Brasil pede à Corte que declare ilegal ocupação israelense na Palestina
Segundo diplomata, práticas contínuas nos territórios palestinos equivalem à anexação
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Nesta terça-feira (20), o Brasil fez um pedido à Corte Internacional de Justiça (CIJ), localizada em Haia, nos Países Baixos, solicitando que seja declarada como ilegal a ocupação dos territórios palestinos por forças militares de Israel.
Até agora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apesar das pressões, não se retratou por ter comparado a situação em Gaza com o Holocausto, o que gerou uma reação do governo de Israel com palavras acima do tom contra Lula.
De acordo com o Brasil, essa ocupação, que perdura desde 1967, constitui uma violação das leis internacionais e do direito à autodeterminação do povo palestino. O príncipe William também pediu o fim do ataque à Gaza o mais rápido possível.
“O Brasil espera que o tribunal reafirme que a ocupação israelense dos territórios palestinos é ilegal e viola obrigações internacionais por meio de uma série de ações e omissões de Israel”, afirmou a representante do Brasil em Haia, Maria Clara de Paula Tusco.
A representante diplomática brasileira também enfatizou que as práticas contínuas de ocupação por parte de Israel nos territórios palestinos equivalem, de fato, à anexação dessas regiões.
Durante sua intervenção na Corte Internacional de Justiça (CIJ), ela instou os juízes a considerarem as ações adotadas por Israel, incluindo o confisco de terras palestinas, a demolição de residências de palestinos, o estabelecimento de assentamentos israelenses e a construção do muro na Cisjordânia.
Também destacou as medidas que afetam a composição demográfica dos territórios ocupados.
O posicionamento do governo brasileiro foi apresentado durante uma audiência pública na CIJ, o principal órgão judicial das Nações Unidas (ONU).
A Corte está conduzindo audiências públicas até a próxima segunda-feira (26), ouvindo representantes de 52 países sobre a consulta feita pelos juízes do tribunal internacional, conforme solicitado pela Assembleia Geral da ONU.
Em resolução aprovada em dezembro de 2022, a Assembleia-Geral da ONU questionou a CIJ sobre as “Consequências Jurídicas decorrentes das Políticas e Práticas de Israel no Território Palestino Ocupado”.
Os países querem saber, entre outras informações, o que Israel pode sofrer por supostamente violar o direito do povo palestino à autodeterminação.
Segundo a representante do Brasil na ONU, a decisão do país de participar dessa consulta é devido ao “compromisso histórico do país de respeitar o direito internacional, de fomentar o multilateralismo e de promover a solução pacífica de controvérsias”.
Ainda segundo o Brasil, a violação do direito dos palestinos à autodeterminação “não pode ser aceita, muito menos normalizada pela comunidade internacional”.
Maria Clara lembrou ainda que a Resolução do Conselho de Segurança da ONU 242, de 1967, enfatizou a proibição da aquisição de território pela força e instruiu Israel a retirar as suas tropas das terras então recentemente ocupadas.
“No entanto, a ocupação persiste até hoje e foi agravada pela construção do muro de separação do território palestino, pela construção de colônias ilegais na Cisjordânia e pela anexação de Jerusalém Oriental”, acrescentou.
Discriminação
O governo brasileiro ainda destacou que o estabelecimento de dois sistemas jurídicos distintos, um para os colonos israelenses e outro para os palestinos na Cisjordânia ocupada, representa uma discriminação contra o povo palestino.
“Este tratamento diferenciado é evidente e bem documentado e também deve ser abordado pelo tribunal”, acrescentou a representante brasileira.
O regime político-jurídico na Cisjordânia ocupada tem sido denunciado como um regime de apartheid por organizações internacionais de direitos humanos, como a Anistia Internacional e o Human Rights Watch, e por relatores independentes da ONU.
As autoridades israelenses rejeitam essa avaliação.
Medidas
Ao final da manifestação, o Brasil enumerou as medidas que espera que sejam tomadas para pôr fim a ocupação. Entre elas, estão o fim da ocupação de Israel e a reparação ao povo palestino pelas violações cometidas.
Além disso, o Brasil pede que nenhum Estado reconheça a ocupação e que não adote ações ou medidas que colaborem com a ocupação desses territórios.
Por fim, a diplomata Maria Clara de Paula Tusco reforçou que o Brasil defende a solução de dois Estados para o encerramento do conflito.
“A criação de um Estado palestino independente, soberano e economicamente viável, coexistindo com Israel em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas, que incluem a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental como sua capital”.
Israel
O governo de Israel não vai participar das audiências públicas para discutir a ocupação dos territórios palestinos.
Em documento de cinco páginas enviado à CIJ, Israel condenou a resolução que determinou a análise do caso, dizendo que a decisão representa uma “distorção da história e da realidade atual do conflito israelense-palestino” e que, por isso, prejudica a construção da paz.
“Ao apontar o dedo apenas para um lado, as questões ignoram milhares de israelenses mortos e feridos que foram vítimas de atos assassinos de ódio palestinos e do terrorismo - atos que continuam a pôr em perigo diariamente os civis e a segurança nacional de Israel”, afirma o documento.
Entenda
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha transferiu para as Nações Unidas a responsabilidade pelo território que hoje é ocupado por Israel e pela Palestina.
Desde o final da Primeira Guerra Mundial, a chamada Palestina histórica era controlado pelos ingleses.
Com a Resolução 181, de 1947, a Assembleia-Geral da ONU recomendou a partilha da Palestina entre judeus e árabes. Porém, apenas o Estado de Israel foi criado. Em 1967, após mais uma guerra na região, Israel ocupou militarmente a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e a Jerusalém Oriental, que então estavam sob o controle do Egito e da Jordânia.
Após esse conflito, a Assembleia da ONU aprovou a Resolução 242, de 1967, que determinou “a retirada das forças armadas israelitas dos territórios que ocuparam”.
Apesar dessa resolução, a construção de assentamentos israelenses na Cisjordânia continuou e hoje são 300 colônias consideradas ilegais, segundo a ONU, dentro da Cisjordânia, onde vivem cerca de 700 mil colonos israelenses.
Em 2005, Israel deixou a Faixa Gaza, apesar de manter um cerco ao enclave controlando a saída e a entrada de pessoas e mercadorias.
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