Onde estão os goleadores no Brasileirão?
Faltando seis rodadas para o encerramento, Brasileirão deste ano pode ter artilheiro com menos gols na história dos pontos corridos
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A seis rodadas do fim do Brasileirão, um fato negativo chama atenção: o baixo número de gols marcados pelos jogadores que disputam a artilharia. Levando em conta a média de gols feitos até aqui, a edição deste ano caminha para ser a que terá o artilheiro com o menor número de gols na história dos pontos corridos.
Atualmente, Pedro lidera o ranking com 11 gols. No entanto, o centroavante do Flamengo não joga há quase dois meses e não atua mais na temporada após sofrer uma lesão ligamentar no joelho esquerdo .
O último jogo do camisa 9 foi na derrota de 2 a 1 para o Corinthians, no dia 1º de setembro, quando anotou seu último gol. De lá para cá, desfalcou o Rubro-Negro em oito partidas no Brasileirão, e mesmo assim segue no topo da lista.
Pedro só foi igualado na penúltima rodada, quando Estevão, do Palmeiras, marcou seu 11º gols no empate de 2 a 2 com o Fortaleza, na 31ª rodada. A dupla é seguida por Hulk, do Atlético/MG, que tem 10 gols.
Apesar de ser pouco provável que nenhum deles passe Pedro até o fim do Brasileirão (evitando a situação inusitada do campeonato terminar em dezembro com um goleador lesionado há três meses) o tímido número de gols pode ser histórico.
Em 21 edições na era dos pontos corridos, a temporada com artilheiro menos goleador foi a de 2016, quando três jogadores terminaram com 14 gols: Diego Souza (Sport), Fred (Atlético/MG) e William Pottker (Ponte Preta).
Para que o campeonato de 2024 não seja marcado negativamente neste quesito, os principais candidatos à artilharia precisam de, no mínimo, melhorar suas médias atuais de bolas nas redes, já que as estatísticas não são favoráveis.
Caso entre em campo em todas as seis rodadas restantes e mantenha a sua média atual de 0,44 gols por jogo, Estevão chegaria a no máximo 13 gols. O mesmo número que o atleticano Hulk – artilheiro do Brasileirão de 2021, ano do título do Galo, com 19 gols – atingiria caso faça justiça a sua média de 0,55 gols por partida até o fim do torneio.
Ainda na disputa pela artilharia, há o pelotão com 9 gols após 32 rodadas disputadas: Vegetti (Vasco), Luciano e Lucas (São Paulo), Yuri Alberto (Corinthians), Flaco López e Raphael Veiga (Palmeiras) e Alerrandro (Vitória).
Esquema tática sacrifica o atacante, dizem ex-atletas
Mudanças táticas, menos minutos em campo, obrigações em colaborar com o sistema defensivo e até mesmo o equilíbrio técnico entre as equipes do Brasileirão. Muitos são os motivos que fazem a concentração de gols em um único jogador ser cada vez mais rara no futebol brasileiro, segundo ex-jogadores e especialistas na função de estufar as redes adversárias.
“Hoje, o esquema tático dos times dificulta para os atacantes, principalmente os que são de área. Eles têm que sair mais, têm que ajudar na marcação e acaba dificultando em termo de número de gols”, pondera o ex-atacante Donizete Pantera.
Artilheiro pelos times por onde passou, como Cruzeiro, Vasco, Botafogo, Palmeiras e Corinthians, além da Seleção Brasileira, Donizete discorda, no entanto, de que o artilheiro nato tenha caído em esquecimento no futebol brasileiro.
“Não que o artilheiro nata esteja acabando, mas acho que os sacrifícios que hoje exigem dos atacantes são maiores, então eles têm que sair muito da área e aí acabam fazendo tantos gols, sacrificam muito pelo time. O que falta para os nossos artilheiros é que a bola tem que chegar mais”, disse o Pantera.
“Os times não jogam mais com o centroavante fixo, jogando para eles. E isso acaba não monopolizando os gols. Por isso que o artilheiro ainda é o Pedro. Talvez teremos um artilheiro com um número baixo”, analisou o ex-atacante e comentarista esportivo Grafite, em entrevista recente.
ENTENDA AS RAZÕES
Análise tática
Especialistas observam que a preferência por jogadas pelos lados do campo, em vez de ações centralizadas, diminuiu o destaque do tradicional camisa 9. Os sistemas táticos de várias das equipes dá menor protagonismo ao centroavante.
O ex-atacante Donizete aponta a cobrança por participação na marcação obriga o atacante a atuar cada vez mais longe da área. Ele lembra ainda que os atacantes atualmente se destacam mais por ter um estilo raçudo e lutador do que pelo lado técnico
Jogadores como Yuri Alberto, Vegetti e Calleri, por exemplo, acabam se destacando em campo mais por cumprir funções táticas (fazendo o pivô e preparando o jogo) do que necessariamente por fazerem gols.
Com o aprimoramento defensivo, ficou mais fácil neutralizar ataques que dependiam de um único goleador.
Com menos foco em centroavantes fixos, os gols são mais distribuídos entre os jogadores, podendo resultar em números historicamente baixos para o artilheiro desta temporada.
Menos jogos disputados
O excessivo número de cartões (principalmente por reclamação) tem gerado muitas suspensões, deixando os atacantes de fora de um número considerável de partidas
Controles de carga e de minutagem para evitar desgastes físicos, as lesões, e o aumento no número de substituições, são outros motivos que colaboram para a baixa produtividade dos atacantes.
Pulverização de gols
A responsabilidade pela efetividade no ataque passou a ser cada vez mais compartilhada e a corrida pela artilharia mostra uma dinâmica de vários jogadores têm chance de se destacar.
Diminuiu também a concentração de gols da equipe em um único jogador. Até a 30 rodadas, 296 jogadores diferentes já haviam marcado pelo menos um gol no Brasileirão deste ano
Não são raros os times que têm jogadores do setor defensivo entre principais goleadores do elenco, como o zagueiro Wagner Leonardo e o volante Willian Oliveira, ambos do Vitória/BA, e o lateral Willian, do Cruzeiro, todos com 5 gols.
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