procurado pela Justiça da Bahia, Daniel dos Santos Silva, o “Wolverine” ou “Vovô Urso”, é apontado como líder de uma facção criminosa que atua em Lauro de Freitas e Mata de São João, Região Metropolitana de Salvador, Bahia.
Segundo o delegado Fabrício Dutra, ele foi preso em uma operação conjunta das polícias capixaba e baiana, em abril, morando em uma casa no balneário de Guriri, em São Mateus.
“Ele vivia com a mulher e os filhos em uma casa alugada. Aparentemente, queria passar a viver no Espírito Santo”, disse o delegado. Daniel era procurado sob acusação de diversos homicídios qualificados.
Líder da facção Raio A executado em Ibiraçu
Um homem, que não teve a idade divulgada, foi assassinado a tiros, em Ibiraçu, no Norte do Estado, em 16 de outubro do ano passado. Identificado como Diego Silva Souza, o Diego Cabeludo, era natural de Itabuna, na Bahia.
Ele já havia sido preso no estado vizinho, acusado de tráfico e era considerado líder da facção criminosa baiana chamada “Raio A”, segundo informações divulgadas pela Polícia Civil da Bahia em 2018.
A mulher de Diego disse à PM que ele foi morto por homens em um carro, após chegar em casa xingando alguém.
Membro do PCC detido em jogo de futebol
Um jogador de futebol, de 24 anos, do Esporte Clube de Mutum, time de Minas Gerais, foi preso em 3 de março, em cumprimento de mandado de prisão expedido pela Vara de Laranja da Terra, Noroeste do Espírito Santo.
Segundo a Polícia Civil, o suspeito, que não teve o nome divulgado, atuava como chefe do tráfico de drogas de uma das organizações criminosas na região, mesmo morando na Serra. Segundo a equipe, ele fazia parte do Primeiro Comando da Capital (PCC) e foi mandante de uma tentativa de homicídio contra um rival em Laranja da Terra.
Criminosos chegam já sabendo aonde vão se instalar
O fluxo de trabalhadores sazonais da zona rural no Noroeste e no Norte do Estado, e pessoas que ficaram pouco tempo no sistema prisional e tiveram contato com bandidos capixabas acabam adquirindo conhecimento sobre os locais aonde vão atuar no Estado.
É o que afirma o delegado de Polícia Civil, Deverly Pereira Junior, coordenador do Centro de Inteligência e Análise Telemática (CIAT) Noroeste.
“No ano passado, conseguimos prender a maior parte dos integrantes de uma quadrilha que atuava em Colatina, com tráfico de drogas e homicídio. Nas investigações, descobrimos que os primeiros membros chegaram à cidade, após um integrante ficar pouco tempo preso, depois de cometer um crime patrimonial, em 2014”.
A facção a que o delegado se refere é a Mercado do Povo Atitude (MPA) e atua na Bahia.
O delegado Paulo Rogério Souza da Silva, superintendente de Polícia Regional Serrana, cita que as câmeras das prefeituras interligadas ao cerco inteligente têm contribuído para o trabalho da polícia.
Maioria das mortes em Colatina é por tráfico de drogas
A cidade de Colatina, Noroeste do Estado, tem contabilizado uma preocupante estatística: a de mortes motivadas pelo tráfico.
Dos 12 homicídios ocorridos na cidade este ano, 8 têm relação com tráfico de drogas, segundo o delegado de Polícia Civil, Deverly Pereira Junior, coordenador do Centro de Inteligência e Análise Telemática (CIAT) Noroeste.
“É uma guerra de facções de capixabas que estão no Rio de Janeiro e cariocas mandados para cá. O Comando Vermelho atua recebendo criminosos do Estado e enviando traficantes com drogas e armas subordinados aos capixabas por meio do Primeiro Comando de Vitória (PCV)”, afirma.
O delegado destaca que há uma guerra bem declarada na cidade, onde, segundo ele, o Terceiro Comando Puro (TCP) também atua.
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