Café de mãos dadas com a floresta
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A quem chega a Pedra Azul, nas Montanhas Capixabas, o cenário já avisa: estamos entrando em um lugar diferente.
O portão da Fazenda Camocim se abre e, em vez de lavouras solitárias, vejo o café crescer em harmonia com árvores nativas, flores, insetos e até pássaros que parecem fazer parte da plantação. É como se a natureza tivesse escrito o roteiro desse lugar antes mesmo da primeira muda ser plantada.
Henrique Sloper me recebe com um sorriso tranquilo, desses de quem sabe que a pressa não tem vez por aqui.
Caminhando entre os pés de café, ele conta que a fazenda está na família desde 1962, quando o avô decidiu acreditar na vocação daquelas terras.
Hoje, é referência mundial: a primeira do Brasil a conquistar o selo internacional de agricultura regenerativa, o mais rigoroso do planeta.
Enquanto seguimos pela trilha, Henrique me mostra como tudo funciona. Em vez de derrubar a mata para plantar, eles fazem o contrário: cercam o café de árvores nativas.
Esse abraço da floresta cria um microclima perfeito — menos calor, mais umidade e grãos que amadurecem no tempo certo. No caminho, as abelhas aparecem para nos lembrar que aqui até os insetos são parceiros.
De repente, o assunto toma um rumo curioso: o jacu. Henrique explica que o pássaro escolhe os grãos mais maduros, come e depois devolve, de forma natural, sementes que darão origem a um dos cafés mais raros e valorizados do mundo.
É a própria natureza assinando a qualidade do produto.
E se a regeneração já é um avanço, aqui também entra a biodinâmica, uma forma de cuidar da terra que olha para o equilíbrio entre o solo, as plantas, os ciclos da lua e a energia do próprio ambiente.
O resultado de tanto cuidado atravessa fronteiras: mais de 80% do café da Camocim vai parar em xícaras espalhadas por diferentes países.
Mas não são só os grãos que viajam. Desde 2021, milhares de pessoas já passaram pela fazenda para sentir o cheiro do café no pé, ouvir histórias e provar, na fonte, um gole de sustentabilidade.
Henrique me diz que produzir café, para ele, é plantar futuro. É entender que cada árvore preservada, cada inseto protegido e cada visitante encantado fazem parte de um mesmo propósito: provar que a vida é mais doce quando cultivada em equilíbrio.
Volto para casa com a sensação de que, naquela xícara que me foi servida no fim da visita, havia muito mais que café.
Havia o gosto da terra bem cuidada, da história preservada e da esperança de que o futuro pode, sim, ser regenerativo.
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