9 mil mulheres no ES pedem ajuda para se proteger de homens violentos
Até o final de outubro, segundo os dados, o Espírito Santo registrou 29 casos de feminicídio
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A violência doméstica, que assombra inúmeras mulheres, e deixa cicatrizes físicas e emocionais profundas, além dos confrontos físicos, também pode se manifestar por meio de abuso psicológico, sexual e econômico.
A vítima, muitas vezes, se vê aprisionada em um ciclo de medo e manipulação, e, para tentar se livrar, pede ajuda à Justiça. No Estado, quase 9 mil mulheres tiveram medidas protetivas de urgência expedidas pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJ-ES).
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O número é deste ano e foi apresentado durante reunião da Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa, na última quarta-feira (1º). Até o final de outubro, segundo os dados, o Espírito Santo registrou 29 casos de feminicídio.
“Esses números nos mostram como essa barbaridade está presente em nosso cotidiano. Houve melhoras, mas não é possível comemorar enquanto tiver uma mulher sendo agredida, violentada e, pior, sendo assassinada. Nossa missão é dar voz e ser instrumento para que haja conscientização”, afirmou o presidente do colegiado, o deputado Delegado Danilo Bahiense.
Segundo o parlamentar, só haverá mudança com educação, conscientização e desconstrução do machismo na sociedade. “Do contrário, nossas polícias continuarão prendendo e depois lidando com agressores que são soltos, pensando que nada ocorrerá. Lamentavelmente, será enxugar gelo”.
Bahiense destaca que, ainda que leis existam, é importante acabar com a sensação de impunidade.
Para a delegada e especialista em Segurança Pública Gracimeri Gaviorno, um aspecto positivo é que mais mulheres têm pedido ajuda.
“Mais mulheres estão confiando no sistema para buscar apoio, porque até um tempo atrás não tínhamos legislação que autorizasse qualquer autoridade pública a acolher essa mulher, e hoje já temos”.
A análise negativa, pontuada pela especialista, é que ainda há muito a ser trabalhado em educação com os homens.
“Na época em que fui chefe da Polícia Civil, em 2015, criamos o programa Homem que é Homem (programa de redução da violência contra a mulher no Estado). É um trabalho desafiador, mas necessário”.
Ainda que exista uma lei que ampara com aluguel as mulheres vítimas de violência doméstica, Gracimeri reforça que os municípios precisam se estruturar para acolher essas vítimas. “Só que, se não tiver medidas para o homem, ele irá cometer a mesma violência com outra mulher”.
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Mesmo com toda a violência sofrida, infelizmente, há mulheres que não conseguem sair do relacionamento abusivo. A pergunta que muitos se fazem é: por que essas mulheres não conseguem denunciar e largar o agressor?
A resposta não é tão simples, mas, de acordo com a psicóloga Daniela Bello, mestre em Segurança Pública, diversos fatores podem contribuir para que as mulheres permaneçam em um relacionamento violento, como medo, dependência financeira e ou emocional, questões familiares e até mesmo pressões sociais.
“Para ajudá-las, é primordial oferecer suporte, desde o acolhimento, ou seja, poder ouvir e apoiar esta mulher de forma compreensiva, até o encaminhamento aos serviços especializados, sejam as Delegacias Especializadas no Atendimento às mulheres, aos Centros de Referência no Atendimento às Mulheres ou até mesmo por meio de denúncia ao Ligue 180, que pode ser feita de forma anônima”, afirma a especialista.
Daniela frisa que o acompanhamento psicológico é importante para que a mulher possa se empoderar, superar a violência e, assim, poder viver com saúde física, emocional e qualidade de vida.
Entenda
Lei Maria da Penha
- A Lei Maria da Penha prevê diversas formas de violência que podem ocorrer no ambiente doméstico ou fora deste ambiente, desde que praticada por algum familiar ou alguém com quem a mulher tenha um relacionamento de afeto (mesmo que não exista a coabitação).
- A titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, Cláudia Dematté, informou, durante a Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa do Estado, que as delegacias especializadas do Espírito Santo registram em média de 17 a 18 mil boletins de ocorrência de violência contra as mulheres por ano.
O que fazer
- Se estiver em situação de violência ou presenciar violência contra a mulher, ligue para 180 (Disque-Denúncia) para receber orientações sobre como proceder.
- Procure também o Distrito Policial de Atendimento à Mulher do seu município para fazer o boletim de ocorrência e solicitar, se for o caso, alguma medida protetiva de urgência.
- Em situação de flagrante, ligue para 190, para que a polícia vá até o endereço indicado.
Exemplos de medidas
- Afastamento do agressor (a) do lar ou local de convivência com a mulher.
- Proibição para que o agressor (a) não se aproxime da mulher, seus familiares e testemunhas.
- Proibição para que o agressor (a) não frequente determinados lugares, como locais próximos ao trabalho ou casa da mulher e familiares.
- Restrição ou suspensão das visitas aos filhos.
- Pagamento de pensão alimentícia à mulher e aos filhos.
Fonte: Ales e Defensoria Pública do Estado.
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