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Internacional

Hamas diz a moradores de Gaza que fiquem em suas casas apesar da invasão de Israel

Expectativa é de que haja uma invasão terrestre a Gaza


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Imagem ilustrativa da imagem Hamas diz a moradores de Gaza que fiquem em suas casas apesar da invasão de Israel
Até a tarde desta sexta, 1.300 israelenses e mais de 1.799 palestinos haviam morrido |  Foto: Hatem Moussa/ Associated Press / Agência Estado

O Hamas, grupo terrorista que controla a Faixa de Gaza, pediu aos moradores do enclave palestino nesta sexta-feira (13) para que eles não saiam de suas casas, contrariando o pedido do Exército de Israel para que todos os civis no norte do território —cerca de metade da população total— se desloquem para o sul ante uma esperada invasão terrestre de Tel Aviv.

Para o grupo islâmico, o aviso de Israel é uma tentativa de "difundir e transmitir propaganda falsa, com o objetivo de semear confusão entre os cidadãos e prejudicar a coesão interna". "Pedimos aos nossos cidadãos que não se envolvam nessas tentativas."

Já Israel diz que o Hamas está "se aproveitando dos moradores da Faixa de Gaza e levando o desastre a eles". "A responsabilidade pelo que possa acontecer com aqueles que não evacuarem está nas mãos do Hamas", disse o contra-almirante Daniel Hagarim, porta-voz militar.

Ao jornal Times of Israel, um morador de Gaza que preferiu não se identificar por medo de retaliações confirmou que o grupo estava impedindo palestinos de esvaziarem a área. Muitos dos residentes, porém, nem sequer tentam sair do local porque não teriam para onde ir no sul.

A ordem de Israel desencadeou uma onda de pânico na região. À agência de notícias Associated Press, a porta-voz do Crescente Vermelho Palestino na Cidade de Gaza, Nebal Farsakh, disse que não há como deslocar mais de 1 milhão de pessoas em segurança tão rapidamente.

"O que acontecerá com nossos pacientes?", perguntou. "Temos feridos, idosos, crianças que estão em hospitais." Segundo ela, muitos médicos se recusaram a abandonar os pacientes nos hospitais e começaram a ligar para colegas de trabalho para se despedir.

Este pode ser um momento crucial na luta entre o Exército de Israel e o Hamas, que, no último sábado (7) fez o mais grave ataque ao país desde a guerra árabe-israelense, de 1973. A resposta de Tel Aviv também foi a mais sangrenta até agora, e a expectativa é de que haja uma invasão terrestre a Gaza —o Exército de Israel pediu que civis saiam do norte até as 20h do horário local (14h em Brasília).

Até a tarde desta sexta, 1.300 israelenses e mais de 1.799 palestinos haviam morrido —incluindo 583 crianças e adolescentes de Gaza, segundo o Ministério da Saúde palestino. De acordo com o Ocha (escritório da ONU para assuntos humanitários), 23 trabalhadores humanitários já foram mortos desde o início dos ataques israelenses e o número de pessoas que fugiram de suas casas em Gaza passa de 423 mil.

A despeito do alerta do Hamas, uma reportagem da TV saudita Al Arabiya mostrou que muitos moradores da zona oeste de Gaza deixaram suas casas após o ultimato israelense. A rede mostrou aviões de Israel jogando milhares de panfletos ao longo desta sexta. Eles pediam para que os palestinos cumprissem a ordem dada a 1,1 milhão dos 2,3 milhões de habitantes do território para deixar a capital e cidades adjacentes.

Em um comunicado, o porta-voz da ONU (Organização das Nações Unidas), Stephane Dujarric, disse que a entidade "considera impossível que tal movimento ocorra sem consequências humanitárias devastadoras".

A agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos, por sua vez, afirmou que o ultimato é "horrendo". "A escala e a velocidade da crise humanitária que se desenrola são assustadoras. Gaza está se transformando rapidamente em um inferno e está à beira do colapso", disse Philippe Lazzarini, comissário-geral da organização. A agência transferiu seu centro de operações para o sul de Gaza para manter as operações humanitárias.

Autoridades de saúde locais disseram à OMS (Organização Mundial de Saúde) que seria impossível transferir pacientes hospitalares vulneráveis. "Há pessoas gravemente feridas cuja única hipótese de sobrevivência é a utilização de aparelhos de suporte vital, como ventiladores mecânicos", afirmou o porta-voz da organização, Tarik Jasarevic. "Mover essas pessoas é uma sentença de morte. Pedir aos profissionais de saúde que o façam é mais do que cruel."

Parte da retaliação israelense foi impor um "cerco total" à já empobrecida região. "Nenhum interruptor elétrico será ligado, nenhum hidrante de água será aberto e nenhum caminhão de combustível entrará até que os reféns israelenses sejam devolvidos para suas casas", afirmou nesta quinta (12) o ministro de Energia, Israel Katz, no X, antigo Twitter. A estratégia deixou Gaza à beira do colapso.

De acordo com a OMS, enquanto os hospitais no sul da Faixa de Gaza estão superlotados, os dois principais centros de saúde do norte já ultrapassaram a sua capacidade máxima de 760 camas no total.

"Os hospitais têm apenas algumas horas de eletricidade por dia, pois são forçados a racionar as reservas de combustível que estão se esgotando e dependem de geradores para sustentar as funções mais importantes", disse Jasarevic. "Mesmo essas funções terão de ser interrompidas em alguns dias, quando os estoques de combustível acabarem."

Tal cenário teria um impacto devastador nas pessoas feridas que precisam de cirurgia, nos pacientes em unidades de cuidados intensivos e nos recém-nascidos que dependem de incubadoras, segundo o porta-voz. Sem combustível, água, alimentos e suprimentos humanitários e de saúde não chegarem a tempo, haverá uma catástrofe humanitária, diz Jasarevic.

O enviado da Palestina à ONU, Riyad Mansour, instou as Nações Unidas a impedirem um "crime contra a humanidade" que será cometido por Israel caso a invasão da Faixa de Gaza ocorra, segundo ele.

"Como defensores da lei humanitária internacional, ONU e Conselho de Segurança, não podemos permitir que tenhamos uma nova Nakba após 75 anos da primeira", afirmou, em referência à "catástrofe", como chamam os palestinos, da criação do Estado de Israel e consequente expulsam de árabes da região. Mansour também cobrou o secretário-geral da organização, António Guterres, para que "fizesse mais" pela situação.

Após o forte apoio a Israel por parte de governos ocidentais, a resposta israelense tem causado revolta, especialmente no mundo árabe e muçulmano.

Em Bagdá, no Iraque, dezenas de milhares de iraquianos se reuniram na Praça Tahrir, no centro, agitando bandeiras palestinas e queimando a bandeira de Israel enquanto entoavam slogans anti-americanos e anti-israelenses. "Estamos prontos para nos juntar à luta e livrar os palestinos das atrocidades israelenses", disse o professor Muntadhar Kareem, 25.

No Irã, país que é o principal apoiador do Hamas, houve manifestações organizadas pelo Estado. No Líbano, o vice-chefe do Hizbullah, Naim Qassem, discursou em um comício onde centenas de pessoas se reuniram em solidariedade aos palestinos.

Manifestações pró-palestinas estavam planejadas em várias cidades europeias para a tarde desta sexta. França e Alemanha, porém, proibiram manifestações em apoio à causa.

Em Paris, na noite de quinta, a polícia francesa disparou gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar um protesto em apoio aos palestinos. Em Berlim, lar de uma das maiores diásporas desse grupo fora do Oriente Médio, a polícia se recusou a autorizar uma manifestação.

Os judeus também realizariam vigílias e manifestações em apoio a Israel em cidades europeias. Em Varsóvia, por exemplo, o rabino Michael Schudrich, lideraria uma oração pela paz, e membros da comunidade judaica da França se reuniriam na maior sinagoga de Paris para o Shabat durante a tarde.

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